sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A próxima Revolução Verde




Com a melhor tecnologia ao seu dispor, dois membros do Centro Donald Danforth para as Ciências Vegetais procuram compreender como as plantas funcionam e explicam de que forma a tecnologia pode beneficiar as culturas face às alterações climáticas. As superculturas modernas são úteis, mas não se chegará a uma solução agrária apenas com biotecnologia. 


Algo está a matar a plantação de mandioca de Ramadhani Juma. “Talvez seja água a mais”, sugere enquanto segura entre os dedos folhas amarelas murchas de uma planta com dois metros de altura. “Ou sol a mais.” Ramadhani lavra um pequeno talhão, com menos de meio hectare, perto da cidade de Bagamoyo, à beira do oceano Índico, sessenta quilómetros a norte de Dar-es-Salam, na Tanzânia.

Numa manhã chuvosa de Março, seguido por dois dos seus quatro filhos pequenos, ele conversa com um técnico da cidade grande, Deogratius Mark, de 28 anos, que trabalha no Instituto de Investigação Agrícola Mikocheni.


Mark explica-lhe que o problema não é o sol nem a chuva. Os verdadeiros assassinos da mandioca, demasiado pequenos para os olhos os detectarem, são vírus. Mark rasga algumas folhas molhadas: um punhado de moscas brancas sai a voar como dardos. As moscas têm o tamanho da cabeça de um alfinete, mas transmitem dois vírus, explica. Um destrói as folhas da mandioca e o segundo, o vírus do listrado castanho, destrói a raiz comestível e rica em amido, uma catástrofe normalmente descoberta apenas no momento da colheita. Ramadhani é um representante típico dos agricultores com quem Mark costuma falar. Por norma, nunca ouviram falar de doenças virais. “Consegue imaginar como ele irá sentir-se se eu lhe disser que vai ter de arrancar pela raiz todas estas plantas?”, pergunta Mark num sussurro.

Ramadhani veste calções azuis rasgados e uma T-shirt verde com a frase estampada “Você quer comprar uma vogal?”. Escuta com atenção o diagnóstico de Mark. De seguida, pega na enxada e começa a cavar. O filho mais velho, de 10 anos, mordisca uma folha de mandioca. Arrancando da terra uma raiz, Ramadhani abre-a a meio com um golpe de enxada. Suspira: a polpa branca apresenta-se raiada de amido castanho e podre.

Se quiser salvar uma parte da safra que lhe permita alimentar a família, Ramadhani terá de antecipar um mês a colheita. Pergunto-lhe que importância tem a mandioca para a sua vida.

“Mihogo ni kila kitu”, responde-me em suaíli. “A mandioca é tudo.”

A maioria dos tanzanianos pratica agricultura de subsistência. Em África, as pequenas explorações agrícolas plantam mais de 90% da totalidade das culturas e a mandioca é um alimento essencial para mais de 250 milhões de pessoas. Cresce em solos marginais e aguenta vagas de calor e secas. Seria a cultura perfeita para a África do século XXI, não fosse a mosca branca, cujo território se vai alargando à medida que o clima aquece. Os mesmos vírus que invadiram este campo já se espalharam por toda a África Oriental.

Antes de partirmos de Bagamoyo, vamos conversar com um dos vizinhos de Ramadhani, Shija Kagembe. As suas plantações de mandioca não estão melhores. Escuta Mark em silêncio, enquanto este lhe explica o que os vírus fizeram e depois pergunta: “Como pode ajudar-nos?”







A RESPOSTA A ESTA PERGUNTA será um dos maiores desafios do século. As alterações climáticas e o crescimento demográfico tornarão mais precárias as vidas de Ramadhani, de Shija e de outros pequenos agricultores no mundo em desenvolvimento. Durante a maior parte do século XX, a humanidade conseguiu manter a dianteira na corrida malthusiana entre crescimento demográfico e disponibilidade de alimentos. Será que irá manter esse avanço no século XXI, ou será avassalada por uma catástrofe mundial?

Segundo previsões da ONU, até 2050 a população mundial aumentará em mais dois mil milhões de pessoas. Metade nascerá na África subsaariana e 30% no Sul e no Sudeste da Ásia. Será também nessas regiões que se sentirá com mais dureza o efeito das alterações climáticas. No passado mês de Março, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) avisou que o abastecimento mundial de alimentos já corre perigo. “Nos últimos 20 anos, em especial no que se refere ao arroz, ao trigo e ao milho, tem-se registado um abrandamento no ritmo de crescimento do rendimento das colheitas”, conta o climatologista Michael Oppenheimer, um dos autores do relatório do IPCC. “Em alguns sectores, os rendimentos já não crescem. Do meu ponto de vista, a ruptura dos sistemas alimentares constitui a maior ameaça das alterações climáticas.”

Há meio século, a catástrofe perfilava-se de maneira igualmente sinistra. Falando sobre a fome mundial, num discurso proferido na Fundação Ford em 1959, um economista afirmou: “Na melhor das hipóteses, as perspectivas para as próximas décadas são graves; na pior, são assustadoras.” Nove anos mais tarde, no seu célebre livro “A Bomba Populacional”, Paul Ehrlich vaticinava que as crises de fome, em particular na Índia, matariam centenas de milhões de pessoas nas décadas de 1970 e 1980.

Antes que essas visões catastróficas se concretizassem, a revolução verde transformou a agricultura mundial, em especial o cultivo de trigo e de arroz. Através do apuramento selectivo das espécies, o biólogo norte-americano Norman Borlaug criou uma variedade anã de trigo que concentrava a maior parte da sua energia nos grãos comestíveis e não nos caules longos, impossíveis de comer. Resultado: gerou-se mais cereal disponível por hectare. Um projecto semelhante, desenvolvido no Instituto Internacional de Investigação do Arroz (IRRI na sigla internacional) nas Filipinas, melhorou radicalmente a produtividade do cereal que alimenta quase metade do planeta.

Entre a década de 1960 e a de 1990, os rendimentos do arroz e do trigo na Ásia duplicaram. Embora a população deste continente crescesse 60%, os preços dos cereais baixaram, o consumo médio aumentou quase mais um terço das calorias anteriormente ingeridas e a taxa de pobreza foi reduzida a metade. Quando Norman Borlaug conquistou o Prémio Nobel da Paz em 1970, foi elogiado porque, “mais do que qualquer outra pessoa do seu tempo, ajudou a disponibilizar pão a um mundo esfomeado”.

Para atingir patamares similares até 2050, vamos precisar de outra revolução verde. Uma das teses para atingir esta meta aposta no avanço tecnológico, com ênfase na continuação do trabalho de apuramento de melhores culturas iniciado por Norman Borlaug, recorrendo a técnicas genéticas modernas. “A próxima revolução verde terá de fortalecer imenso as ferramentas da anterior”, prevê Robert Fraley, director-geral de tecnologia do grupo Monsanto e vencedor do prestigiado World Food Prize em 2013. Segundo ele, a comunidade científica consegue actualmente identificar e manusear uma enorme diversidade de genes de vegetais, melhorando características como a resistência às doenças e a tolerância à seca. Isso tornará a agricultura mais produtiva e mais resiliente.

A tecnologia essencial desta abordagem, que tem granjeado sucesso e polémica à Monsanto, é a dos organismos geneticamente modificados, ou OGM. Divulgados pela primeira vez na década de 1990, foram adoptados por 28 países e plantados em 11% do solo arável do planeta, incluindo metade dos terrenos de cultivo nos Estados Unidos. Cerca de 90% do milho, do algodão e da soja cultivados no país são geneticamente modificados.

Há quase duas décadas que os norte-americanos se alimentam de OGM. No entanto, na Europa e em grande parte de África, os debates sobre a segurança e consequências ambientais destas culturas têm travado a sua utilização. Um estudo recente do Ministério Norte-Americano da Agricultura apurou que a aplicação de pesticidas nas culturas de milho diminuiu 90% desde a introdução do milho Bt, que contém genes da bactéria Bacillus thuringiensis, ajudando a planta a combater as traças do milho e outras pragas. Relatórios referentes à China indicam que os afídeos nocivos diminuíram e as joaninhas e outros insectos benéficos aumentaram nas províncias onde o algodão geneticamente modificado foi plantado.

Os OGM especificamente desenvolvidos pelo trabalho de Robert Fraley na Monsanto têm sido lucrativos para a empresa e para muitos agricultores, mas não têm ajudado a conquistar o público para a causa da agricultura de tecnologia avançada. As culturas Roundup Ready da Monsanto são geneticamente modificadas para se tornarem imunes ao herbicida Roundup, também produzido pela Monsanto. Quer isto dizer que os agricultores podem pulverizar com o herbicida para eliminar as ervas daninhas sem causar estragos no seu milho, algodão ou soja. O contrato assinado com a Monsanto não lhes permite conservar sementes para plantar: todos os anos precisam de adquirir à empresa as sementes patenteadas.

Embora não existam provas fortes de que as culturas Roundup ou Roundup Ready não sejam seguras, os defensores de uma solução alternativa consideram essas sementes caras como um factor dispendioso introduzido num sistema inviável.
A agricultura moderna já depende excessivamente dos adubos sintéticos e dos pesticidas. Não só são incomportáveis para um agricultor como Ramadhani Juma, como poluem a terra, a água e o ar. Os adubos sintéticos são produzidos com recurso a combustíveis fósseis e emitem potentes gases com efeito de estufa quando aplicados nos campos.

“A escolha é clara”, afirma Hans Herren, outro laureado com o World Food Prize e director da organização sem fins lucrativos suíça Biovision. “Precisamos de um sistema agrícola muito mais preocupado com a paisagem e com os recursos ecológicos. Precisamos de mudar o paradigma da revolução verde. A agricultura intensiva não tem futuro, precisamos de algo diferente.” Para este especialista, há maneiras de combater as pragas e de aumentar os rendimentos mais adequadas aos Ramadhani Jumas deste mundo.







A MONSANTO NÃO É A ÚNICA organização a acreditar que a genética vegetal moderna pode ajudar a alimentar o planeta. Num dia quente de Fevereiro, ao fim da tarde, o especialista em genética vegetal Glenn Gregorio, do Instituto Internacional de Investigação do Arroz, mostra-me o arroz que deu início à revolução verde na Ásia. Encontramo-nos na cidade de Los Baños, cerca de sessenta quilómetros a sudeste de Manila, caminhando ao longo do limite de certos arrozais muito especiais, que existem nos 200 hectares do instituto.

“Este é o arroz milagroso, o IR8”, mostra Glenn, quando nos detemos junto de uma mancha densa verde-esmeralda de plantas de arroz, que nos dão pela coxa. Na década de 1960, o especialista em patologias vegetais Peter Jennings deu início a uma série de experiências de cruzamento de espécies. Dispunha de dez mil variedades de sementes para trabalhar. O seu oitavo cruzamento (entre uma estirpe anã de Taiwan e uma variedade mais alta da Indonésia) gerou a estirpe de crescimento rápido e rendimento elevado mais tarde conhecida como India Rice 8, pelo papel desempenhado na prevenção da fome naquele país. “Revolucionou a produção de arroz na Ásia”, lembra Glenn. “Na Índia, alguns pais puseram aos filhos o nome de IR8.”



Enquanto passeamos ao longo dos arrozais, passamos por outras estirpes historicamente importantes, todas identificadas, uma a uma, com uma tabuleta de madeira pintada com esmero. Todos os anos, o Instituto lança dezenas de novas variedades: cerca de mil foram semeadas em todo o mundo desde a década de 1960.

Durante décadas, o IRRI preocupou-se exclusivamente em melhorar as variedades tradicionais de arroz, cultivadas em campos que são inundados na época do plantio. Ultimamente, tem deslocado a sua atenção para as alterações climáticas. Agora, disponibiliza variedades tolerantes à seca, incluindo uma que pode desenvolver-se em campos secos e sobreviver só com chuva, como acontece com o milho e o trigo. Existe um arroz com tolerância ao sal para países como o Bangladesh, onde a subida do nível dos mares está a envenenar os arrozais. “Os agricultores não se apercebem de que a água salgada está a infiltrar-se nos arrozais”, diz Glenn. “Quando o sabor salgado da água começa a sentir-se, as plantas já estão a morrer.”

Das variedades de arroz existentes no IRRI, poucas são culturas geneticamente modificadas, na medida em que contêm um gene transferido de uma espécie diferente e nenhuma se encontra ainda disponível junto do público. Uma chama-se Golden Rice e contém genes do milho que permitem produzir betacaroteno: tem por objectivo combater o flagelo mundial da carência de vitamina A. No Verão passado, um campo experimental de Golden Rice pertencente ao IRRI foi espezinhado por activistas. Segundo o administrador Robert Zeigler, o IRRI cria variedades geneticamente modificadas apenas como último recurso, quando não consegue encontrar a característica desejada no próprio arroz.

No entanto, toda a operação de produção de variedades do Instituto tem sido acelerada pela genética moderna. Durante décadas, os investigadores do IRRI seguiram pacientemente a receita antiga: seleccionar plantas com a característica desejada, realizar a polinização cruzada, aguardar que a descendência atinja a maturidade, seleccionar as plantas com melhor desempenho, repetir o processo. Hoje, existe uma alternativa. Em 2004, um consórcio internacional cartografou a totalidade do genoma do arroz, composto por cerca de quarenta mil genes individuais. Desde então, investigadores de todo o mundo têm vindo a destacar genes que controlam características valiosas e podem ser directamente seleccionados.

Em 2006, por exemplo, a especialista em patologia vegetal Pamela Ronald, da Universidade da Califórnia, isolou o gene Sub1 presente numa variedade do arroz da Índia Oriental. Raramente cultivado nos dias de hoje devido ao seu baixo rendimento, o arroz da Índia Oriental possui uma característica admirável: consegue sobreviver duas semanas debaixo de água. A maioria das variedades morre passados três dias.

Investigadores do IRRI procederam à polinização cruzada do arroz Sub1 com uma variedade de rendimento elevado e muito saborosa chamada Swarna, popular na Índia e no Bangladesh. Analisaram o seu DNA para apurar quais as plântulas que tinham efectivamente herdado o gene do Sub1. A tecnologia, denominada selecção assistida por marcadores, é mais rigorosa e permite poupar tempo. Os investigadores não precisaram de cultivar as plântulas e, de seguida, submergi-las durante duas semanas, para verificar as taxas de sobrevivência.

O novo arroz tolerante a cheias, chamado Swarna-Sub1, já foi adoptado por quase quatro milhões de agricultores na Ásia, onde todos os anos as cheias destroem cerca de vinte milhões de hectares de arroz. Um estudo recente apurou que os agricultores de 128 aldeias do estado indiano de Odisha, na baía de Bengala, aumentaram o seu rendimento em mais de 25%. Os agricultores com piores talhões obtiveram maiores benefícios.

“Na Índia, as castas inferiores recebem as terras de pior qualidade e, em Odisha, as terras piores têm propensão para as cheias”, explica Robert Zeigler. “Aqui está agora uma biotecnologia altamente sofisticada (arroz tolerante a cheias), que beneficia preferencialmente os mais pobres dos pobres, os Intocáveis. É uma história fantástica.”

O projecto mais ambicioso do Instituto pode transformar o arroz de raiz e aumentar exponencialmente a produtividade. O arroz, o trigo e outras plantas praticam um tipo de fotossíntese conhecido como C3, devido ao composto de três carbonos produzido por estes cereais quando a luz solar é absorvida. O milho, a cana-de-açúcar e outras plantas utilizam a fotossíntese C4. Essas culturas exigem menos água e azoto “e normalmente apresentam rendimentos 50% mais elevados”, explica William Paul Quick, do IRRI. O plano consiste em transformar o arroz numa cultura C4, através da manipulação dos seus próprios genes.

Contrariamente à tolerância à submersão do arroz Sub1, a fotossíntese C4 é controlada por muitos genes, e não por um único, o que a transforma numa característica mais complexa. “Ela evoluiu independentemente 62 vezes. Isso indica que não pode ser muito difícil de fazer”, diz
Quick. Ao “neutralizar” os genes um por um, ele e os seus colegas identificam sistematicamente cada gene responsável pela fotossíntese na Setaria viridis, uma pequena erva C4 de crescimento rápido. Até agora, todos os genes por eles descobertos encontram-se também presentes nas plantas C3. A única diferença passa por usos diferentes.



William e os colegas esperam aprender a forma de activá-los no arroz. “Acho que vamos levar, no mínimo, 15 anos”, diz. “Estamos agora no quarto ano.” Se tiverem êxito, talvez as técnicas sirvam para melhorar a produtividade das batatas, do trigo e de outras plantas C3. Seria um sucesso sem precedentes para a segurança alimentar: em teoria, os rendimentos poderiam aumentar 50%.

Cenários radicais como estes fizeram de Robert Zeigler um defensor apaixonado da biotecnologia. De barba branca, Robert crê que o debate público sobre os organismos geneticamente modificados se tornou horrivelmente confuso. “Quando comecei a investigar, na década de 1960, muitos de nós aderimos à engenharia genética por pensarmos que poderíamos ajudar o mundo”, explica. “Estas ferramentas eram fantásticas!”

“Sentimo-nos um pouco traídos pelo movimento ambientalista”, continua. “Se quiserem conversar sobre o papel que as grandes empresas devem desempenhar na nossa segurança alimentar, podemos ter essa conversa e ela é, de facto, importante. Mas é um debate diferente daquele que pondera o uso das ferramentas da genética para melhorar as nossas culturas. São ambas importantes e convém não as misturar.”

Robert decidiu a carreira que queria seguir depois de uma curta experiência em África, em 1972. “Quando estava na República Democrática do Congo, assisti a uma crise de fome por escassez de mandioca”, conta. “Foi isso que me motivou a especializar-me em patologia vegetal.”

QUAL A VISÃO DA AGRICULTURA mais acertada para os agricultores da África subsaariana? Na actualidade, afirma o geneticista Nigel Taylor, do Centro Donald Danforth para as Ciências Vegetais, o vírus do listrado castanho tem potencial para provocar outra crise de fome por escassez de mandioca. “Transformou-se numa epidemia nos últimos cinco a dez anos e está a piorar”, diz. “As temperaturas aumentam e o território da mosca branca alarga-se. Se o vírus se deslocar para a África Central e atingir as regiões de cultivo da mandioca na África Ocidental, teremos um gigantesco problema de segurança alimentar.”

Nigel e outros investigadores percorrem neste momento as etapas iniciais do desenvolvimento de variedades de mandioca imunes ao vírus do listrado castanho. O investigador colabora com peritos do Uganda num ensaio de campo, que decorre em paralelo com outro no Quénia. Porém, só quatro países africanos (Egipto, Sudão, África do Sul e Burkina Faso) permitem o plantio comercial de culturas geneticamente modificadas.




Em África, como noutras partes do mundo, os organismos geneticamente modificados são temidos, embora existam poucas provas científicas que justifiquem esse temor. Há um argumento mais forte, segundo o qual as estirpes vegetais tecnologicamente avançadas não são uma panaceia e talvez não sejam sequer aquelas de que os agricultores africanos mais necessitam. Mesmo nos EUA, alguns agricultores têm problemas com elas.

Um artigo publicado em Março deste ano documentou uma tendência inquietante: os crisomelídeos do sistema radicular do milho estão a desenvolver resistência às toxinas bacterianas presentes no milho Bt. “Fiquei surpreendido ao ser confrontado com estes dados, pois sei o que significam: esta tecnologia está a começar a fracassar”, diz o entomólogo Aaron Gassmann, co-autor do relatório. O motivo: alguns agricultores não cumprem a obrigação legal de criar “campos de refúgio” com milho não-Bt, que atrasariam a disseminação dos genes resistentes sustentando os crisomelídeos vulneráveis às toxinas do Bt.

Na Tanzânia ainda não há culturas geneticamente modificadas, mas alguns agricultores aprenderam que a plantação de várias culturas simultâneas é uma das melhores formas de prevenir pragas. O país possui o quarto maior número de agricultores biológicos certificados do mundo.
E parte do mérito cabe à jovem Janet Maro.

Janet cresceu numa quinta perto do Kilimanjaro. Em 2009, quando era aluna de licenciatura na Faculdade de Agronomia de Sokoine, em Morogoro, contribuiu para a criação de uma organização sem fins lucrativos, a Agricultura Sustentável da Tanzânia (SAT).

Desde então, ela e o seu pequeno grupo de colaboradores têm vindo a dar formação em práticas biológicas aos agricultores locais. No sopé da serra de Uluguru, Morogoro dista cerca de 160 quilómetros de Dar-es-Salam. Poucos dias depois do meu encontro com Ramadhani Juma, Janet conduz-me às montanhas para visitar três das primeiras explorações agrícolas certificadas da Tanzânia. “Os peritos agrícolas do Estado não vêm cá”, diz, enquanto subimos aos solavancos uma estrada de terra batida numa carrinha. Verdejantes devido às chuvas provenientes do oceano Índico, as encostas estão densamente florestadas, mas as árvores vão sendo abatidas pelos luguru para criar terra agrícola.

Com intervalos de meio quilómetro, passamos por mulheres que, caminhando sozinhas ou em pequenos grupos, equilibram sobre a cabeça cestas carregadas com mandioca, papaias ou bananas. É dia de mercado em Morogoro, 900 metros mais abaixo. Aqui, as mulheres são mais do que meras carregadoras. Entre os luguru, a propriedade da terra é transmitida por linha feminina.

Detém-se junto de uma casa de uma única divisão, construída em tijolo, com paredes parcialmente estucadas e telhado de chapa ondulada. Habija Kibwana convida-nos a sentarmo-nos no seu alpendre, juntamente com duas vizinhas.

