Fique a conhecer os animais e plantas eleitos neste ano que está a terminar, por investigadores e conservacionistas que trabalham com a biodiversidade em Portugal.
1. Abutre-preto (Aegypius monachus)

Com uma envergadura de asa que pode chegar aos três metros, este que é o maior abutre da Europa deu este ano sinais de expansão e de consolidação das colónias existentes em Portugal, refere Samuel Infante, membro da Plataforma de Defesa do Tejo Internacional. De facto, nas contas do projeto LIFE Aegypius Return, que trabalha para a conservação desta espécie, em 2025 contaram-se 119 a 126 casais em território português, um forte contraste com os 40 pares contabilizados em 2022.
Hoje conhecem-se cinco núcleos reprodutores: no Tejo Internacional, “que continua a ser a área de maior concentração da população da espécie”, no Baixo Alentejo (Herdade da Contenda), na Reserva Natural da Malcata, no Douro Internacional e ainda na Vidigueira/Portel (Alentejo). A descoberta desta última colónia, em julho de 2024, “veio dar esperança de que a espécie possa recuperar em pleno”, acrescenta Samuel Infante. Ainda assim, o futuro é ainda frágil: apenas metade dos casais com ovos no ninho conseguiram assegurar descendência, este ano, afetados entre outras ameaças pelos fogos do último verão.
2. Cagarra (Calonectris borealis)

Apesar das pressões que se fazem sentir sobre estas e outras aves marinhas, como é o caso das capturas acidentais em artes de pesca, a maior colónia mundial de cagarras, na Selvagem Grande, arquipélago da Madeira, continua a crescer, nota Joana Andrade. A coordenadora de conservação marinha da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves chama a atenção para um estudo científico publicado em janeiro passado, que analisou os resultados de contagens feitas entre 2009 e 2023 naquela ilha, e concluiu que ali nidificam atualmente cerca de 38.830 casais – um número que surpreendeu a equipa de investigadores.
Para o crescimento desta colónia contribuem várias medidas, como a aplicação de um regime de proteção estrita na Reserva Natural das Ilhas Selvagens (que inclui ainda a Selvagem Pequena, o Ilhéu de Fora e outros ilhéus adjacentes) e a erradicação total de coelhos e murganhos na Selvagem Grande.
3. Gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii)

A gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii) é outra das espécies que transmitiu um sinal de esperança ao longo de 2025, notam Joana Andrade, da SPEA, e Gonçalo Elias, ornitólogo e coordenador do portal Aves de Portugal. Esta ave marinha começou a nidificar em território nacional apenas no início do século XXI mas teve um crescimento surpreendente, empurrada por alterações que afetaram estas gaivotas junto ao Mediterrâneo.
Hoje, conta com uma população reprodutora de cerca de 7000 casais no Algarve, incluindo a maior colónia mundial da espécie, na ilha da Barreta, e uma colónia mais recente na ilha da Culatra, ambas na Ria Formosa. Gonçalo Elias considera que o projecto LIFE Ilhas Barreira (2019-2024) deu “um importante contributo para melhorar as condições de reprodução da gaivota-de-audouin no nosso país”. “Embora esteja classificada como Vulnerável a nível mundial, o recente aumento populacional permite ter esperança de que possa deixar de ser considerada ameaçada num futuro próximo”, conclui.
4. Insectos polinizadores

“O ano de 2025 foi um ano muito especial para o futuro da conservação dos insetos polinizadores em Portugal e deu-me um grande entusiasmo pelo que virá nos próximos anos”, afirma Hugo Gaspar, que se dedica à investigação nesta área. Em causa está um grupo grande com mais de 1000 espécies em Portugal, a maioria das quais abelhas selvagens, moscas-das-flores e borboletas diurnas, descreve. O investigador no FLOWer lab, grupo de investigação ligado à Universidade de Coimbra, lembra que se deram “passos importantes” neste último ano “para que possamos ter mais certezas e resultados” no que respeita à conservação destes insetos.
Em primeiro lugar, a publicação do Plano de Ação para a Conservação e Sustentabilidade dos Polinizadores, com um conjunto de medidas para melhorar o estado de conservação deste grupo em Portugal. Em segundo, foi também em 2025 que a União Europeia formalizou o compromisso de implementação do esquema de monitorização dos polinizadores, em linha com o Plano de Ação. Por fim, concluiu-se o projeto ARCADE, que melhorou o conhecimento e o estado das coleções de referência para o estudo dos polinizadores em Portugal. “Em conjunto, estas e outras ações trouxeram este ano muita esperança para este grupo de organismos, e os próximos anos assim o vão confirmar”, acredita Hugo Gaspar.
5. Lince-ibérico (Lynx pardinus)

