Segundo um relatório da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema, IPBES na sua sigla em inglês, os perigos que correm atualmente as espécies selvagens terão graves repercussões nas vidas de milhares de milhões de pessoas que delas dependem para alimentação, medicação e energia.
Este relatório, elaborado ao longo de quatro anos por 85 investigadores, aos quais se juntaram “detentores de conhecimento indígena e local” e mais de 200 outros autores especializados, foi aprovado pelos representantes dos 139 países membros da organização a semana passada numa reunião em Bona.
Nele se conclui que a sobre-exploração de recursos, as alterações climáticas, a poluição e a desflorestação estão a colocar em grave risco de extinção um milhão de espécies. O estudo do IPBES estima que se possam perder 12% das espécies de árvores selvagens, cerca de um milhar de mamíferos e perto 450 espécies de tubarões e raias.
Uma das co-autoras do estudo, Marla R. Emery, explica que “quando o uso das espécies selvagens se torna insustentável, isso é mau para as espécies, é mau para o ecossistema e é mau para as pessoas”. Isto porque 7,9 mil milhões de pessoas dependem quotidianamente de 50.000 espécies selvagens. 10.000 delas servem diretamente para a alimentação humana e diz outro dos co-autores, Jean-Marc Fromentin, “a falta de alternativas força” estas pessoas “a explorar ainda mais estas espécies que já estão em risco”.
Emery acrescenta que “70% das pessoas mais pobres no mundo dependem das espécies selvagens; uma em cinco pessoas depende de plantas silvestres, algas e fungos para alimentação e rendimento; 2,4 mil milhões dependem de lenha para cozinhar e cerca de 90% dos 120 milhões de pessoas que trabalham nas pescas dependem de pesca em pequena escala”. Mas, para além deste usos do Sul Global, “desde o peixe que comemos, aos medicamentos, cosméticos, decoração e recreação, o uso das espécies selvagens é mais prevalecente do que a maior parte das pessoas tem consciência”.
Entre as recomendações para alterar as perspetivas negativas está a salvaguarda dos direitos indígenas e povos autóctones que ocupam o equivalente a 40% das áreas terrestres conservadas. Emery defende que “as suas terras têm tendência a ter melhores índices de sustentabilidade do que outras terras”. Daí ser preciso preservar as suas práticas.
Defende-se ainda outras medidas, como por exemplo o combate à pesca ilegal, o fim de subsídios a práticas predatórias de pesca, redução dos desperdícios da atividade madeireira e a certificação das florestas.
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