terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Encontros Improváveis - Violent Vickie e Nino Oxilia (Rapsodia Satanica)


Come to me
Wild and free
Trust in me 

Come to me
Break the mold
Thing to hold

Broken arms
Cut up legs
End the race

Come to me
Love that’s free
Willingly

Come to me
Wild and free
Trust in me 

Come to me
Break the mold
Thing to hold

Broken arms
Cut up legs
Win the race

Come to me
Love that’s free
Willingly

I know you’re mine
In endless time
Open the door

Know you’re mine
Endless time
Say no more

Know you’re mine
Endless time
Open the door

May you please
Arrive
May you please
May you please
Arrive

Vídeo com extractos do Filme "Rapsodia Satanica" (1917)

Significado da canção:

“Open the Door”, da Violent Vickie, é geralmente interpretada como uma canção sobre isolamento emocional, desejo de ligação e vulnerabilidade, usando a imagem simples de uma porta fechada como metáfora central.

A letra sugere alguém que está do lado de fora, pedindo acesso não apenas físico, mas sobretudo emocional. “Abrir a porta” significa permitir proximidade, intimidade e confiança, enquanto a recusa ou demora em abri-la aponta para medo, retraimento ou trauma. A insistência do pedido transmite urgência e fragilidade, quase infantil, o que contrasta com o tom frio e minimalista da música.

Dentro da estética cold wave / minimal synth da Violent Vickie, a canção reforça sentimentos de alienação, solidão urbana e incomunicabilidade, típicos do pós-punk. Não é uma narrativa literal, mas antes um estado emocional: alguém que quer ser visto, acolhido e reconhecido, enfrentando o silêncio ou a indiferença do outro lado.

Assim, a canção pode ser lida tanto como um apelo romântico quanto como uma metáfora mais ampla sobre a dificuldade de criar ligações humanas num mundo fechado, defensivo e emocionalmente distante.

Sobre o filme
Rapsodia Satanica é um filme mudo italiano de 1915, dirigido por Nino Oxilia, com Lyda Borelli interpretando uma versão feminina de Fausto, baseada em poemas de Fausto Maria Martini. Pietro Mascagni compôs a sua única trilha sonora para o filme e regeu a primeira apresentação em julho de 1917.

Rapsodia Satanica é um dos filmes mais emblemáticos do cinema mudo italiano. Aborda o tema do pacto com o diabo como metáfora para o medo do envelhecimento, a vaidade e o desejo de juventude eterna. A história acompanha Alba d’Oltrevita, uma mulher rica e já envelhecida que, atormentada pela perda da beleza e do poder de sedução, aceita um acordo com uma figura demoníaca para recuperar a juventude. Em troca, compromete-se a não amar, condição que entra em conflito com a sua natureza humana quando se envolve emocionalmente com dois irmãos. A transgressão do pacto conduz a um desfecho trágico, sublinhando a ideia de que o desejo de desafiar o tempo e a ordem natural tem um preço inevitável. O filme insere-se no imaginário simbolista e decadentista da época, funcionando como uma versão feminina do mito de Fausto e refletindo uma visão moral e melancólica sobre a beleza, o amor e a efemeridade da vida.

A ligação à literatura decadente e simbolista é profunda. O filme dialoga com autores como Gabriele D’Annunzio, Charles Baudelaire, Joris-Karl Huysmans e Oscar Wilde, que exploram temas como a exaustão moral da modernidade, o culto da beleza artificial, o prazer ligado à morte e a atração pela ruína. Alba encarna a figura típica da femme fatale decadente: bela, melancólica, destrutiva, consciente da própria teatralidade e condenada pela intensidade do desejo. O enredo privilegia o estado de alma e a atmosfera em detrimento da ação, algo característico do simbolismo.

Do ponto de vista histórico, Rapsodia Satanica é fundamental para o desenvolvimento do cinema como arte estética e não apenas narrativa. O filme aposta numa encenação altamente estilizada, movimentos coreografados, figurinos exuberantes e gestos exagerados que transformam o corpo da atriz num elemento expressivo central. A música original de Pietro Mascagni, composta especificamente para o filme, antecipa a ideia de banda sonora sinfónica integrada na dramaturgia, algo raro na época. Além disso, o filme consolidou o modelo do diva film italiano, influenciando a representação da mulher no cinema mudo europeu e abrindo caminho para um cinema mais psicológico, lírico e autoral.

Sem comentários: