sábado, 22 de outubro de 2022

China a caminho de um país comunista com um ditador: Xi Jiping


“A característica mais notória do presidente cessante da China, Hu Jintao, é a sua monotonia. Nos seus 10 anos no poder apenas fez uma piada em público: sobre tinta para o cabelo.” Kerry Brown, professor de política chinesa na Universidade de Sydney, analisou assim num texto escrito em 2012 a saída de Hu Jintao do poder.

No final de 1988, Hu Jintao, então membro relativamente desconhecido do Partido Comunista, foi nomeado secretário do partido para o Tibete, região de tendência fortemente separatista. Nessa época eram rotineiras as manifestações populares naquele território contra o autoritarismo do governo central e da maioria Han. Com pulso firme, Hu comandou a região com sucesso - do ponto de vista do partido, - durante quatro anos, o que atraiu a atenção das elites de Pequim.

Hu Jintao esteve também ligado a um dos episódios mais negros da história do budismo tibetano: a morte do 11.º Panchen Lama, Choekyi Gyaltsen. Embora as circunstâncias em torno da morte da segunda figura mais importante do budismo tibetano, apenas atrás do Dalai Lama, não sejam claras, vários ativistas e dissidentes suspeitam que a sua morte tenha sido orquestrada por, entre outras figuras, o próprio Hu.

O seu mandato enquanto presidente foi, como referido anteriormente, marcado por um certo secretismo em torno do homem. Como considera o especialista em diplomacia e docente universitário Tiago André Lopes, Hu Jintao foi responsável por uma certa democratização do partido, procurando consensos com os restantes membros da elite partidária em vez de impor as suas decisões. A sua maneira de liderar contrasta em quase tudo com a de Xi Jinping, que, em 2018, conseguiu com sucesso eliminar o limite de dois mandatos imposto pela Constituição do país, abrindo o caminho para um inédito terceiro mandato.

A sua presidência coincidiu também com a ascensão social e económica de milhões de chineses. De acordo com dados do Banco Mundial, o PIB per capita da China subiu de 1.148 dólares em 2002, no início da sua presidência, para 6.300 dólares dez anos depois. Foi também com Hu Jintao que se deu o boom do desenvolvimento das linhas ferroviárias de alta velocidade, política com impactos significativos no desenvolvimento económico do país. Atualmente, a China tem a maior rede do mundo, com cerca de 40 mil quilómetros no final de 2021.

Ao nível da política externa, o governo de Hu Jintao procurou expandir a influência chinesa nos países em desenvolvimento, designadamente em África, através do empréstimo de milhares de milhões de dólares e financiamento de obras fundamentais. As relações com Taiwan também atingiram um ponto alto, culminando com a visita de várias delegações do Kuomintang, partido adversário do PCC na Guerra Civil, à China continental em 2005, facto inédito no pós-Segunda Guerra Mundial.

O legado de Hu Jintao corre agora o risco de desaparecer. A Belt and Road Initiative, lançada por Xi em 2013, esmaga todo e qualquer projeto do seu antecessor e a procura pelo consenso intrapartidário deu lugar à autoridade centrada num só homem.

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