domingo, 2 de junho de 2024

É assim que o TikTok ou o Instagram destroem praias, montanhas e outros locais naturais

De lugares tranquilos e pouco conhecidos a destinos que se tornaram populares devido ao poderoso efeito das redes sociais. Estas são as consequências para a natureza quando ela se torna um "alvo" em massa de selfies e vídeos.


Há quem sonhe viver em primeira mão as experiências turísticas idílicas e fotogénicas promovidas pelos criadores de conteúdos no TikTok ou Instagram. São lugares, por vezes pouco conhecidos, que, em questão de dias, recebem atenção global devido ao efeito viral das plataformas de vídeos curtos às quais milhões de pessoas estão fisgadas.

Então, é claro, vêm as deceções. E o que se imaginava como destinos exclusivos, como as trilhas naturais, transformam-se, parecendo verdadeiras romarias, filas intermináveis para visitar uma praia e "cotovelaços" para tirar selfies.

A consequência de “criar tendência” nos destinos turísticos é um aumento repentino e inesperado de visitantes em espaços que muitas vezes não são projetados para serem usufruídos por uma massa descontrolada de pessoas.

Um fenómeno ligado ao congestionamento, às multidões e à muita poluição, que já está a ser estudado e que tem consequências negativas para o ambiente natural.

As consequências danosas do ‘efeito TikTok’ na natureza
Em Espanha as ações de alguns influenciadores encorajaram a destruição real de espaços naturais protegidos.

Nas Dunas de Maspalomas, espaço natural localizado no sul de Gran Canaria, a organização de uma “caça ao tesouro” (mil euros enterrados) levou muitas pessoas a escavar nesta área protegida.

Em Tenerife, dois YouTubers, com 111 mil inscritos, vangloriaram-se no seu canal ao fazerem “o percurso mais perigoso” da ilha. Para isso, eles percorreram um caminho protegido numa área que possui espécies ameaçadas de extinção, como o lagarto gigante, sem se preocupar em pisotear a flora nativa. E o pior? Eles “inspiraram” outros.

Parques Nacionais soam o alarme
O efeito indireto causado pelas imagens e vídeos publicados nas redes sociais tornou-se um verdadeiro problema para a maioria dos parques nacionais em Espanha.

Até 11 dos 16 espaços protegidos da rede reportam “problemas óbvios” gerados pela multiplicação de visitantes e que devem ser geridos. Risco de incêndios, destruição de habitats e elevado número de veículos que geram engarrafamentos, poluição e problemas de segurança são os principais problemas.

Fora de Espanha, embora existam inúmeros exemplos, é bem conhecida a situação vivida no segundo pico mais alto do mundo. As intermináveis filas nas encostas do K2, uma montanha na Ásia, prenunciam um mau prognóstico: a montanha passa por um profundo processo de transformação devido à presença excessiva de seres humanos.

Protestos em Espanha contra o turismo maciço
Nas últimas semanas, milhares de habitantes cujos locais ficaram transformados em destinos turísticos saíram às ruas para protestar contra os impactos negativos deste modelo, tanto a nível ambiental como social, cultural e económico.

O movimento, que é global, já chamou atenção em Espanha. Em Palma de Maiorca, Donostia-San Sebastián, Las Palmas de Gran Canaria e em alguns municípios da Cantábria, como Loredo e Langre, os moradores mobilizaram-se com os seguintes argumentos:
  1. Gentrificação: o aumento dos preços da habitação causado pela 'proliferação' de apartamentos turísticos, e também de bens e serviços, resulta no deslocamento dos residentes locais dos seus próprios bairros.
  2. Perda de autenticidade: na sociedade de consumo tudo é comercializável. Também a cultura local, da qual são selecionados apenas os elementos, considerados produtos ou meros espetáculos de entretenimento, que fazem maior sucesso junto dos turistas. A consequência é a perda de tradições e costumes genuínos.
  3. Superlotação: quando afeta locais históricos ou bens culturais, podem sofrer danos devido ao excesso de visitantes.
  4. Dependência económica: quando as economias locais se tornam muito dependentes do turismo, tornam-se muito vulneráveis às mudanças que podem ocorrer na procura turística.
  5. Má qualidade de emprego: que o turismo gera riqueza é um facto. Porém, outra coisa é como isto é redistribuído. E, muitas vezes, os empregos ligados a este setor económico são sazonais e mal remunerados.
Rumo ao turismo sustentável
O impacto do turismo de massa não deve ser medido apenas pelos seus benefícios económicos e pela criação de emprego, que nem sempre é de qualidade. Para o ONU Turismo, o turismo sustentável é o turismo que “leva plenamente em conta os impactos económicos, sociais e ambientais atuais e futuros para satisfazer as necessidades dos visitantes, da indústria, do ambiente e das comunidades anfitriãs”.

Avançar para este novo modelo envolve, antes de tudo, regulamentação. Ou seja, limitar o número de visitantes em áreas sensíveis para evitar a sobre-exploração.

Do ponto de vista do ordenamento do território, é também necessário planear o uso do solo para minimizar o impacto ambiental e preservar a biodiversidade, o que inclui a criação de áreas de proteção e conservação.

Desenvolver uma consciência pública mediante campanhas de sensibilização para as comunidades locais e visitantes, e a promoção do turismo responsável através dos meios de comunicação social e das próprias redes sociais, é outra estratégia essencial para avançar para um turismo mais sustentável.

Fonte: Meteored

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