sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ROUNDUP® ORIGINAL - afinal o que é?

A ler com muita atenção [retirado da Tese de Doutoramento de Marcos Vinícius Mocellin Ferraro]:

O Roundup Original® fabricado pela Monsanto tem como princípio ativo a substância denominada genericamente de glifosato (C3H8NO5P). Com nome técnico de N-(phosphonomethyl)glycine. Esta denominação é usada tanto pela International Union of Pure and Applied Chemestri (IUPAC) quanto pela Chemical Abstract Service (CAS), (Número CAS – 38641-94-0) (www.pesticideinfo.org/Index.html).
Seu peso molecular é de 169,07 na forma ácida e de 228,20 na forma de sal de isopropilamina (o ingrediente ativo do glifosato). É um sólido branco, sem odor, de densidade 0,5 g/cm3 com ponto de fusão a 230 ºC e solubilidade de 10,5 g/l em 20 ºC (IUPAC - http://sitem.herts.ac.uk/aeru/iupac/373.htm).
No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) este produto tem o número de registro 0898793 recebendo Classificação Ambiental III (Perigoso) e Classificação Toxicológica III (Medianamente Tóxico) e segundo a Organização Mundial de Saúde ele é considerado de baixa toxicidade (LANGIANO; MARTINEZ, 2008).
O glifosato foi criado em 1950 pelo Dr. Henri Marin, um químico suíço da industria química Cilag, posteriormente esta substância foi vendida para a Aldrich Chemical, já 1970, Dr. J. E. Franz da Monsanto Company descobriu a capacidade herbicida do produto (SMITH; OEHME, 1992).
O glifosato é o princípio ativo de vários herbicidas de amplo espectro, isto significando que atingem uma grande variedade de plantas. Este herbicida vem sendo largamente utilizado desde a década de 70 no controle pós-emergente em vários tipos de culturas em praticamente todas as partes do mundo (GALLI; MONTEZUMA, 2005 e LANGIANO; MARTINEZ, 2008).
Considerando-se todos os produtos usados como agrotóxicos (ou defensivos agrícolas) o glifosato puro e suas formulações é o produto mais vendido para a agricultura moderna (PEIXOTO, 2005).
Vendido sob diversos nomes comerciais: MON 8709; Rodeo; Roundup; Vision; Ron-do; Roundup custom; Roundup ultra; Glyfos BIO; Glyfos AU; Roundup Biactive; Roundup Transorb; Roundup Ultramax; Roundup Original; Glyphosate 360; Glyfos; Accord; Roundup 360; Glypro; Glycel; Aqua Star; Roundup Pro; Fakel.
Diferem entre si pela formulação e concentrações do princípio ativo, além de outras substâncias presentes na formulação (GALLI e MONTEZUMA, 2005; www.pesticideinfo.org/Index.html).
Para os bioensaios do presente trabalho foi utilizado o Roundup® Original, comprado diretamente de uma loja de produtos agropecuários em Florianópolis – SC e como peculiaridade sem a necessidade de apresentação de receituário agronômico, embora a legislação o exija.
O glifosato tem ação sistêmica, sendo absorvido basicamente pelas regiões clorofiladas das plantas (folhas e caules verdes) e translocado através do floema para os tecidos meristemáticos. Sua atuação se da pela inibição da atividade da 5 –enolpiruvilshiquimato – 3 fosfato sintase (EPSPS), a qual é uma enzima catalisadora de reações de síntese dos aminoácidos fenilalanina, tirosina e triptofano, inibindo também a síntese de clorofila e estimulando a produção de etileno (COLE, 1985; SOUZA, 1998).
No Roundup® Original para melhorar a eficácia do produto é adicionado o surfactante polietoxileno amina (POEA). Sabe-se que os efeitos toxicológicos do POEA são mais graves do que o glifosato em si (LANGIANO; MARTINEZ, 2008).
Estudos em peixes visando determinar a concentração de letalidade no prazo de 96 horas (96h-LC50) mostraram grande variação nestas concentrações para diferentes espécies. Em carpas (Cyprinus carpio) foram determinadas concentrações de 620 mg/litro do glifosato. No entanto ao ser utilizado o produto comercial (Roundup® Original), as concentrações para 96h-LC50 variaram de 2 a 55 mg/litro.
Estas variações são dependentes da espécie de peixe, estágio de vida e das condições do teste (JIRAUNGKOORSKUL et al., 2002).
