Uma equipa de investigadores franceses chegou à conclusão que os fungicidas da família SDHI, inibidores da succinato-desidrogenase, são tóxicos não apenas para fungos, mas também para minhocas, abelhas e células humanas. No entanto, a pesquisa está já a mostrar-se polémica, com organizações de agricultores franceses a relembrarem o caso “Séralini”.
Num estudo publicado em 7 de Novembro na revista científica Plos One (aqui), a equipa liderada por Pierre Rustin, investigador do Inserm — Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, destaca a toxicidade de oito fungicidas da família SDHI (flutolanil, Fluopirame, boscalid, flowapyroxad, penflufen, pentiopirade, isopirazam e bixafena) em células humanas, bem como em minhocas e abelhas.
Estes cientistas franceses tinham já alertado sobre os riscos dos inibidores da succinato-desidrogenase em Abril de 2018, num fórum publicado no jornal Libération e co-assinado por oito pesquisadores, toxicologistas e médicos.
Falta de alertas de saúde
Após esse alerta, a Agência de Segurança Nacional de Saúde (ANSES) concluiu em Janeiro de 2019, depois de “examinar todos os dados científicos actualmente disponíveis” haver “falta de alertas de saúde que possam levar à retirada autorizações de introdução no mercado para estes fungicidas”.
A Agência, no entanto, lançou um “pedido de vigilância” a nível europeu e internacional e enfatizou “a necessidade de reforçar a pesquisa sobre os possíveis efeitos toxicológicos em humanos” .
Os fungicidas do grupo SDHI funcionam bloqueando uma etapa fundamental na respiração dos cogumelos, a fornecida pela succinato-desidrogenase (SDH). No entanto, a SDH “é um componente universal das mitocôndrias presentes em quase todos os organismos vivos”, explicam os pesquisadores franceses na sua publicação de 7 de Novembro.
O caso Séralini
Perante este novo estudo, são já muitas as organizações francesas de agricultores a relembrarem o “Caso Séralini”. Gilles-Éric Séralini, biólogo molecular francês, consultor político e activista contra organismos e alimentos geneticamente modificados (OGM), publicou em 2012 um estudo que defendia a toxicidade a longo prazo do milho geneticamente modificado NK 603 tolerante ao glifosato. No estudo publicou fotografias de ratos com enormes tumores. A qualidade do trabalho de Gilles-Éric Séralini foi questionada e a sua publicação acabou por ser retirada das revistas científicas.
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) rejeitou o estudo de Séralini em 2012 devido às “lacunas constatadas na concepção e na metodologia” da pesquisa, que concluiu que havia um alto risco de tumores na mama e de lesões hepatorrenais para os ratos alimentados com milho NK 603.
Em 2018, um novo estudo publicado na revista Toxicological Sciences, concluiu que uma dieta à base de milho transgénico ministrada durante seis meses a ratos não afectou a sua saúde nem o seu metabolismo, contradizendo a polémica pesquisado professor francês Gilles-Eric Séralini.
Família SDHI
A família SDHI é relativamente recente entre os fungicidas: a maioria das substâncias activas (excepto boscalid, carboxina e flutolanil) foram aprovadas depois de 2013.
Em França, a boscalid é a substância mais vendida dentro dessa família, mesmo se com as toneladas vendidas a diminuírem significativamente nos últimos anos (menos de 200 toneladas em 2018 contra 600 toneladas em 2009), em favor de substâncias autorizadas mais recentemente, como bixafen, fluopyram e fluxapyroxad.
Segundo a União das Indústrias de Protecção de Plantas, os fungicidas da família SDHI representam 2% da tonelagem de fungicidas vendidos em França. São usados em tratamentos de sementes em culturas de campo, bem como em tratamentos aéreos para cereais, oleaginosas e muitas frutas e legumes.
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