O lince-ibérico, que nos últimos anos tem sido alvo de vários projetos de conservação que juntam Portugal e Espanha, é outra espécie que deu provas de esperança no ano que termina agora, apontam Samuel Infante, da Plataforma de Defesa do Tejo Internacional, e Francisco Álvares, cientista do CIBIO (Universidade do Porto), especializado em mamíferos.
O esforço de conservação desta espécie outrora à beira da extinção conseguiu o número de linces na Península Ibérica aumentasse para 2401 animais, foi anunciado em maio. Em novembro, foi anunciado um recorde de nascimentos nos centros de reprodução de Portugal e Espanha.
“É uma espécie icónica que foi considerada extinta em Portugal há pouco mais de duas décadas e actualmente apresenta uma população de mais de 300 indivíduos”, nota Francisco Álvares, lembrando que todavia este felino enfrenta ainda várias “ameaças sérias”. Desde logo, exemplifica, uma reduzida diversidade genética (com consequências na resistência a patologias), limitada disponibilidade de alimento (face à raridade do coelho-bravo) e mortalidade por causas humanas (por exemplo, atropelamentos e perseguição directa).
O investigador do CIBIO refere ainda outras espécies que também recuperaram em Portugal, “de forma extraordinária”, as suas populações nestes últimos anos. Exemplos? O corço, a cabra-montês, a águia-imperial e o abutre-preto. “Mas também estas espécies, enfrentam várias ameaças, muitas delas semelhantes às do lince-ibérico, por isso estes ‘sinais de esperança’ poderão ser atenuados se não houver esforços para a sua conservação efectiva”, alerta.
6. Saramugo (Anaecypris hispanica)

Este pequeno peixe de rios portugueses, em risco de extinção, surpreendeu recentemente os investigadores, lembra Filipe Ribeiro, cientista do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em 2025, um novo estudo conseguiu obter um conhecimento mais exato sobre a distribuição do saramugo. “Durante quase duas décadas, pensou-se que em cinco das 10 populações existentes em Portugal a espécie estaria localmente extinta, uma vez que ao longo deste tempo nunca foram capturados exemplares de saramugo”, explica Filipe Ribeiro. “Porém, através de um estudo baseado em DNA ambiental, realizado em 2023 e publicado em 2025, conseguimos detectar este peixe em todas as 10 populações portuguesas.”
Ainda assim, esses resultados não querem dizer que a situação do saramugo esteja melhor, ressalva o investigador, mas sim que “poderemos alocar esforços de monitorização, que entretanto tinha sido abandonada, e medidas de conservação, às populações que anteriormente tinham sido consideradas como perdidas”.
Para já, explica, são necessárias novas medidas para garantir um futuro ao saramugo, a longo prazo. “Deu-nos algum alento saber que a espécie ainda está nestes locais, porém é necessária uma monitorização dedicada e mais intensiva nestas populações, bem como medidas de melhoria de habitat e remoção de invasoras para a preservação desta espécie endémica da Península Ibérica.”
7. Tartaranhão-caçador (Circus pygargus)

“O aumento registado este ano no sucesso reprodutor do tartaranhão-caçador é bastante positivo, tendo em conta que, segundo os dados do primeiro censo da espécie realizado em Portugal em 2022-2023, esta ave se encontrava no limiar da extinção e, em Espanha, a situação também é bastante crítica”, refere Joaquim Teodósio, da organização não governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural e coordenador do projeto LIFE SOS Pygargus. Este ano, dos 251 ninhos desta espécie migradora que foram alvo de medidas de proteção, na Península Ibérica, 77% conseguiram assegurar pelo menos um juvenil voador. Ao mesmo tempo, atingiram-se 1,98 juvenis por casal nidificante, acima do limiar de viabilidade desta espécie.
8. Planta carnívora Utricularia subulata

A redescoberta da Utricularia subulata, uma planta carnívora que não era observada em Portugal desde 1967, é uma notícia esperançosa deste ano que passou, sublinha Sergio Chozas, ligado à Sociedade Portuguesa de Botânica. “De facto esta notícia dá nos esperanças de que algumas das espécies que foram dadas como extintas podem, de facto, andar ainda por aí, e também nos fazem lembrar da importância de continuarmos a fazer estudos e levantamentos da nossa flora”, sublinha este botânico, que é também investigador na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

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