Mensagem de Natal do Primeiro-Ministro - a essência de um regime cleptocrata
A mensagem de Natal de Luís Montenegro não foi neutra. Foi uma armadilha retórica para deslocar a responsabilidade do Governo para as pessoas. Segundo o Primeiro-Ministro, o país está bem e a economia cresce. Se não sentes isso na tua vida, se o salário é curto, o problema não é estrutural, é teu. Falta-te ambição. Falta-te “mentalidade de campeão”.
É aqui que a analogia com Cristiano Ronaldo se torna ofensiva. O modelo deste Governo não é quem segura o SNS ou a escola pública, é um multimilionário a jogar na Arábia Saudita, um regime autoritário que usa o desporto para lavar a sua imagem internacional. A mensagem é simples. Se ele conseguiu, tu também consegues. Ronaldo é a exceção absoluta. Usar uma exceção para julgar a vida de milhões de portugueses que trabalham, descontam e cumprem é profundamente desonesto.
Sete minutos de ladainha. Dizem que está tudo óptimo, mas quando chega à prática temos o menor aumento percentual do salário mínimo dos últimos anos e um ataque cerrado aos direitos laborais. Sinal claro de que a propaganda vive melhor do que as pessoas.
Enquanto vendem a ilusão do “país rico”, os números mostram onde fica a riqueza:
Jerónimo Martins: faturou 33,4 mil milhões € em 2024 (lucro: 599M€).
Sonae: cerca de 10 mil milhões € de volume de negócios (lucro: 223M€).
EDP: 801M€ de lucro.
Galp: 961M€ de lucro.
Banca: lucros recorde de 6,3 mil milhões €, à custa dos juros pagos pelas famílias.
A riqueza existe. A distribuição é que não. O “trickle-down” é uma mentira contada muitas vezes. A produtividade sobe, mas os ganhos ficam nos salários e prémios dos CEOs e nos dividendos, não nos salários de quem trabalha.
E sobre o essencial? Silêncio.
Ignorou as falhas graves no SNS, a habitação que esmaga vidas e ignorou a transparência. O mesmo Primeiro-Ministro que pede “mentalidade” opôs-se a revelar detalhes de 55 imóveis e lidera um Governo com um património conjunto de 20,9 milhões €, com três ministras a concentrarem mais de 11M€.
A distância entre quem governa e quem trabalha é abismal.
Esta mensagem não serviu para unir o país. Serviu para disciplinar. Para justificar desigualdade.
Para transformar problemas colectivos em culpas individuais.
1 comentário:
Entre as brumas da memória: "Montenegro e os Ronaldos"
https://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2025/12/montenegro-e-os-ronaldos.html
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