Sítio Earth Condominium
Fazer do perigo o que salva, tal é o famoso lema imortalizado num grande poema de Hölderlin. É a aceitação desse repto o que encontramos nesta obra do jurista e ambientalista Paulo Magalhães, sob a forma de um duplo desafio.Desafio para o pensamento, na medida em que o autor nos propõe um olhar renovado sobre o sistema internacional, sobre a relação entre Estados e sistemas políticos, face ao desafio da crise global do ambiente. Desafio para a acção, pois este livro não nos ilude quanto à urgência das tarefas políticas, jurídicas e económicas que temos de levar a cabo, se quisermos evitar o colapso de uma civilização que tarda em compreender que o único modelo para as sociedades humanas se relacionarem duradouramente com os ecossistemas não é o da dominação, mas sim o da habitação.As alterações climáticas são o factor catalisador da crise global do ambiente, simultaneamente da sua centralidade e da sua visibilidade para o cidadão comum, que a entrada em cena da tecnociência como principal acelerador da história moderna transformou na realidade incontornável, na questão axial do nosso tempo, na causa definitiva da nossa época.Paulo Magalhães explora, com ousadia intelectual, um caminho de analogia teórica. E se pensássemos a Terra como um imenso condomínio? Se em vez de uma crepuscular soberania absoluta, que apenas sobrevive ainda nas páginas envelhecidas de Jean Bodin e Hugo Grotius, colocássemos a possibilidade de uma soberania complexa ? Se em vez duma ordem jurídica e política que fecha os olhos perante a autofagia da nossa morada planetária por uma economia predadora e ruinosa, erguêssemos os alicerces de uma economia de simbiose e solidariedade? Se em alternativa a uma visão territorial de justiça, fôssemos capazes de nela integrar a responsabilidade pelo tempo e pelas gerações futuras? Partindo da inspiração de grandes pensadores, clássicos e contemporâneos, mas avançando sempre no fio articulado de uma reflexão amadurecida e comprometida pelo seu próprio percurso de vida e pensamento, Paulo Magalhães abre, neste ensaio, uma janela de luz e esperança para todos aqueles que não se resignaram à condição de sermos a primeira geração, à escala global, a quem o futuro ameaça ser roubado.
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