Urso a arrefecer-se numa ribeira no Parque Nacional de Yellowstone (EUA) |
A presença de vegetação, especialmente de árvores, tende a reduzir a temperatura sentida. Não é por acaso que nas estratégias de adaptação das cidades aos efeitos das alterações climáticas medidas para aumentar a cobertura arbórea surjam frequentemente.
Se isso é verdade para os humanos, é também para outros mamíferos. Uma investigação norte-americana, divulgada esta semana na revista PNAS, revela que animais como pumas, lobos, coiotes, ursos, coelhos e veados tendem a frequentar mais as florestas e a evitar cidades, zonas agrícolas e áreas com forte presença humana em regiões mais quentes.
Conduzido na América do Norte, o estudo indica que, em zonas onde as temperaturas sejam mais elevadas, esses mamíferos têm 50% mais probabilidades de ocuparem florestas longe dos humanos do que espaços abertos. E o contrário acontece em regiões mais frias.
Mahdieh Tourani, da Universidade do Montana e primeira autora, explica que “diferentes populações da mesma espécie respondem de forma diferente ao habitat consoante o local onde estão”. Por isso, aponta que o clima é a causa dessas diferenças.
Os investigadores dão o exemplo do coelho da espécie Sylvilagus floridanus, ou coelho-da-Flórida, que dizem preferir florestas em áreas mais quentes e áreas agrícolas em regiões mais frias.
Com este trabalho, os cientistas consideram que fica claro que não é possível simplesmente ‘arrumar’ as espécies em categorias que as definem como vivendo bem em áreas com presença humana ou não. Ao invés, defendem que existe uma “flexibilidade ecológica” mesmo entre populações da mesma espécie e que é preciso ter isso em conta quando se fala de conservação da biodiversidade.
Defendendo que não existe uma ‘solução de tamanho único’ para preservar espécies, os autores argumentam que se podem estar a ignorar medidas de conservação possivelmente indispensáveis para impedir a sua extinção.
“Por um lado, se assumimos que as espécies serão sempre capazes de viver ao nosso lado, então poderemos estar a desperdiçar esforços a melhorar o valor de conservação de paisagens dominadas por humanos em áreas onde está simplesmente demasiado calor para as espécies”, avisa Daniel Karp, da Universidade da Califórnia e outro dos autores.
Como tal, a conservação da biodiversidade, dizem, não poderá limitar-se a áreas protegidas e deve adotar uma visão mais ampla, abrangendo também áreas ocupadas por humanos, como quintas, pastagens e até mesmo espaços urbanizados.
No contexto do avanço das alterações climáticas, os investigadores dizem que “extremos de temperatura quente (…) tornar-se-ão ainda mais frequentes e extremos” e podem “constranger ainda mais as distribuições das espécies e comprometer os esforços para conservar a biodiversidade em paisagens dominadas por humanos”.
Ainda assim, acreditam que se forem bem geridos, espaços como zonas agrícolas podem tornar-se “refúgios microclimáticos” para vários animais, mantendo porções de vegetação nativa, cobertura arbórea e sebes naturais, “especialmente em locais que se tornarão mais quentes com as alterações climáticas”.
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