Ao contrário dos agricultores de Bagamoyo, Habija e as vizinhas cultivam uma diversidade de plantas: agora é a época das bananas, dos abacates e dos maracujás. Em breve, plantarão cenouras, espinafres e outros legumes. Este misto de culturas serve de compensação, caso alguma cultura fracasse, e contribui para diminuir as pragas. Os agricultores aprendem a semear
de maneira estratégica, criando filas de Tithonia diversifolia, um girassol selvagem que as moscas brancas preferem, mantendo as pragas afastadas da mandioca. O uso de compostagem, em
vez de adubos sintéticos, melhorou tanto o solo que um dos agricultores, Pius Paulini, duplicou a sua produção de espinafre. As escorrências de água dos campos já não poluem os rios que abastecem Morogoro.

Talvez o resultado da agricultura biológica que mais alterou as vidas dos agricultores tenha sido livrarem-se das dívidas. Mesmo com subsídios do Estado, custa 500 mil xelins tanzanianos (cerca de 220 euros) comprar adubo e pesticida suficientes para tratamentos em meio hectare, uma despesa elevadíssima num país onde o rendimento anual per capita é inferior a 1.200 euros. “Antes, quando era preciso comprar adubo, ficávamos sem dinheiro para mandar os filhos para a escola”, afirma Habija. A sua filha mais velha terminou agora os estudos secundários.

As explorações agrícolas também se tornaram mais produtivas. “A maior parte dos alimentos vendidos nos mercados foi produzida por pequenos agricultores”, diz Janet.

Quando lhe pergunto se as sementes geneticamente modificadas também poderiam ajudar esses agricultores, ela mostra-se céptica. “Não é realista”, responde. Como pagarão as sementes se nem têm dinheiro para pagar os adubos? Que probabilidades há num país onde poucos agricultores chegam alguma vez a falar com um perito agrícola do Estado ou não têm sequer consciência das doenças que lhes ameaçam as colheitas, de conseguirem obter o apoio necessário para cultivarem as culturas geneticamente modificadas?

Do alpendre de Habija desfruta-se um magnífico panorama de encostas com socalcos abundantemente cultivados, mas também de encostas rasgadas pelos campos erodidos dos agricultores não-biológicos, sem socalcos para retenção do solo. Segundo Habija e Pius, o sucesso do projecto chama a atenção dos vizinhos. A agricultura biológica alastra. Mas alastra devagarinho.

Esse é o problema essencial, creio. Como levar até pessoas como Ramadhani Juma os conhecimentos que as organizações como a SAT ou o IRRI possuem? Não basta debater o uso de tecnologia simples ou avançada. Há mais do que uma maneira de aumentar os rendimentos ou de travar a mosca branca. “A agricultura biológica pode ser a solução para certas regiões”, afirma Mark Edge, executivo da Monsanto. “Não pensamos, de forma alguma, que as culturas geneticamente modificadas sejam a solução para todos os problemas de África.” Afinal, como lembra Robert Zeigler, desde a primeira revolução verde, a ciência ecológica tem progredido a par da genética.


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Entrevista a Zygmunt Bauman: "Vivemos o fim do futuro"

Em 1963, o sociólogo polaco Zygmunt Bauman foi censurado e afastado da Universidade de Varsóvia por causa de suas ideias, consideradas subversivas no comunismo. Hoje, aos 88 anos, imigrante em Londres, é considerado um dos pensadores mais eminentes do declínio da civilização. Ele ainda dá aulas na London School of Economics, ministra palestras pelo mundo inteiro e publicou quatro dezenas de livros que viraram best-sellers. O mais recente é Vigilância líquida
Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta explicar as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da informação. Nesta entrevista, ele fala sobre como a vida, a política e os padrões culturais mudaram nos últimos 20 anos. As instituições políticas perderam representatividade porque sofrem com um “deficit perpétuo de poder”. Na cultura, a elite abandonou o projeto de incentivar e patrocinar a cultura e as artes. Segundo o autor, hoje é moda, entre os líderes e formadores de opinião, aceitar todas as manifestações, mas não apoiar nenhuma. 

ÉPOCA – De acordo com sua análise, as pessoas vivem um senso de desorientação. Perdemos a fé em nós mesmos? 
Zygmunt Bauman – Ainda que a proclamação do “fim da história” de Francis Fukuyama não faça sentido (a história terminará com a espécie humana, e não num momento anterior), podemos falar legitimamente do “fim do futuro”. Vivemos o fim do futuro. Durante toda a era moderna, nossos ancestrais agiram e viveram voltados para a direção do futuro. Eles avaliaram a virtude de suas realizações pela crescente (genuína ou suposta) proximidade de uma linha final, o modelo da sociedade que queriam estabelecer. A visão do futuro guiava o presente. Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro. Fomos repelidos pelos atalhos do dia de hoje. Estamos mais descuidados, ignorantes e negligentes quanto ao que virá. 

ÉPOCA – Segundo o senhor, a decadência da política acontece desde o século passado. A situação piorou agora? 
Bauman – A decadência da política é causada e reforçada pela crise da agenda política. As instituições amarram o poder de resolver os problemas à política. Ela seria capaz de decidir que coisas precisariam ser feitas. Nossos antepassados conceberam uma ordem que dependia dos serviços do Estado-nação. Mas essa ordem não é mais adequada aos desafios postulados pela contínua globalização de nossa interdependência. Com a separação do poder e da política, a gente se encontra na dupla situação de poderes livres do controle político e da política que sofre o deficit perpétuo do poder. Daí a crise de confiança nas instituições políticas, uma vez que a política investiu nos parlamentos e nos partidos para construir a democracia como atualmente a compreendemos. Mais e mais pessoas duvidam que os políticos sejam capazes de cumprir suas promessas. Assim, elas procuram desesperadamente veículos alternativos de decisão coletiva e ação, apesar de, até agora, isso não ter representado uma alteração efetiva. 

ÉPOCA – As redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede? 
Bauman – Redes, você sabe, são interligadas, mas também descosturadas e remendadas por meio de conexões e desconexões... As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que experimentamos quando estamos no mundo on-line da internet. 

ÉPOCA – Os jovens podem mudar e salvar o mundo? Ou nem os jovens podem fazer algo para alterar a história? 
Bauman – Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em prática, dependerá da imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do planeta e seus habitantes. Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.

Francesco Tonucci - “Gastamos muito para encher nossos filhos de brinquedos, convertendo-os de brincadores para possuidores”


“As crianças precisam de mais liberdade e alguns brinquedos, devem ser autónomos, brincar com os amigos e, na medida do possível, ir para a escola, caminhando, sozinhos e a pé.” É assim que Francesco Tonucci, pedagogo e pensador italiano resume sua filosofia e agenda política. Ele, que é autor e promotor do conceito “Cidade das Crianças”, um projeto que aposta na transformação das cidades por meio das crianças que nela habitam, defende que todas as políticas urbanas deveriam se estabelecer para garantir o direito ao brincar das crianças.

Célebre por ser “radical na defesa da infância”, o autor também publica sob o pseudônimo Frato uma série de quadrinhos em que discute, de forma irônica, o cenário escolar e a estrutura familiar contemporânea, que muitas vezes, impede a criatividade e a possibilidade de criação e reinvenção das crianças.

Em entrevista ao site El Intransigente, periódico Argentino, Tonnucci, que esteve no país em agosto deste ano, afirmou que os pais precisam deixar de superproteger seus filhos e permitir que desenvolvam suas próprias experiências de autonomia, entendendo o brincar para o pleno desenvolvimento das pessoas.

El Intransigente: É fundamental que as crianças brinquem, mas quão importante isso é?

