Além de causas naturais como os furacões ou os incêndios, os autores de um novo estudo mundial atribuem a perda de área florestal a práticas como a agricultura, a exploração mineira, a extracção ilegal de madeira ou as plantações de óleo de palma.
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O ano de 2017 foi o segundo pior ano de que há registo (imediatamente atrás de 2016) no que à redução de florestas tropicais diz respeito, com 15,8 milhões de hectares de árvores devastados, segundo novos dados obtidos por satélite da Universidade de Maryland revelados nesta quarta-feira.
No total, as florestas tropicais de todo o mundo sofreram uma perda de cobertura vegetal de 15,8 milhões de hectares – que praticamente corresponde à área geográfica do Bangladesh –, divulgou em comunicado o World Resources Institute, de acordo com dados do Global Forest Watch, uma ferramenta de monitorização das áreas florestais em tempo real. Posto de outra forma: o equivalente a perder cerca de 40 campos de futebol (0,73 hectares por campo) de árvores a cada minuto, durante um ano.
Apesar de esforços no sentido da reflorestação e dos alertas dos ambientalistas, as perdas superam os ganhos e o abate de árvores nos principais países tropicais tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos 17 anos (o estudo analisou dados entre 2001 e 2017). As causas são, por um lado, desastres naturais como incêndios e tempestades tropicais – cuja frequência e severidade estão directamente relacionadas com as alterações climáticas, e por outro, as actividades humanas que continuam a causar um desflorestamento em larga escala.
A Colômbia foi um dos países mais afectados, com mais 46% de área florestal devastada face ao ano anterior, registada maioritariamente em três províncias do país: Meta, Guaviare e Caquetá (parte da região amazónica colombiana). E se o acordo estabelecido em 2016 entre o Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) trouxe paz ao país, trouxe também aspectos negativos. De acordo com os investigadores, a ex-guerrilha mantinha um controlo rígido daquelas áreas e impunha limites à exploração dos recursos para fins comerciais, pelo que a desmobilização das FARC permitiu o acesso a zonas anteriormente remotas e conduziu à apropriação e limpeza ilegal dos terrenos por outros grupos armados, que agora são utilizados para outros fins como a plantação de cocaína, a extracção de madeira e mineral e a criação de gado. Face a um pedido de reforço das medidas de combate à desflorestação na Amazónia pelo Supremo Tribunal Federal (a mais alta instância do poder judiciário brasileiro), o Governo colombiano mostrou-se empenhado: anulou o projecto de uma auto-estrada que ligava a Venezuela e o Equador; expandiu a área do Chiribiquete National Park (parque natural em Guaviare) em mais de um milhão de hectares; e lançou uma iniciativa chamada "Green Belt" para proteger e reflorestar uma área de 9,2 milhões de hectares.
O Brasil registou a maior perda de área florestal em 2016 mas foi no ano seguinte que a Amazónia sofreu o maior número de incêndios desde 1999, que levaram a uma redução de 31% das florestas e contribuíram para o aumento das emissões de dióxido de carbono. Um ciclo vicioso, uma vez que a falta de árvores aliada às alterações climáticas e à acção humana aumentam a prevalência de períodos de seca que, por sua vez, tornam os terrenos mais vulneráveis aos fogos. A falta de fiscalização e a instabilidade política e económica que assolou o Brasil nos últimos tempos, assim como a desvalorização por parte do actual Governo em relação às políticas de conservação ambiental poderão estar na base deste problema, dizem os investigadores.
Indonésia, um caso de sucesso
A Indonésia, por outro lado, tornou-se o exemplo a seguir. Viu a sua perda de floresta diminuir em 2017, com um declínio de 60% no que diz respeito às florestas primárias (as florestas antigas que mantém o seu estado natural sem sinais de exploração), com algumas províncias de Samatra como excepção à regra. Os cientistas atribuem estes resultados a uma moratória nacional, em vigor desde 2016, sobre a drenagem das turfeiras (zonas de solos orgânicos com elevada concentração de humidade e dióxido de carbono) levadas a cabo pelos agricultores nas últimas décadas por causa das plantações de óleo de palma. Nestas zonas, a perda de florestas primárias diminuiu 88% entre 2016 e 2017, atingindo o nível mais baixo de sempre. Além disso, em 2017 não houve sinais do El Niño (fenómeno cíclico de aquecimento das águas do oceano Pacífico), o que proporcionou condições mais húmidas e menos incêndios.
Na República Democrática do Congo, a perda de cobertura vegetal aumentou 6% desde 2016, devido essencialmente à agricultura, extracção ilegal de madeira para fins artesanais e a produção de carvão. A intensificação das práticas agrícolas faz com que os períodos de pousio sejam cada vez menores, o que dificulta a regeneração natural da vegetação. Já nas Caraíbas, os furacões que assolaram a região em 2017 (Irma e Maria), causando a morte a várias pessoas e inúmeros danos materiais, também tiveram impacto negativo nas florestas daquela região, com a Ilha Dominica (conhecida como "a ilha da Natureza") a registar uma diminuição de 32% na sua área florestal. Porto Rico viu a sua área verde reduzida em 10% com perdas significativas na Floresta Nacional de El Yunque.
"A principal razão pela qual as florestas tropicais estão a desaparecer não é um mistério: vastas áreas continuam a ser desflorestadas para soja, carne bovina, óleo de palma, madeira e outros produtos comercializados globalmente", disse Frances Seymour, porta-voz do World Resources Institute citada pelo diário britânico Guardian. "Grande parte dessa limpeza é ilegal e está ligada à corrupção", acrescentou. Apenas 2% do financiamento internacional para o combate às alterações climáticas é direccionado para a preservação das florestas. "Estamos a tentar apagar um incêndio em casa com uma colher de chá", disse Seymour. Perante os resultados, os investigadores alertaram para o facto de a biodiversidade estar também em risco. As florestas tropicais são ainda fundamentais na regulação do clima e para a qualidade da água e do ar, sendo que o abate de árvores leva à libertação de dióxido de carbono de volta para a atmosfera. De acordo com estimativas do diário New York Times, a desflorestação é responsável por mais de 10% das emissões de dióxido de carbono todos os anos. O mesmo jornal avança que, nesta semana, ministros de várias nações reúnem-se em Oslo para debater formas de intensificar os esforços de conservação das florestas tropicais em todo o mundo.
Texto editado por Maria Paula Barreiros
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