Por Professor Galopim de Carvalho
(Um simples apontamento)
Foi Marco Polo (c. 1254-1324) que a deu a conhecer na Europa, através do material que trouxe de lá, por ocasião da sua viagem ao Oriente. Mas foram os navegadores portugueses do século XVI que, no seu retorno, introduziram a porcelana nos mercados europeus, e foi o eborense Gaspar da Cruz (1520 –1570), um frade da Ordem dos Pregadores que, no seu “Tratado das cousas da China”, descreveu os processos pelos quais se obtinha ali esse tipo de cerâmica.
Quando as primeiras porcelanas chegaram à Europa, foram os italianos que, pela brancura e pelo brilho desta cerâmica, iguais aos da parte da concha envolvente da abertura do búzio "porcellana" (nome vulgar de um gastrópode do género "Cypraea"), lhe deram esse mesmo nome. Abertura que então lhes lembrou a vulva da porca, "porcella" em italiano.
A partir da sua chegada a Portugal e conhecido o modo de fabrico, foram descobertas e seleccionadas importantes jazidas de caulino e aperfeiçoadas as técnicas de produção. Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Alemanha progrediram no fabrico de porcelana, chegando, no século XVIII, a atingir o nível de qualidade então reconhecido na China, permitindo uma hábil imitação dos modelos antigos.
Atualmente, a matéria-prima destinada a esta indústria é constituída por caulino, feldspato, quartzo (via de regra, uma areia) e uma pequena porção de argila gorda. Na respectiva pasta cerâmica, o feldspato actua como fundente de alta temperatura, o quartzo forma o esqueleto do produto final e a argila gorda (uma esmectite) confere a plasticidade necessária à citada pasta.
Um parêntese para lembrar que caulino, cujo nome provém de Kao Ling, uma localidade na província de Jiangxi, na China, é uma argila muito branca, praticamente destituída de óxido e hidróxido de ferro, pelo que permanece branca após cozedura. Os ingleses chamam-lhe “China clay”, numa alusão nítida à importância desta matéria-prima no país do Sol Nascente.
As peças de porcelana distinguem-se das dos demais produtos cerâmicos pela sua dureza, brancura, brilho vítreo, impermeabilidade, elevada resistência mecânica e translucidez, características que lhe advêm do facto de serem cozidas e vitrificadas a temperaturas na ordem dos 1300 a 1500 ºC, em ambiente redutor. Por ser um material isento de porosidade, com características semelhantes às do vidro, torna-se bastante higiénico e ideal como loiça de serviço à mesa.
A primeira produção de porcelana na Europa, mais precisamente em Meissen (Mísnia, em português), cidade da Saxónia, teve lugar num tempo em que a alquimia começava a dar lugar à química. Deve-se ao trabalho do químico alemão Johann Friedrich Böttge (1682-1719) que, para tal, utilizou caulino puro. Em 1710 surgiu nesta cidade o embrião da Staatliche Porzellan-Manufaktur, uma das fábricas de porcelana mais prestigiadas. Apesar das tentativas de manter em segredo a respectiva tecnologia, ela acabou por se estender a outras congéneres alemãs e, depois, a toda a Europa, onde ficou conhecida por “porcelana alemã” ou “porcelana de Saxe”.
O fabrico da porcelana em França, em começos do século XVIII, teve início em Sèvres, nos arredores de Paris, em 1756, ganhando nome como “Real Fábrica de Porcelana”, após a tomada de posse por Luís XVI, em 1760, que procedeu à melhoria dos equipamentos. Igualando a qualidade da porcelana alemã, e sob a direcção do químico e mineralogista francês, Alexandre Brongniart (1770-1847), Sèvres tornou-se o maior centro distribuidor deste produto na Europa. Interrompida aquando da Revolução Francesa, ressurgiu como empresa nacional, ao tempo de Napoleão. A “Manufacture National de Sèvres” e o “Musée National de la Céramique” estão, desde 2010, reunidos num único estabelecimento público.
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