Francesco Tonucci: O brincar está conectado de uma maneira muito forte com o movimento e com a autonomia. Temos que ajudar os adultos a entender a importância disso. Para explicar, lhe conto uma anedota; meu filho mais novo chegou do seu primeiro dia na escola primária e me contou “a professora nos disse que agora é hora de parar de brincar, temos que levar as coisas a sério.” Essa foi a mensagem da escola ao meu filho. E, desde então, venho tentando dizer às pessoas que esta é uma frase absurda, equivocada e perigosa. Não tenho dúvidas que os primeiros anos são os mais ricos e importantes na vida de uma pessoa; é o período em que se fundam todos nossos cimentos.

A “Cidade das Crianças” é uma iniciativa que nasceu em 1991, em Fano, na Itália, e apresentou uma nova filosofia de governança dos municípios, tomando as crianças como parâmetro e como garantia das necessidades de todos os cidadãos. Inspirados no projeto, nasceu a rede de cidade das crianças. Em Roma, na Itália, as crianças passaram a compor um parlamento infantil, capaz de incidir sobre as políticas públicas locais.

El Intransigente: E o jogo ajuda…

Tonucci: Nestes anos iniciais não existem professores no sentido público, não existem métodos. Simplesmente há uma criança que brinca com o mundo. Essa é a importância do jogo; ele é uma experiência em que as crianças vivem no nível espontâneo e não é necessário ensiná-las isso. É brincando que as crianças têm sua primeira relação com o mundo.

El Intransigente: Todo tipo de brincar é valioso? Brincar ao ar livre é o mesmo que brincar no computador?
Tonucci: Brincar é uma experiência que tem algumas características: sair no sentido de não ficar sob controle direto dos adultos, encontrar-se com amigos, aproveitando um tempo livre para viver a experiência da aventura, do descobrimento, da surpresa, da maravilha, do risco. Tendo estes elementos, todos os jogos são bons. Inclusive os tecnológicos.

El Intransigente: Por que é importante que as crianças brinquem sozinhas?

Tonucci: Não é possível brincar acompanhado de adultos. Quando os pais dizem, “acompanho meus filhos todos os dias para que brinquem na praça” é uma contradição. O verbo brincar só se conjuga com o verbo deixar. Na Europa é impressionante, mas aqui [na Argentina] também creio que acontece, em especial nas classes sociais mais ricas; para uma criança é quase impossível sair sozinho pelas ruas. E isso os impede essa experiência básica.

Muitas vezes nós, adultos, pensamos em substituir esta experiência que desfrutamos nós mesmos e parece que as crianças não conseguem viver. Substituímos isso comprando muitos brinquedos, dando instrumentos que permitem que a criança passe muito tempo se entretendo sozinho em casa, especialmente com as novas tecnologias, e os acompanhando em todos os lugares. Todas respostas inadequadas. Estamos gastando muito dinheiro para encher nossos filhos de brinquedos, convertendo-os de “brincadores” para consumidores, “possuidores”. Para brincar bem, é preciso ter poucos brinquedos, mas amigos para aproveitá-los.

El Intransigente: O que oferece o brincar a uma criança?
Tonucci: Lhe permite descobrir o mundo. É uma maneira de encontrar-se com o desconhecido. Significa viver a experiência do risco, de saltar o obstáculo, viver o desafio de superá-lo ou não. Ver se hoje posso fazer o que antes não podia, se posso superar meu medo de viver esta experiência.

El Intransigente: Por que é importante viver a experiência do risco?

Tonucci: Se não é possível, vamos criar uma acumulação de desejos e de necessidade de transgressão que se expressarão mais tarde, na adolescência, quando um garoto tem autonomia suficiente como as chaves de casa no bolso ou quando essa expressão de seu desejo se converte em uma explosão perigosa.

Muitas das questões que hoje tratamos como os dramas da adolescência, como abuso de álcool, de drogas, acidentes de moto, – até os casos de suicídio juvenil -, tem a ver com a falta de experiências de autonomia nos primeiros anos de vida da criança. É vivendo a experiência do obstáculo que nos damos conta de que não podemos superá-lo e é aí que vivemos a desilusão. E a desilusão também é uma experiência que as crianças não vivem porque seus pais os superprotegem.

Após a entrevista, o professor proferiu palestra organizada pela Fundação Arcor em parceria com o governo argentino. Como indicado pelo portal Latin Lab de experiências de valorização e promoção da infância na América Latina, Tonnucci discute que os grandes devem escutar as crianças para transformar positivamente as comunidades em que vivem.

Veja em dois vídeos, a palestra completa em espanhol.



Fonte: Educação Integral

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Amigos próximos têm muitos genes comuns

Fonte: Quero Saber
A primeira investigação de correlações genómicas entre amigos revelou que as pessoas não partilham seus genes só com os familiares: os amigos têm mais DNA parecido do que os estranhos.







Os cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego selecionaram para sua investigação somente pessoas amigas entre si que não eram familiares. Revelou-se que os amigos são biologicamente próximos, à semelhança dos parentes na quinta geração. A maioria destes genes em grupos é associada ao sentido do olfato e imunidade.
No segundo caso, eles, pelo contrário, se distinguem mais do que a média da população, ou seja, os genótipos dos amigos protegem-nos de várias doenças. As vantagens evolutivas desse fenômeno são óbvias: em uma pequena comunidade é mais fácil resistir às epidemias se os seus membros não são sujeitos a seus ataques da mesma maneira.
O mais interessante é que os genes comuns dos amigos evoluem mais rapidamente do que os outros: isto pode explicar, em parte, a aceleração da história da humanidade nos últimos 30 mil anos, quando o ambiente social se tornou uma das forças motrizes da evolução.
Leia mais: Amigos próximos têm muitos genes comuns

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cidad´ave, por João Soares


Cidad´ave

Meu chão de sementes, celeiro urbano
Continuamos a ver manhãs verdadeiras
mais os relógios incertos
E continuamos juntos nas cidades 
de todas as noites que se oferecem

se estes bicos são os teus lábios, 
se o meu canto adocica o teu fugir
se as tuas asas são as minhas,
Este papel na vida não somos nós?

Por João Soares , 22-09-2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uns bons argumentos contra a monocultura/ cultura de transgénicos

E Mail com as perguntas
Caros amigos
Quais os argumentos a contrapor quando referenciam que a cultura intensiva e mono cultura é importante para matar a fome. Sei que isto é falso e por instinto sei que é uma mentira, mas isto não chega.Espero que m e deem algumas dicas.
Igualmente quando falas com um pequeno agricultor que aderiu aos trangénicos,, caso do milho e outras culturas e que te diz que tem menos trabalho e melhores resultados, como contrapôr? É dificil mas não impossivel a abordagem.
As minhas melhores saudações
Fernanda Julia Garcia



Respostas por Irina Castro

A minha resposta iria neste sentido.

1º O mito da fome: a questão da fome no mundo é colocada sempre sobre o principio da escassez e nunca é vista como uma questão de má, e injusta redistribuição e alimentos.
Por exemplo: como podemos justificar que Tanzânia, sendo um dos países africanos onde mais se pesca, seja onde o consumo de peixe é menor, e onde existem altos indexes de fome? simples, os tratados bilaterais, bem como as imposições económicas por parte de outros países sobre a divida externa de Tanzânia obrigam a que o país exporte a maioria das suas pescas. O que depois significa também na Europa, que países como Portugal e Grécia, recebam incentivos para o abate das suas frotas pesqueiras.
Isto impõem não só pressões enormes sobre os países, mas também uma pressão ambiental sobre Tanzânia que tem de produzir peixe suficiente para cumprir as exportações, originando problemas ambientais como os que temos no lago Vitoria.

