domingo, 2 de outubro de 2022

Sabotagem Nordsteam e os impactos ambientais


A sabotagem dos pipelines Nordstream 1 e 2 cortou brutalmente o cordão umbilical energético da Alemanha com a Rússia. Parece óbvio para todos de que se trata de terrorismo com origem num "ator estatal", como disseram de imediato os responsáveis dinamarqueses e suecos. Inevitavelmente, Zelensky acusou a Rússia. Mas esse reflexo de Pavlov carece de justificação.

Seria totalmente irracional que Moscovo destruísse não apenas uma copropriedade onde investiu 475 mil milhões de rublos, mas, sobretudo, seria absurdo que anulasse o seu instrumento principal de pressão contra as sanções da UE. Sem pipelines, Moscovo e Berlim ficam em mundos paralelos.

O jornal ECO noticiava que num tweet, Radoslaw Sikorski - ex-Ministro da Defesa e ex-MNE polaco, eurodeputado do PPE, e um peso pesado na política global -, agradeceu aos EUA os danos causados aos pipelines russos. Noutro tweet, Sikorski explicava que os "danos no Nordstream reduzem o espaço de manobra de Putin. Se quiser retomar o fornecimento de gás à Europa, terá de conversar com os países que controlam os gasodutos Brotherhood [Ucrânia] e Yamal [Polónia]".

O "agradecimento", gravemente acusatório a Washington, vindo de um seu fã incondicional, apenas o compromete a ele. Contudo, revela também como os demónios europeus estão à solta. O ódio à Alemanha, e não apenas à Rússia, faz hoje parte integrante da política oficial em Varsóvia, como ficou demonstrado no renovado pedido a Berlim por indemnizações pelas perdas da II Guerra Mundial.

A UE, que alguns adeptos do Dr. Pangloss consideram mais forte e unida do que nunca, recebe hoje sinais de menosprezo das chancelarias por esse mundo fora. Com a CE de Von der Leyen, a "Europa Alemã", que segundo o malogrado Ulrich Beck resultou da gestão da crise do euro por Angela Merkel, está febril. Para merecer respeito em política é preciso conhecer os seus interesses cruciais. E saber defendê-los. A resposta europeia à invasão russa da Ucrânia foi desmesurada, ignorou completamente interesses e fragilidades, curvando-se num servilismo acrítico perante Biden. A coligação de Berlim destruiu, de um golpe, os alicerces de uma UE liderada pela Alemanha: segurança de abastecimento energético; estabilidade do euro; alguma (frágil) capacidade de manobra dentro da NATO. Sem estratégia e à deriva, os próximos meses dirão até que ponto é que a estrada de autoflagelação europeia terá alguma margem de mitigação.[Viriato Soromenho Marques]



What environmental-climate impact will the Nord Stream accident have?
How are natural disasters classified, such as Nord Stream?

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Choca-me a sabotagem pelo impacte ambiental e ela também interessa a Putin, só não vês quando não se quer ver, que eu me lembro nunca a Rússia defendeu a Europa livre, primeiro foi aliada de Hitler e só depois de invadida se defendeu e a desconfiança russa sobre a europa já é visível em Dostoievski, um dos meus escritores preferidos e é milenar na igreja ortodoxa para com o ocidente cristão.
Não tenho dúvida que entre me aliar a uns EUA, com muitos defeitos, ou a uma pseudemocracia onde escrever artigos contra o Presidente e a sua estratégia de guerra dá cadeia, para não dizer outras coisas, prefiro a liberdade defeituosa do ocidente.
Há vários anos li Timothy Snyder, a invasão russa só apanhou desprevenidos quem não queria ver, o amigo de Putin que estava na presidência também deu uma ajuda

João Soares disse...

Sem dúvida, Carlos. É milenar esse "ódio" ao ocidente por parte da Rússia. A força liderante deve ser a Europa, a não ser que queiramos entregar à China o governo do mundo. A China é muito importante para o governo do mundo, mas o governo do mundo deve pertencer a nós todos. Há que aprofundar o Tratado de Lisboa.
Abraço