Investigadores descobriram a amostra mais profunda de rocha marinha alguma vez extraída do manto terrestre que poderá ajudar a revelar as condições no início da vida.
O fragmento de rocha foi extraído da Crista Média Atlântica por uma equipa internacional no navio de perfuração JOIDES Resolution e está a ser analisado pelo Professor Gordon Southam da Universidade de Queensland.
”A amostra foi recolhida durante uma expedição do Projeto Internacional Ocean Discovery que conseguiu, pela primeira vez, perfurar 1.268 metros abaixo do fundo do mar em rochas do manto”, disse o Professor Southam.
“É um trabalho incrível, uma vez que as perfurações anteriores neste tipo específico de rocha – peridotito oceânico – só tinham atingido uma profundidade máxima de 201 metros”, sublinhou.
“Estas amostras ajudarão a melhorar a nossa compreensão das ligações entre a geologia da Terra, a química da água, os gases e a microbiologia”, revelou, explicando que “sempre que os perfuradores recuperavam outra secção do núcleo profundo, recolhíamos amostras para cultivar bactérias”.
“Utilizaremos estas amostras para investigar os limites da vida neste ecossistema marinho de subsuperfície profunda, melhorando a nossa compreensão das suas origens e ajudando a definir o potencial de vida para além da Terra”, acrescentou.
Para compreender o percurso da vida na Terra, os investigadores vão analisar a forma como a olivina, um mineral abundante nas rochas do manto, reage com a água do mar, conduzindo a uma série de reacções químicas que produzem hidrogénio e outras moléculas que podem alimentar a vida.
A equipa prepara-se agora para analisar o teor de níquel do núcleo.
“O níquel é necessário para a hidrogenase, a enzima chave que permite que estas bactérias antigas utilizem o hidrogénio nestes ambientes extremos, pelo que estamos atualmente a seguir o seu percurso através da rocha do manto”, disse o Professor Southam.
Os minerais descobertos serão examinados utilizando microscópios eletrónicos no Centro de Microscopia e Microanálise da UQ e o Microscópio Fluorescente de Raios X da ANSTO no Sincrotrão Australiano, para melhor compreender o efeito da circulação da água do mar na carbonatação dos minerais.
Esta investigação é essencial para o trabalho do Professor Southam como líder do Grupo de Geomicrobiologia da UQ.
“Estamos a investigar o papel da microbiologia na transformação do dióxido de carbono em minerais de carbonato estáveis e a forma como podemos reduzir as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera”, explicou.
Para além de analisar a vida primitiva e melhores formas de sequestrar carbono, os resultados da expedição poderão também ter implicações importantes para a compreensão da formação do magma e do vulcanismo.
“Há descobertas espantosas ainda por descobrir nas profundezas da Terra e os dados desta expedição são apenas o começo”, disse o Professor Southam.
“Os resultados serão tornados públicos, pelo que esperamos que outros cientistas e entusiastas possam contribuir com as suas descobertas sobre o funcionamento do nosso mundo”, concluiu.
A investigação foi publicada na revista Science.
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