quinta-feira, 9 de março de 2023

GEOTA reconhece potencial das energias renováveis offshore em Portugal, mas deixa seis alertas


No âmbito da consulta pública da proposta preliminar de novas áreas de implantação para energias renováveis offshore, o GEOTA, Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, “reconhece o potencial das energias renováveis oceânicas para a descarbonização do sistema energético português, contudo”, mas deixa alertas.

Citado em comunicado, Miguel Macias Sequeira, membro do GEOTA e investigador em energia e clima na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa afirma que “esta é uma aposta necessária, que permite diversificar as fontes de energia renovável e pode reduzir a pressão no território terrestre, mas que deve ser feita de forma bem ponderada”.

Neste sentido, o GEOTA “posiciona-se de forma a apoiar o desenvolvimento de energias renováveis oceânicas em Portugal”. No entanto, “reforça a urgência do Governo estabelecer uma estratégia que avalie os seus impactos positivos e negativos no ambiente e sociedade e que defina concretamente como e onde devem ser implementadas os parques eólicos offshore, de forma a não se repitam os erros que estão a ser cometidos noutras fontes de energia renovável”.

Os seis principais alertas deixados pelo GEOTA são os seguintes:
  1. Embora as renováveis offshore permitam reduzir as emissões de gases de efeito estufa, existem também evidências de impactes negativos nos ecossistemas e em algumas espécies marinhas que não devem ser esquecidos. Pode também haver impactos negativos nas atividades piscatórias, noutras atividades tradicionais e na paisagem costeira.
  2. Face ao objetivo de instalar 10 GW de potência eólica offshore até 2030, urge questionar a justificação técnica desta meta. Para referência, este valor corresponde a quase o dobro da potência instalada eólica onshore em Portugal (5,6 GW em 2020). Existem alternativas ao sobredimensionamento excessivo dos sistemas centralizados de eletricidade renovável, que passam por eficiência energética, renováveis descentralizadas e flexibilidade nos consumos.
  3. As áreas propostas nesta fase são demasiado vastas e refletem o desconhecimento do território. Deve ser feita uma análise mais exaustiva à escala local de forma a refinar áreas mais específicas onde de facto poderá fazer sentido implementar estes projetos.
  4. Existem conflitos ambientais claros com sobreposições em áreas protegidas e o Grupo de Estudos relembra que Portugal assinou o compromisso de proteger 30% do seu território marinho. O primeiro passo deve passar pelo reforço das áreas protegidas já existentes. Dado que, atualmente, Portugal apenas protege 2,5% da sua área marinha, a expansão dos parques eólicos offshore deve simultaneamente antecipar a necessidade de expandir a proteção de ecossistemas marinhos essenciais.
  5. O relatório reconhece que existem lacunas de informação importantes a colmatar. É necessário estudar área-a-área as consequências ambientais e sociais, positivas e negativas, da instalação de parques eólicos offshore. A realização de procedimentos sólidos de avaliação de impactes ambientais é crucial. A passagem dos cabos submarinos e das linhas de alta tensão também merece um estudo cuidadoso, que parece não ter sido começado ainda.
  6. É crucial refletir sobre o desenho dos concursos para atribuição de licenças de exploração. Os leilões deverão incluir critérios não financeiros, de forma a alavancar projetos que sejam viáveis e que promovam benefícios múltiplos para o território. Devem ser aprendidas as lições dos leilões solares de 2019 e 2020, onde a escolha cega e orgulhosa “do mais barato” – anunciado com pompa e circunstância como os “preços mais baixos do mundo” – tem levado a atrasos na execução real dos projetos.

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