segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Aquecimento dos oceanos: é como se explodissem cinco bombas atómicas por segundo

Em 2019, as temperaturas dos oceanos foram as mais elevadas de sempre, revela estudo. Esta é mais uma prova do aquecimento global, alertam os cientistas. "É fundamental entender a rapidez com que as coisas estão a mudar", destaca um dos autores da investigação.


Os oceanos do planeta registaram em 2019 novos recordes de aquecimento e foram mais quentes do que em qualquer outro momento da história da humanidade, indica um estudo divulgado esta segunda-feira.

Publicado na revista científica Advances in Atmospheric Sciences, o estudo indica que a água dos oceanos esteve mais quente especialmente entre a superfície e uma profundidade de 2.000 metros.

O estudo foi conduzido por uma equipa internacional de 14 cientistas de 11 institutos de todo o mundo e também conclui que os últimos 10 anos foram os mais quentes nos registos das temperaturas globais dos oceanos.

Os resultados da investigação foram publicados ao mesmo tempo que um apelo para que sejam tomadas medidas contra as alterações climáticas.

Segundo os cientistas, a temperatura média dos oceanos aumentou no ano passado em cerca de 0,075 graus centígrados face à média de 1981-2010. Para atingir essa temperatura o oceano terá absorvido 228 sextiliões (228 seguido de 21 zeros) de joules (unidade para medir energia térmica) de calor.

"Na verdade são muitos zeros. Para facilitar a compreensão fiz um cálculo. A bomba atómica de Hiroxima explodiu com uma energia de cerca de 63.000.000.000.000 (63 biliões) de joules. A quantidade de calor que colocámos nos oceanos do mundo nos últimos 25 anos é igual a 3,6 mil milhões de explosões de bombas atómicas em Hiroxima", disse Lijing Cheng, principal autor do artigo que divulga o estudo e professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais, do Instituto de Física Atmosférica, da Academia Chinesa de Ciências. Ou seja, o equivalente ao lançamento de cinco bombas atómicas por segundo.

Mas o aquecimento dos oceanos está a acelerar e, por isso, o lançamento destas bombas de calor imaginárias também, avisam os cientistas. "Estamos agora em cinco a seis bombas de Hiroshima por cada segundo", disse John Abraham, um dos autores do estudo e professor da Universidade de St. Thomas, nos EUA, citado pela CNN.

"É fundamental entender a rapidez com que as coisas estão a mudar", disse John Abraham. A chave para perceber o aquecimento global "está nos oceanos, é aí que a grande maioria do calor acaba. Se se quiser entender o aquecimento global tem que se medir o aquecimento dos oceanos".

"Não há alternativas razoáveis além das emissões humanas de gases com efeito de estufa para explicar este aquecimento"

"Este aquecimento medido dos oceanos é irrefutável e é mais uma prova do aquecimento global. Não há alternativas razoáveis além das emissões humanas de gases com efeito de estuda para explicar este aquecimento", disse Lijing Cheng.

Os investigadores usaram um novo método de análise, que lhes permitiu concluir que os últimos cinco anos foram os mais quentes já registados nos oceanos e descobrir que nas últimas seis décadas o aquecimento mais recente foi aproximadamente 450% do aquecimento anterior, o que reflete um grande aumento na taxa de mudanças climáticas globais.

"O aquecimento global levou a um aumento de incêndios catastróficos na Amazónia, na Califórnia e na Austrália em 2019, e estamos a ver isso a continuar em 2020"

Os cientistas alertaram que o aquecimento global está a aumentar, mas que felizmente se pode inverter a situação, usando-se a energia de forma mais sábia e proveniente de fontes diversas. Mas dizem também que o oceano levará mais tempo a responder a essa mudança do que o ambiente atmosférico e terrestre.

Desde 1970 que mais de 90% do calor do aquecimento global foi absorvido pelos oceanos, com menos de 4% desse calor a ir para a atmosfera ou para a terra.

"Mesmo com essa pequena fração afetando a atmosfera e a terra o aquecimento global levou a um aumento de incêndios catastróficos na Amazónia, na Califórnia e na Austrália em 2019, e estamos a ver isso a continuar em 2020", disse Cheng.

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