2º A fome não é só uma questão de ter ou não ter comida. Está associada à cultura e à historia dos povos. Existe uma relação psico-emocial-social com a alimentação, e descartar isso da discussão é ignorar por completo a complexidade do fenómeno da fome.
Podes explicar isto muito bem como culturas como a mexicana, cuja diversidade de milho está associada à sua alimentação. A textura, as cores, os sabores, e até mesmo as formas de produção.

Isto para dizer, para além da perda de agrodiversidade promovida pela monocultura, ela também destrói sistemas de produção integrada. A Milpa, sistema de produção de milho no México, engloba a produção do milho, com a da abobora e com o feijão, três dos principais elementos que compõem a alimentação do povo mexicano. Ora se substituis isso por milho em monocultura, na verdade estás a promover a fome, e não a alimentação.

3º A monocultura e o milho trangénico (o hibrido também) são desenhados de acordo com uma visão de ambiente e sociedade norte-americanas. E até é possivel que nas primeiras colheitas agricultures portugueses e indianos possam ter bons resultados, o problema está associado à continuação da produção, que a longo prazo tem demonstrado não apresentar uma analise de custo-benificio favoravel aos pequenos agricultures.
Por outro lado, a questão dos trangénicos implica que se percam as redes de troca de sementes, o que em termos de produção mais tarde o agricultor verá que as sementes que compra à empresa são por vezes 10 vezes mais caras que as que comprava anteriormente e podem custar até 40% do rendimento da produção.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Entrevista a Raimundo Quintal- Jardins com História na Madeira, Jardineiros e o Garden Tourism



O conhecido geógrafo e investigador madeirense Raimundo Quintalpresidente da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e ex-vereador do Ambiente da câmara da cidade, falou, nesta entrevista, da fitodiversidade nos jardins do Funchal, das potencialidades do “Garden Tourism” na Madeira e da importância da formação dos jardineiros.


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Maria Bicileta- Ciclocultura no feminino

© Maria Bicicleta - A bióloga Mariana Carvalho também circula de bicicleta com os seus filhos

O Projecto Maria Bicicleta traz-nos algumas histórias de mulheres que venceram o medo de pedalar na cidade de Lisboa. Consulte aqui o Facebook de Maria Bicicleta para conhecer o perfil destas 20 mulheres sobre rodas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Anselmo Borges: Ética ecológica

É significativo que, até pela via etimológica, ética e ecologia estão relacionadas. De facto, ética vem do grego êthos, que significa costumes e morada; ecologia provém de duas palavras gregas (oikos, casa, e lógos, razão, discurso) e significa tratado da casa, também em conexão com economia (oikos e nómos, lei), a lei da casa.
[...]
Logo pela etimologia se vê a importância decisiva do tema, pois é da nossa casa e do cuidado por ela que se trata. O debate tem-se tornado premente por causa da crise ecológica: alterações climáticas, contaminação do ar, do solo e da água, desertificação, extinção de espécies.
Figura eminente do biocentrismo foi Albert Schweitzer, filósofo, teólogo, médico, músico, missionário fundador do hospital de Lambarene, no Gabão, Prémio Nobel da Paz. Para ele, a vida é algo de sagrado, despertando veneração e respeito. O seu princípio fundamental é: "Eu sou vida que quer viver no meio de vida que quer viver."

Frente ao antropocentrismo, afirma-se o fisiocentrismo (do grego physis, natureza), que, contra a concepção moderna objectivante e físico-matemática da natureza, a afirma como organismo vivo e subjectividade autocriadora, no quadro de uma cosmovisão de cariz panteizante e reivindicando, assim, uma dimensão ética para toda a natureza. Contra o dualismo homem-natureza, vê o Homem integrado na natureza, numa unidade de co-pertença, que exige o paradigma da colaboração, contra o paradigma da objectivação e da exploração pelo Homem.

Face a estas concepções, é necessário superar um duplo radicalismo: o antropocentrismo que tudo objectiva e o naturalismo panteizante. Para isso, impõe-se estar atento ao lugar do Homem na evolução: se, por um lado, ele não é desvinculável da natureza, por outro, não é idêntico à natureza, pois tem características que o tornam qualitativamente diferente: é natureza humana.

Neste contexto, a distinção entre agente moral, status reservado ao Homem enquanto ser racional e livre, e paciente moral, qualidade atribuível a todos os seres naturais, proposta por Gómez-Heras e outros, ajuda a iluminar o problema. Ao Homem compete a construção de um mundo moral, pelo conhecimento, reflexão e decisão. E faz-se justiça à natureza, "reconhecendo os valores de que é portadora" e assumindo-os como fonte de respeito e obrigação moral.


Todo o artigo aqui

terça-feira, 21 de outubro de 2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Técnicas de meditação associadas ao budismo tibetano podem melhorar o desempenho do cérebro

Ciência Hoje
Ao contrário da crença popular, nem todas as técnicas de meditação produzem efeitos similares no corpo e na mente. Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Nacional de Singapura (NUS) demonstrou pela primeira vez que os diferentes tipos de meditação budista - nomeadamente os estilos Vajrayana e Theravada - suscitam influências qualitativamente diferentes na fisiologia e comportamento humanos, produzindo excitação e respostas de relaxamento respectivamente. 
Os pesquisadores descobriram que a meditação NUS Vajrayana,associada ao budismo tibetano, pode levar a melhorias no desempenho cognitivo.

O estudo realizado por Maria Kozhevnikov e Ido Amihai do Departamento de Psicologia da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da NUS foi publicado na revista PLoS ONE, em Julho de 2014.

Kozhevnikov e Amihai analisaram quatro tipos diferentes de práticas meditativas: dois tipos de meditações Vajrayana (Budismo Tibetano) práticas (de visualização de auto-geração-como-Divindade e Rig-pa) e dois tipos de práticas Theravada (shamatha e vipassana) . Recolheram respostas em electrocardiogramas e electroencefalogramas e mediram o desempenho comportamental em tarefas cognitivas, utilizando um grupo de pptatiicantes experientes Theravada da Tailândia e Nepal, bem como praticantes Vajrayana do Nepal.

Eles observaram que as respostas fisiológicas durante a meditação Theravada diferem significativamente das obtidas durante a meditação Vajrayana. A meditação Theravada produzia activação parassimpática aumentada (relaxamento). Em contraste, a meditação Vajrayana não mostrava qualquer evidência de actividade parassimpática, mas revelava uma activação do sistema simpático (excitação).

Os resultados mostram que os estilos de meditação Vajrayana e Theravada são baseados em diferentes mecanismos neurofisiológicos, que dão origem tanto a uma excitação ou resposta de relaxamento.

