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Foi há quase 60 anos que o tenente norte-americano Don Walsh e o engenheiro suíço Jacques Piccard decidiram ir onde nunca ninguém tinha ido: o ponto mais fundo do mar, na Fossa das Marianas, a quase 11 mil metros de profundidade — e conseguiram-no. Agora, volvidas seis décadas, o oceanógrafo Don Walsh tem notado nas suas expedições o efeito destruidor das alterações climáticas e deixa o alerta de que ainda “temos tempo” para mudar as cidades costeiras para terrenos mais elevados; caso contrário, haverá cada vez mais refugiados climáticos. “Pela primeira vez na história da humanidade, teremos nações inteiras a ter de ir embora das suas terras por causa das alterações climáticas. Para onde vão?”, questiona.
É o caso das ilhas Seicheles, de Tuvalu ou das Maldivas, onde a maior parte do terreno está nem a um metro acima do nível da água do mar, diz ao PÚBLICO Don Walsh, numa entrevista à margem da Conferência Global de Exploração (Glex), que se realizou pela primeira vez em Lisboa para assinalar os 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães. “É um assunto muito sério e o mais provável é que muitas das pessoas perderão as suas casas e as suas terras por não darem ouvidos aos conselhos dos especialistas”, explica.
De olhos postos no rio Tejo, Don Walsh refere que a natureza se mexe devagar, mas que é ela que está ao comando. “Nesta zona ribeirinha de Lisboa não se está muito acima do nível da água. Até ao final deste século, poderemos não ter edifícios submersos, mas as estradas e infra-estruturas começarão a ficar inundadas”, aponta o explorador.
No “rés-do-chão” do oceano
Dos 87 anos de vida de Don Walsh, a maior parte deles foi passada enquanto uma das únicas duas pessoas no mundo a ter ido ao ponto mais fundo do oceano (em 2012 o realizador James Cameron juntou-se à lista, assim como Victor Vescovo em Maio deste ano; Jacques Piccard morreu em 2008). Foi quando tinha 28 anos, a 23 de Janeiro de 1960, que se aventurou com Jacques Piccard a bordo do batíscafo Trieste – desenhado pelo pai de Piccard, Auguste – até ao Challenger Deep, uma ranhura nas profundezas da Fossa das Marianas que é o ponto mais fundo do mar (o nome é uma homenagem ao navio britânico Challenger II, que descobriu o ponto em 1951). Chegaram aos 10.911 metros.
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