Uma comissão de especialistas da Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) considerou que “não era justificado” concluir que o herbicida glifosato causa cancro. A declaração levou a críticas generalizadas de ativistas ambientais e de saúde, informa o portal Euractiv.
“Com base numa ampla revisão dos elementos de prova científicos, o comité conclui mais uma vez que a classificação do glifosato como cancerígeno não se justifica”, escreveu a ECHA num parecer do Comité de Avaliação de Riscos (RAC) da agência.
Este parecer surge no âmbito do processo de avaliação dos glifosatos promovido pela União Europeia e vai contribuir para o processo de decisão de renovar ou não a aprovação de comercialização em vigor (que expira no final de 2022).
As reações à decisão da ECHA
A posição não é consensual dentro da comunidade científica e entre agências públicas. Por exemplo, a International Agency for Research on Cancer (IARC), da Organização Mundial de Saúde (OMS), avaliou a substância como “provavelmente cancerígena”. Já a FAO, das Nações Unidas, conclui que “é pouco provável que represente um risco cancerígeno” para os humanos quando consumido através da sua dieta.
Com a sua avaliação mais recente, a ECHA confirma o seu veredito anterior classificando o glifosato como não cancerígeno. No entanto, reafirmou que pode causar “graves danos oculares” e é também “tóxico para a vida aquática com efeitos duradouros”.
Como reação, o Glyphosate Renewal Group congratulou-se pela opinião da ECHA e afirmou que “continua empenhado em cumprir todos os aspetos do processo regulamentar em curso na União Europeia”.
Por sua vez, a senior science policy officer da HEAL (organização que junta associações europeias ambientais e de saúde), Angeliki Lyssimachou, considera que a ECHA ignorou os argumentos científicos sobre a ligação do glifosato ao cancro apresentados “por peritos independentes”.
Por sua vez, a coligação de ONGs Ban Glyphosate considera que a ECHA “mais uma vez, confiou unilateralmente nos estudos e argumentos da indústria”. No entanto, o Comité de Avaliação de Riscos revela que “considerou um vasto volume de dados científicos e muitas centenas de comentários recebidos durante as consultas”.
O próximo passo
Após o parecer da ECHA, falta agora a posição da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA). No entanto, a agência tinha revelado recentemente que só no verão de 2023 deverá conseguir emitir o seu parecer devido ao inesperado número de contributos dos stakeholders.
Em comparação com a avaliação do ECHA, o relatório da EFSA deverá ser mais vasto, abrangendo não só a classificação de risco do glifosato como substância ativa, mas também questões mais amplas dos riscos de exposição à saúde e ao ambiente.
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