"The Promise of Biomimicry" : Innovation and Design Inspired by Nature
Ao longo de 3,8 biliões de anos de evolução, a vida aprendeu a se desenvolver no ar, nas profundezas do subterrâneo, mergulhada nos oceanos e no topo das montanhas mais altas. Aprendeu a se curar, a produzir o veneno e o antídoto, a armazenar energia através do sol, a transformar os ambientes mais hostis em lares aconchegantes com temperaturas estáveis, a produzir através de processos cíclicos sem qualquer tipo de desperdício. Em suma, a natureza já tem as respostas para muitos dos problemas que tentamos solucionar há décadas através de um olhar reducionista e fragmentado. Se essa sustentação dos processos naturais através de ciclos infindáveis virassem nosso modus operandi, não seria crível que a vida na Terra seria completamente sustentada por muito mais tempo?
A biomimética surge então como um campo da ciência que ancora essa tecitura de um futuro regenerativo, baseado não no que podemos extrair da natureza, mas no que podemos aprender com ela. Segundo Janine Benyus, maior nome da biomimética hoje, quando começamos a ver a natureza como uma fonte de ideias em vez de uma fonte de bens, nosso respeito pela vida e sua capacidade de adaptação aumentam. Bem, e como podemos permanecer acordados para o mundo vivo? Como tornamos o ato de pedir conselhos à natureza uma parte normal da vida cotidiana? Janine traz em seu livro Biomimética: inovação inspirada pela natureza 10 lições vivas da natureza para que possamos sonhar com uma economia que seja mais parecida com uma floresta pujante, que enche de vida cada canto e fenda, do que com um campo coberto de ervas daninhas:
10 Lições vivas da Natureza
1. Usar resíduos como recursos
Uma das principais lições da ecologia de sistemas é que quanto mais um sistema aumenta sua biomassa, mais necessita de reciclagem para impedir o próprio colapso. Uma comunidade madura torna-se cada vez mais autossuficiente: em vez de trocar nutrientes e minerais com o ambiente externo, ela os faz circular através de seus próprios processos de criação, morte e decomposição.
2. Diversidade e cooperação como princípio para evolução
Com o uso de estratégias de cooperação e diversidade, os organismos vivos atingem uma estabilidade dinâmica. Como resultado disso, os recursos do habitat podem ser compartilhados de modo que várias espécies possam ser sustentadas pelo mesmo pedaço de terra sem disputas desgastantes. As relações simbióticas entre os seres vivos resultam em um sistema autossustentável em que o todo é muito maior do que a soma das suas partes.
3. Assimilar e usar energia eficientemente
Em quase todas as comunidades, os consumidores de energia são os seres que fazem fotossíntese. Embora usem apenas cerca de 2% da luz solar que chega à Terra, aproveitam-na ao máximo alcançando uma eficiência de 95%. O eficiente sistema de captação de luz solar da natureza é digno de contemplação: as folhas ganham posições mutuamente relativas para que sejam expostas ao máximo de luz, e algumas chegam a girar de acordo com a posição relativa do sol.
4. Otimização ao invés de maximização
Os sistemas maduros priorizam a otimização de processos ao invés da maximização da produção, enquanto nossos ecossistemas industriais ainda estão estagnados no pensamento de altas taxas de produtividade e crescimento, o que faz com que 85% dos itens manufaturados tornem-se lixo. A lição aqui envolve a necessidade da modificação da produção com ênfase na qualidade em vez da quantidade. Ou decidimos de que forma queremos operar ou podemos esperar que o esgotamento de recursos, o colapso ambiental e as montanhas de lixo decidam por nós.
5. Usar materiais de forma parcimoniosa
A natureza usa um design multifuncional, atendendo diferentes necessidades com uma única solução. Usa processos de baixo consumo energético, funcionando com energia solar. Recicla todos os materiais e os mantém em um ciclo fechado de vida-morte-vida. Que melhor inspiração poderíamos ter?