Outras variações também são encontradas nas respostas de biomarcadores ao serem utilizadas espécies diferentes de peixes, como por exemplo, respostas hormonais ao estresse. Os chamados “nativos” mostraram-se mais sensíveis do que espécies introduzidas no nosso ambiente (LANGIANO; MARTINEZ, 2008).
O glifosato é fortemente adsorvido pelos colóides presentes no solo e suspenso na forma de partículas na água. Estudos nos quais foi coletada a água que passou (runoff) por plantas tratadas com o glifosato, demonstraram que após um dia da aplicação do produto foi detectada a concentração de 5 mg/l e quatro meses após ainda era possível encontrar a concentração de 2 μg/l (SMITH; OEHME, 1992).
O principal produto de degradação do glifosato é o ácido aminometil fosfórico (AMPA). Embora muitas agências reguladoras nos Estados Unidos e na Comunidade Européia indiquem o glifosato e o AMPA como de baixo risco a saúde humana, pesquisas recentes demonstraram que ambos os produtos apresentam grande mobilidade e persistência no ambiente aquático em comparação com o produto formulado (KOLPIN et al., 2006).
Segundo a Portaria 518 de 25 de março de 2004 do Ministério da Saúde em seu Artº 14, o valor máximo permissível (VMP) desta substância na água potável é de 500 μg/l. No entanto, no GUIDELINES FOR DRINKING WATER QUALITY STANDARDS IN DEVELOPING COUNTRIES publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na sua secção Panamericana em 2002, , esta quantidade é de 1 mg/l. No estado do Paraná mais de 4 mil toneladas de glifosato foram usadas nas culturas de milho e soja entre os anos de 2000 e 2001 (INOUE et al., 2003)
A variação da meia vida do glifosato não parece ter relação com o pH ou a quantidade de matéria orgânica, mas freqüentemente esta relacionada com a atividade microbiana no solo (SMITH; OEHME, 1992).
O AMPA é mais persistente no solo (76 a 240 dias) do que o glifosato (2 a 197 dias) e existem evidências que o AMPA pode alcançar lençóis freáticos profundos (LANDRY et al., 2005).
O AMPA mostrou-se genotóxico (Ensaio do Cometa e Teste do Micronúcleo) em culturas de linfócitos expostos por 4 horas ao produto (MAÑAS et al. 2008).
Estudos têm reportado diversos problemas em organismos aquáticos e terrestres quando expostos ao princípio ativo ou ao produto formulado. MARC; MULNER-LORILLON e BELLÉ (2004), constataram que diversos pesticidas baseados no glifosato, inclusive o Roundup 3 plus, foram capazes de interferir de maneira acentuada no ciclo celular de células embrionárias de ouriço-do-mar.
Sabe-se que falhas nos chekpoints do ciclo celular podem levar a uma instabilidade genômica e subseqüente desenvolvimento de câncer (MOLINARI, 2000; STEWART; WESTFALL; PIENTENPOL, 2003) DALLEGRAVE et al. (2003) observaram que ratos Wistar tratados com diferentes dosagens de ROUNDUP apresentaram problemas de malformação esquelética e de outras estruturas e também um alto índice de abortos. Concluem que o produto teve tanto uma ação tóxica como a de retardar o desenvolvimento esquelético dos fetos.
SZAREK et al. (2000) expuseram carpas (Cyprinus carpio) ao Roundup em dosagens de 205 mg/l e 410 mg/l e analisaram seus hepatócitos por microscopia eletrônica. Concluem que o produto ocasionou o desaparecimento das membranas internas das mitocôndrias, o aparecimento de estruturas parecidas com mielina nas células estudadas e ainda o aumento do tamanho de algumas mitocôndrias.
GRISOLIA (2002) expôs através de injeção intraperitoneal com diferentes concentrações, camundongos (50, 100 e 200 mg/kg) e peixes da espécie Tilapia rendalli (42, 85 e 170 mg/kg) constatando que em todas as dosagens utilizadas ocorreu a formação de micronúcleos de maneira estatisticamente significante nos eritrócitos circulantes dos peixes, embora nos camundongos isto não tenha ocorrido.
Embora o Roundup seja muito utilizado no mundo, apenas um limitado número de trabalhos e informações estão disponíveis sobre seus efeitos tóxicos em peixes nativos, Glusczak et al. (2006, 2007), relataram alterações em atividades metabólicas e parâmetros enzimáticos nas espécies neotropicais piava (Leporinus obtusidens) e bagre (Rhamdia quelen).


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