Pilrito-colhereiro (Calidris pygmaea). Foto: Alexander Lees |
Mais de 5.000 espécies de aves estão em declínio (com perda continuada de populações) ou em perigo de extinção em todo o mundo. No total, estima-se que 48% das 11.000 espécies de aves conhecidas para a Ciência estão a passar por uma redução da população, de acordo com um novo relatório.
O documento revela ainda que 39% (4.295 espécies) mantêm tendências estáveis e apenas 6% (676) mostram tendências de população em aumento. Sobre 7% (778) não existem dados suficientes para definir o seu estado de conservação.
Estes são alguns dos dados da actualização de 2022 do relatório sobre o Estado das Aves do Mundo (State of the World’s Birds), publicado na revista Annual Review of Environment and Resources (edição provisória online a 5 de Maio, edição definitiva prevista para Outubro de 2022).
A investigação actualizou alterações na biodiversidade do mundo das aves usando dados da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para revelar as alterações populacionais das 11.000 espécies de aves do mundo.
Os autores do relatório resumem a situação afirmando que “estão a produzir-se descidas assombrosas nas populações de aves em todo o mundo”. Os investigadores identificaram a perda e degradação de habitats naturais, a sobreexploração directa de muitas espécies e as alterações climáticas como as maiores ameaças.
“Estamos hoje a presenciar os primeiros sinais de uma nova vaga de extinções de espécies de aves com distribuição continental, depois da perda histórica das espécies das ilhas, como o Dodo”, disse o principal autor do relatório, Alexander Lees, da Universidade Metropolitana de Manchester e investigador associado no Laboratório de Ornitologia de Cornell. “A diversidade de aves alcança o seu ponto máximo a nível mundial nos trópicos e é ali onde também encontramos a maior quantidade de espécies ameaçadas”, acrescentou.
Estima-se que 90% das espécies de aves que se extinguiram desde 1500 até hoje, num total de 187 espécies, são espécies insulares, ou seja, que viviam em ilhas. Essas extinções aconteceram em regiões como o Havai, Austrália, Nova Zelândia e Polinésia Francesa. A principal causa foi a introdução de mamíferos nessas ilhas, como os ratos (que estão ligados à extinção de 52 espécies de aves) e os gatos (40 espécies).
Os autores mostram a preocupante situação actual mas deixam lugar à esperança, ainda que sublinhem que para recuperar populações e salvar espécies da extinção é preciso mudanças realmente transformadoras na relação dos humanos com a natureza.
Entre os seis exemplos de espécies de aves que foram alvo de projectos de conservação de sucesso está o priolo (Pyrrhula murina), ave endémica da ilha açoriana de São Miguel. Em tempos já foi a ave mais ameaçada da Europa; hoje a sua população está estável. “A população começou a recuperar graças ao restauro da floresta Laurissilva nativa, controlo de plantas invasoras e a criação de pomares”, explicam os autores.
“O destino das populações de aves depende, em grande medida, de conseguirmos travar a perda e degradação dos habitats. Isto é, frequentemente, causado pela procura por recursos, incluindo alimentação”, detalha Lees.
“As decisões que tomamos sobre o que vamos almoçar, onde e como foi produzido reverberam por todo o planeta e no futuro. Precisamos considerar melhor como os fluxos de produtos básicos podem contribuir para a perda de biodiversidade e precisamos tentar mitigá-los.”
O relatório é assinado por nove autores da Universidade Metropolitana de Manchester, do Laboratório de Ornitologia de Cornell, Birdlife Internacional, Universidade de Joanesburgo, Pontificia Universidad Xavierian e da Fundação para a Conservação da Natureza.
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