Poucos temas arqueológicos aguçam mais a curiosidade e são mais debatidos entre a comunidade científica do que a extinção do “Homem de Neandertal” (Homo sapiens neanderthalensis) e a sua substituição pelo Homem Anatomicamente Moderno (Homo sapiens sapiens).
Pela sua situação geográfica no extremo ocidental da Europa, a Península Ibérica tem sido considerada como um possível refúgio para os últimos Neandertais, tendo sido, por isso, colonizada mais recentemente pela nossa espécie. Ao longo dos últimos 10 anos, poucas datações pelo radiocarbono das ocupações neandertais mais recentes têm confirmado uma persistência tardia do Paleolítico Médio (a fase cultural dos Neandertais) na Península Ibérica, o que relançou o debate sobre a possível coexistência dos dois grupos humanos neste extremo ocidental europeu, durante vários milénios.
O artigo agora publicado pela equipa de arqueologia do Côa na revista de referência Quaternary Research apresenta um estudo da sequência arqueológica de 5 metros de espessura da Cardina-Salto do Boi, um sítio de habitat ao ar livre do Vale do Côa. Nesta sequência estratigráfica foram obtidas 11 datas por Luminescência Opticamente Estimulada (OSL) que dataram as ocupações do Paleolítico Médio e Superior, preservadas em depósitos ali depositados pelo rio Côa.
Os resultados do estudo comprovam a presença de populações neandertais até há cerca de 39.000 anos nesta área do centro da Península Ibérica, já depois da chegada das primeiras populações modernas ao norte da Espanha. Com estas novas datas, estima-se que no Vale do Côa a transição entre as ocupações do Paleolítico Médio e as mais antigas atribuíveis ao homem moderno aconteceu entre há 34.000 e 38.400 anos atrás.
Os trabalhos na Cardina-Salto do Boi permitem desde já determinar que as populações neandertais viviam no vale desde há pelo menos 80.000 anos, podendo esta data vir a recuar com a datação em curso de níveis arqueológicos mais antigos.
Os dados agora publicados vêm fazer recuar a história do Vale do Côa, demonstrando a importância da região em momentos muito anteriores às primeiras gravuras rupestres. Os seus autores foram estas novas populações que chegaram à região entre há 34.000 e 38.400 anos.
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