A meditação Vajrayana pode levar a uma dramática melhoria no desempenho cognitivo, podendo ser especialmente útil em situações em que é importante realizar uma perfomance ao melhor nível, como, por exemplo, durante uma competição ou estados de urgência. Os estilos de meditação Theravada são uma excelente maneira de diminuir o stress, aliviar a tensão e promover relaxamento profundo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

The Art of Arctic Destruction (Greenpeace) - Bailado alertando o público para o problema ambiental no Árctico


Just before the beginning of the concert «Classical Highlights» on Saturday 19 October 2013 in Zurich’s Tonhalle a Greenpeace ballet dancer premières her own interpretation of the in oil mud dying swan. Background is the sponsoring by the Russian energy company Gazprom that puts life substance of many humans and animals in the arctic at risk. The credits of the projection carry the message «The Art of Arctic Destruction – sponsored by Gazprom» and reveal that the «Classical Highlights» are sponsored by one of the biggest destroyer of the environment. Gazprom plans to drill for oil in the Arctic.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O fruto mais brilhante da natureza

Fonte: Ciência Hoje
O fruto da planta africana Pollia condensata é o 'objecto' com a cor mais intensa e brilhante da natureza, segundo um estudo da Universidade de Cambridge.

Esta baga não obtém a sua cor azul metálica de nenhum pigmento, mas apenas da luz que reflecte em comprimentos de ondas específicos. A investigação está publicada na«PNAS».

A maioria das cores que nos rodeiam resultam de pigmentos. No entanto, existem alguns exemplos na natureza que utilizam o que se chama de 'cor estrutural', um truque óptico através do qual a cor aparece na reflexão da luz.

Os investigadores descobriram que a celulose desta baga forma uma estrutura assimétrica capaz de interagir com a luz e proporcionar o reflexo selectivo de uma cor específica. Resultante desta estrutura única, a baga reflecte predominantemente o azul.

Os cientistas descobriram também que cada célula gera, individualmente, uma cor independente, produzindo um efeito de pontilhismo (como nas pinturas de Seurat). Apesar deste fruto não possuir qualquer valor nutritivo, as aves são atraídas pela sua cor brilhante e utilizam-no na decoração dos seus ninhos para impressionar potenciais parceiros.

Devido às suas características, a cor do fruto não se desvanece. As amostras que existem nas colecções que datam do século XIX mantêm-se tão coloridas como os frutos actuais.

Silvia Vignolini, investigadora do departamento de Física da Universidade de Cambridge e autora principal do artigo, acredita que a natureza pode inspirar a criação de materiais inteligentes e multifuncionais a partir de celulose.

“A partir da celulose podem criar-se materiais coloridos com aplicações industriais, tais como elementos com cor estrutural que substituam os corantes tóxicos em alimentos e cosméticos”, defende.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Hábitos antigos que você deveria colocar em prática hoje

Nossos avós faziam, você também pode fazer. Confira alguns hábitos do passado que fazem bem para nós e para o meio ambiente
Muitas pessoas acham que o passado é algo chato e sem muita importância; outros, já pensam nele de forma saudosista e até tentam revivê-lo. Odiando ou amando, uma coisa é certa: podemos encontrar muitas dicas valiosas de como viver uma vida mais verde e com mais qualidade seguindo alguns hábitos praticados e aconselhados pelos mais velhos. Vamos a eles:

Ande mais

Nossos avós andavam bem mais do que a gente para fazer coisas simples do dia a dia. Tente fazer as pequenas tarefas sem a necessidade de ir de carro. Caminhar é bom para o corpo e para a mente. Se para você é impossível encaixar esse hábito durante o seu dia, tente depois do expediente. Caminhar melhora a sua pressão arterial, aumenta a sensação de bem-estar e afasta a depressão.

Cozinhe mais em casa

Cozinhar é algo que muitos consideram uma perda de tempo, principalmente tendo todas as facilidades dos serviços de delivery. Entretanto, cozinhar pode ser algo relaxante e prazeroso. Além disso, é um hábito que pode ser saudável, pois você escolhe os ingredientes e controla o modo de preparo. Dê uma chance para o “faça você mesmo”. Procure receitas rápidas e práticas. Transforme esse momento do seu dia em algo especial.

Cuide de um jardim

Tudo bem, muitos não têm espaço para ter um super jardim como nossos avós tinham. Mas uma planta ou flores em um vaso já fazem diferença. Qualquer coisa que você cuide e veja crescer já contribui para o seu bem-estar. O objetivo é ter um hobbieterapêutico, que te ajude a tirar a cabeça do trabalho e dos problemas. A horta vertical, fazendo uso de garrafas PET, é uma boa dica para quem não tem espaço. Fica super bonito e você ainda ajuda o meio ambiente, reutilizando em vez de descartar. Clique aqui para saber como fazer.

Escreva cartas

Nós sabemos: faz bastante tempo que você não pega uma caneta e um papel e escreve uma carta pessoal para alguém importante e a coloca no correio. Todos sofremos do mesmo mal: a preguiça de escrever cartas quando se tem e-mail. Nossos avós faziam sempre, eles não tinham escolha. Mas nós temos. Pense que escrever uma carta hoje em dia demonstra atenção. E convenhamos: é bem mais gostoso receber uma carta no correio do que abrir um e-mail. Além disso, parar para escrever uma carta pode ser algo bem relaxante.

Faça mais uso de remédios naturais

Resfriado, tosse, dor de garganta? Por que não tentar remédios naturais primeiro, como nossos avós? Aqui vão algumas dicas da eCycle:


Cuide de suas roupas. Conserte-as quando necessário

O que pensamos quando vemos um furo em uma blusa é 1) jogar fora; ou 2) simplesmente não usar mais. Isso é uma perda de dinheiro e também uma agressão ao meio ambiente. Nos tempos dos nossos avós, remendar e reutilizar era muito comum. Adotar esse hábito é algo que tem muito a ver com sustentabilidade, com consumo responsável. Há também espaço para a criatividade: quando não dá mais para remendar, transformar uma peça em outra ou dar uma outra utilidade a ela também é uma boa solução. Como, por exemplo, a meia-calça (clique aqui e veja como)!

E se você estiver inspirado pelo “reutilizar”, por que não fazer compras em um brechó?Damos cinco motivos para você!

Aproveite mais o sol

Moramos em um país tropical. E temos boa parte dos dias ensolarados e com bom tempo para secar a roupa naturalmente, no varal, como nossos avós. Utilizando menos a secadora, diminuímos o gasto com energia. Além de ser bom para o nosso bolso, também é bom para o meio ambiente, pois reduzimos nosso impacto sobre ele. De forma geral, tente ser mais consciente a respeito do usos de seus eletrodomésticos.

Utilize as coisas até que elas se acabem

Nossos avós não trocavam de TV assim como trocamos de camiseta. Eles usavam até todos “pifarem”. Ainda se tentava mandar para o conserto. Assim, quando não tinha mais jeito, comprava-se outra. É esse pensamento que devemos ter. Comprar menos e utilizar até quando puder. Sabemos que é difícil, pois as coisas hoje são feitas para durarem menos. Mas resista. Pelo menos, você não estará contribuindo para aumentar o tamanho de nossos aterros.

Recorra à cozinha na faxina

Sim, é verdade. Nossos avós encontravam na cozinha soluções para a sujeira. Recorriam muitas vezes ao fermento (bicarbonato de sódio) e ao velho conhecido vinagre. O Portal eCycle dá as dicas:


Esses tipos de produtos agridem muito menos a natureza, e são tão eficientes quanto.

Gostou das dicas da vovó? Então comece a praticá-las e compartilhe sua experiência conosco.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Norte-americano cria bike que não precisa de manutenção

Cansado de sofrer com as constantes manutenções em bicicletas comuns, o norte-americano Dave Weiner decidiu criar uma bicicleta altamente resistente. O projeto foi para o Kickstarter, em busca de financiamento coletivo, e arrecadou quase 20 vezes o valor planejado.



