quinta-feira, 17 de março de 2022

Manhouce


A freguesia de Manhouce é uma das maiores do concelho de S. Pedro do Sul. Fica no seu extremo ocidental, no limite com o concelho vizinho de Oliveira de Frades e ainda com o distrito de Aveiro (concelho de Vale de Cambra). Situa-se em pleno maciço da Gralheira, na zona limítrofe da Beira Alta e Beira Baixa. No que respeita ao povoamento inicial da área que hoje alberga a freguesia de Manhouce, os vestígios arqueológicos são em grande número e permitem fazer remontar a épocas pré-históricas esse povoamento inicial. É o caso das cinco mamoas do sítio de Alto do Barro Vermelho. Apesar de terem uma cronologia indeterminada, revelam uma grande antiguidade. A primeira e segunda mamoas encontram-se no limite com Vale de Cambra e têm pequenas dimensões, sendo muito numerosos os elementos líticos recolhidos. A terceira mamoa era maior do que as anteriores e estava revestida de blocos graníticos e quartzo, tendo albergado, no passado, uma cista megalítica. A quarta, de pequenas dimensões, está bem conservada e também terá albergado em tempos uma sepultura tipo cista; e a quinta revela ainda a presença de dois dos esteios originais. O sítio arqueológico de Alto do Espinhaço é composto por duas mamoas pré-históricas. Superficialmente, as mamoas são constituídas por lajes e blocos de xisto e quartzo. Parecem ter definido uma estrutura tumular tipo "cairn”. O povoado fortificado de Calçadas foi habitado durante a Idade do Ferro. Um castro onde ainda são visíveis as muralhas que prolongam o afloramento granítico natural e que proporcionavam excelentes condições defensivas aos povos locais. Da Idade do Bronze é o sítio de arte rupestre das Corgas de Valongo da Grávia. No afloramento granítico, foram gravados vários motivos, de uma gramática afim da arte rupestre. No Juncal, foram descobertas quatro mamoas, construídas durante a Idade do Bronze, Calcolítico e Neolítico. A Ponte de Manhouce foi construída no período Romano, no âmbito da rede viária do Império. Ponte de um arco simples de volta inteira, assente directamente em alicerce de rocha emergente do leito e margens do rio, deve ter sido construída entre o século II a. C. e o séc.I d. C. integrando a Estrada Imperial, denominada por Via Cale, que ligava Emérita Augusta (Mérida) a Bracara (Braga), passando por Viseu. Articulada com esta ponte, estaria a Via do Campo das Eirós. Uma via de travessia de plataforma das Chãs, entre o campo das Eirós e as Minas das Chãs.
Sensivelmente a meio caminho, esta freguesia era local obrigatório de pernoita de recoveiros e almocreves que por lá passavam, ficando conhecida como “estrada dos almocreves”. Estabeleciam o intercâmbio sócio cultural entre as gentes do litoral e do interior, daí as características do seu traje tradicional existente e divulgado pelos grupos etnográficos de Manhouce.

O nome da freguesia parece estar relacionado com manhoça, derivado de manho – terra, baldio, mato inculto, que terá dado monhoce e, posteriormente, manhouce. Mas também há quem ponte para manho couço, visto que também existe uma povoação com a designação de Couço, que significa “ponto extremo”. Uma outra versão aponta ainda, para a derivação de amanhouce, que quer dizer “terra que foi amanhada”.

Assim seriam, com efeito, estas terras nos alvores da Nacionalidade ou após as guerras da Reconquista Cristã. Não se conhece a data exacta da instituição de Manhouce como freguesia. Através do Numeramento da População, de 1527, são referidas as seguintes povoações: Giestoso, com dois casais; Giestozinho, com um; Bondança, com um; Salgueiro, com três; Vilarinho, com quatro; Manhos, com três; Calçadas, com quatro; Sequeiro, com dois; e Sernadinha, com quatro. Relativamente ao património da freguesia, para além dos templos e dos edifícios senhoriais, temos o Museu Etnográfico de Manhouce, que reúne parte importante do passado das gentes da freguesia, passado esse corporizado pelo famoso Rancho Folclórico de Manhouce e mais tarde pelo Grupo Etnográfico de Cantares e Trajes de Manhouce.

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