6. Não poluir seu próprio lar
A vida faz mais do que simplesmente manter seus recantos naturais limpos, ela mesma cria as condições necessárias à geração de mais vida. Em geral, somos a única espécie que parece indiferente a esse fato e a nossa insistência em poluir os pulmões e filtros do mundo é a prova da nossa recusa em nos reconhecermos como parte dele.
7. Não continuar vendo a natureza como recurso a nosso dispor
Todos os organismos vivos aprenderam pela sabedoria da herança genética que sabotar os estoques vivos não é uma boa ideia. Inspirados pela natureza, poderíamos parar de usar a natureza como um recurso inesgotável. Não utilizarmos os estoques vivos mais rapidamente do que a sua capacidade de se recompor enquanto encontramos substitutos renováveis para eles é uma solução.
8. Manter um equilíbrio dinâmico com a biosfera
A biosfera é a camada de ar, terra e água que sustenta a vida. É um sistema fechado em que nenhuma matéria, com exceção dos meteoros, é importada ou exportada: tudo o que é retirado das reservas pelos processos da fotossíntese, respiração, crescimento, mineralização ou decomposição é substituído por uma quantidade idêntica desses elementos. Entretanto, a Terra nem sempre foi um sistema fechado: ela levou milhões de anos para desenvolver todos os seus mecanismos ciclicamente coligados. A vida já esteve à beira do colapso outras vezes. Que tal nos inspirarmos em seus processos evolutivos para salvar a vida na Terra mais uma vez?
9. Operar através de ciclos de informação
O colapso do sistema ocorre quando ignoramos as respostas negativas que nos chegam do mundo natural: as anormalidades de reprodução, mudanças climáticas, extinções em massa, e movimentamos as nossas engrenagens assim mesmo. Tiramos do mundo mais do que ele pode repor e despejamos na Terra mais do que ela pode suportar. Esse tipo de desprezo das advertências da natureza tem um único nome: extrapolação de limites.
10. Produzir, distribuir e consumir localmente
A necessidade de consumir recursos locais é uma lição que ignoramos totalmente, em um esforço de consagrar uma economia globalizada sem fronteiras na qual um único produto é montado em uma dúzia de diferentes países e os alimentos (os mesmos que poderiam ser produzidos no terreno ao lado) são embarcadas em caminhões, depois em aviões e navios para partir para terras estrangeiras. Quando separamos produtores de consumidores, os consumidores perdem a noção da origem dos seus recursos e do custo ambiental para fornecê-los. O desmatamento e a destruição nos países do sul global ficam fora do alcance da consciência das pessoas, e estão presentes somente nos livros sobre florestas tropicais e panfletos de turismo abertos em mesas de café.
A sabedoria está em toda parte, e quando aprendemos a olhar ao nosso redor através das lentes da regeneração, conseguimos perceber as soluções presentes diante dos nossos olhos. Enfrentamos os muitos dilemas atuais não porque as soluções não existam, mas porque não as estamos procurando no lugar certo. Está na hora de voltarmos a caminhar na floresta para encontrar as respostas.
Voltando à encruzilhada, em que nos encontramos decidindo que jornada seguir para construção do futuro, nós lá no fundo já sabemos qual o caminho certo. Na intimidade dos nossos genes, nós conhecemos o caminho. No primeiro toque nesse terreno, acessamos memórias ancestrais, de mapas de montanhas, desertos, selvas, mares e leitos de rios que se estendem aos olhos até sumir na curvatura da Terra. Começamos a trilhar esse caminho e entendemos que o mundo é nosso próprio corpo. Se passarmos a operar pensando no longo prazo, teremos uma oportunidade de proteger nosso mundo-corpo, criando condições para que a vida floresça em toda sua pujança.
* Juan Pablo D. Boeira é CDO do Innovation Center, Mestre e Doutorando em Design Estratégico e Inovação pela UNISINOS, Professor de Inovação e Tópicos Avançados de Marketing na UNISINOS, ESPM e PUCRS
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