A bicicleta ganhou o apelido de Priority e é ideal para quem pedala nas cidades, usa a bike como meio de transporte, mas não tem tempo a perder em uma oficina. O design do modelo é simples e foi pensado para ser eficiente em sua funcionalidade.

O quadro usado na bicicleta é todo em alumínio. Esta é uma opção mais barata do que a fibra de carbono, mas altamente resistente, inclusive à ferrugem, essencial para quem mora no litoral. Essa matéria-prima também deixa a bike mais leve, facilitando o transporte, principalmente em meios urbanos.

Outro cuidado tido por Weiner foi em relação às correntes. Este é um item que constantemente exige manutenção nas bicicletas tradicionais, principalmente em relação à lubrificação e ferrugem. Assim sendo, o norte-americano se inspirou na Harley Davidson. A fabricante de motos usa, desde 1984, correias de transmissão em seus equipamentos. A opção é muito mais durável e torna a pedalada mais suave e limpa.

Quanto aos pneus, os modelos utilizados são de alta resistência. O criador garante que será necessário muito esforço para perfura-los.

Não que os furos sejam impossíveis, mas serão bem menos comuns do que em pneus tradicionais. As rodas são fixadas à bicicleta no modelo antigo, com parafusos. Isso dificulta o roubo, por tornar a retirada muito mais lenta do que com as simples alavancas.

O norte-americano também garante que a montagem da bicicleta é feita em apenas cinco minutos e não necessita de conhecimento prévio. Confiante em seu produto, Weiner começa a entregar a bicicleta aos primeiros compradores que apoiaram o projeto já no próximo mês. Ele também possui uma loja em Nova York e faz questão de lembra que “a vida é curta demais para pedalar uma bicicleta ruim”.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O preço do desperdício de comida

Das quintas às lojas, passando pela mesa das nossas casas, um terço do alimento que produzimos perde-se ou é desperdiçado. Temos muito por onde melhorar.
Texto de Elizabeth Royte, National Geographic, Agosto 2014

Mais Leituras
Os alimentos desperdiçados por uma família típica americana de quatro membros pesam, ao fim de um ano, meia tonelada. Compilados na sala de estar dos Waldt, de New Jersey, estes produtos representam os 1,2 milhões de calorias que uma família desperdiça todos os anos – mais do que o suficiente para alimentar outra pessoa. Fotografia de Robert Clark
Estamos na época da alface no vale de Salinas, uma região no centro da Califórnia que produz cerca de 70% dos legumes de folha verde vendidos nos EUA. Numa manhã típica de nevoeiro, uma procissão de veículos carregados de plantas sai das unidades transformadoras e dirige-se para norte, sul e leste.

Entretanto, um camião entra lentamente na estação de transferência de Sun Street, perto da baixa de Salinas. O condutor detém-se sobre uma balança e, de seguida, posiciona a caixa amolgada do camião sobre uma plataforma de betão. Depois de manobrar uma alavanca, ouve-se um silvo pneumático e cerca de 15 metros cúbicos de alface e espinafres são descarregados no solo. Acondicionados em caixas e sacos de plástico e empilhados a dois metros de altura, os legumes parecem frescos, rijos e incólumes. Mas devido a vários pequenos erros, irão em breve ser condenados ao aterro sanitário: as suas embalagens foram irregularmente cheias, rotuladas, vedadas ou cortadas.

Qualquer observador diria que esta montanha do tamanho de dois elefantes africanos representa um desperdício horrível, talvez mesmo criminoso. Mas isto não é nada. Ao longo desse mesmo dia, a estação de transferência receberá mais dez a vinte carregamentos de legumes perfeitamente comestíveis, provenientes de agricultores das redondezas. Entre Abril e Novembro, a Autoridade para os Resíduos Alimentares do Vale de Salinas envia para o aterro sanitário dois a quatro milhões de quilogramas de legumes frescos vindos dos campos. E é apenas uma de muitas estações de transferência que prestam serviço aos vales agrícolas da Califórnia.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que mantém sob vigilância tudo o que é cultivado e consumido como alimento em todo o mundo, calcula que, todos os anos, um terço dos géneros alimentares produzidos para consumo humano no planeta perde-se ou é desperdiçado ao longo da cadeia que vai das quintas às unidades transformadoras, aos mercados, aos pontos de venda, aos restaurantes e às nossas cozinhas. Representando 1.300 milhões de toneladas, esse total seria suficiente para alimentar três mil milhões de pessoas.

O desperdício é gerado em lugares diferentes por razões diferentes. Em geral, os países industrializados desperdiçam mais alimentos nas fases de retalho e consumo da cadeia alimentar do que os países menos desenvolvidos. Nos países em vias de desenvolvimento, que muitas vezes não possuem infra-estruturas para distribuir todos os seus géneros alimentares em boas condições, as perdas ocorrem, na sua maioria, durante as fases de produção, pós-safra e transformação.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Etnobotânica- o balsamo de Gileade

Pintor - Sergei Rymoshevsky 
Texto por Luís-Mendonça de Carvalho
O bálsamo-de-Gileade, secreção vegetal extraída da planta Commiphora gileadensis, era, para os Hebreus, uma substância com propriedades medicinais maravilhosas. Um bálsamo para o espírito, que estimulava a transcendência. Durante séculos a sua recolha e comércio foram estritamente regulados. O seu preço era superior ao do ouro.
Uma tradição refere que as plantas foram trazidas do sul da península arábica, pela Rainha de Sabá, e oferecidas ao rei Salomão, que as teria mandado plantar junto do monte de Gileade. Ffoi assim que Georg Haendel recriou "A Chegada da Rainha de Sabá", na oratória "Salomão"

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Arquitectura da densidade- estudo de caso Hong-Kong

 Michael Wolf
 Michael Wolf
A favor da “Cidade Compacta” tem sido argumentado que: 
1. Favorece reduz a dimensão e o tempo das deslocações, ao encurtar as distâncias entre locais de trabalho e residência (assumindo que se localizam no mesmo núcleo); possibilita a utilização de modos mais sustentáveis de transporte e deslocação, nomeadamente os transportes colectivos em massa e promoção dos percursos pedonais e do uso da bicicleta; 

2. Promove uma ocupação mais eficiente do solo, reduzindo a o consumo de solo rural e natural, através da aposta do preenchimento dos vazios urbanos (“infill”) em detrimento das operações de expansão; 

3. Promove a coesão, a diversidade social e reunião de massa crítica, essencial para a criação de um ambiente de inovação, oportunidades e desenvolvimento cultural; neste contexto, reunem-se condições propícias à localização de actividades económicas, que beneficiam da proximidade da população;

4. Permite uma melhor economia de recursos (na relação custo-benefício per capita), quer a nível do suporte das infra-estruturas (vias, espaços públicos, iluminação, redes de abastecimento, redes de comunicação, etc.), quer dos serviços municipalizados (recolha de resíduos), quer ao nível da construção e manutenção dos equipamentos público;

Aspectos negativos:
A abordagem da cidade compacta deve ser vista como uma possibilidade para a criação de novos empreendimentos urbanos, que podem ser simultâneamente sustentáveis mas igualmente atraentes para quem viva na cidade. O sucesso ou o fracasso das políticas da “cidade compacta” vai depender tanto da disponibilidade da sociedade para reconhecer a insustentabilidade da situação actual e do seu estilo de vida, como a necessidade de fazer sacrifícios, tais como viver em espaços menores. J. Arbury, 2005