“Os principais problemas detetados tem a ver com os consumos de água e das condições em que são gerados os efluentes vinícolas, originando fenómenos de poluição orgânica, com impacto nas comunidades aquáticas e na qualidade da água para consumo humano, a que se adicionam os problemas causados nas próprias ETARs municipais causados pela variabilidade/sazonalidade da sua produção”, esclarece Rui Cortes, membro do MovRioDouro e investigador da UTAD. “O impacto negativo dos efluentes vinícolas sente-se, quer ao nível da poluição dos cursos de água na proximidade das adegas pela falta generalizada de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) individuais adequadas, quer pelo efeito do mau funcionamento das ETAR municipais, vocacionadas para o tratamento de efluentes domésticos, muito menos poluentes e de composição muito diferente dos efluentes vinícolas”, acrescenta.
“É necessário utilizar muita água para fazer um bom vinho”
De grande importância para a fileira vitivinícola, o uso da água é fulcral na higiene e elaboração do vinho. As águas de lavagem utilizadas, resultantes das diversas operações que se realizam na adega, são fontes reais de poluição, mesmo que se considerem apenas os constituintes naturais das uvas e do vinho. Com efeito, a matéria orgânica presente nos efluentes vinícolas, assim que chega ao meio recetor, inicia a sua degradação, dando início a uma rápida multiplicação de microrganismos que usam o oxigénio dissolvido, introduzindo perturbações no equilíbrio biológico dos cursos de água.
Reconhecendo o impacto económico, social, cultural e ambiental da produção de vinho no Douro, o MovRioDouro apela a uma maior fiscalização, por parte das entidades competentes, e a um compromisso com a denúncia das más práticas pela classe política e pelas pessoas apreciadoras da região, do seu vinho e do seu rio.
“É necessário utilizar muita água para fazer um bom vinho e, no geral, as adegas de maior dimensão continuam sem dar grande atenção ao destino dos seus efluentes e resíduos sólidos, situação que se deve por um lado à falta de sensibilidade ambiental e ao desinteresse dos proprietários, motivados pela deficiente fiscalização e consequente impunidade da infração e, por outro lado, pela falta de conhecimento e preparação técnica dos responsáveis da adega na área dos efluentes. Esta questão assume, por isso, importância relevante dado o não cumprimento da legislação em vigor”, esclarece António Pirra, responsável pelo estudo.
Para o investigador da UTAD, “a fileira vitivinícola, como todos os outros setores, deve minimizar o seu impacto ambiental, adaptando as tecnologias de produção aos constrangimentos ambientais, como a redução dos consumos de água e da quantidade de efluentes, e introduzindo sistemas de tratamento de efluentes eficientes, adaptados às especificidades das adegas, nomeadamente no que respeita à sua pequena e média dimensão e ausência de mão-de-obra especializada”.
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