Ser mulher na Ciência. 10 rostos que lutaram para mudar o mundo
MARIA MOREIRA RATO 11/02/2022
Apesar do enorme contributo das mulheres para o desenvolvimento da Ciência, foram sempre os homens que dominaram esta área do conhecimento. No Dia das Mulheres e Raparigas na Ciência, o i conta-lhe as histórias de dez cientistas que não se resignaram perante a desigualdade de género.
Marie Curie
Nascida na Polónia oitocentista, Maria Salomea Skłodowska era a mais nova de cinco irmãos, tendo crescido no seio de uma família que perdera propriedades e passara a esforçar-se por saldar as dívidas e viver com o mínimo conforto.
Depois de ter trocado a Polónia por França e ter casado com Pierre Curie, sendo mãe de duas raparigas, tornou-se a primeira mulher a lecionar na Universidade de Paris.
Naquela instituição, estudara Física, Química e Matemática, vindo o seu trabalho a ser aclamado por ter encetado uma investigação pioneira na radioatividade e descoberto os elementos rádio e polónio. Ganhou o Prémio Nobel de Química de 1911 por essa descoberta – oito anos antes, havia sido galardoada com o Prémio Nobel da Física.
Katherine Johnson
Nascida numa pequena cidade no estado norte-americano da Virgínia, em 1918, acabou o ensino secundário aos 14 anos e licenciou-se aos 18. “Contava tudo. Contava os passos na rua, os passos na igreja, a loiça que lavava... tudo o que podia ser contado, eu contava”, explicou. Trabalhou como professora e foi dona de casa até ser recrutada como matemática pelo antecessor da NASA, o Comité Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica.
Calculou a trajetória das primeiras missões espaciais da NASA e mapeou a superfície da Lua antes da aterragem da Apollo 13, em 1969. A mulher negra que não cruzou os braços perante a segregação racial e o machismo perdeu a vida a 24 de fevereiro de 2020, com 101 anos.
Rosalind Franklin
A experiência realizada por Rosalind Franklin resultou na descoberta da estrutura do ADN e no Prémio Nobel da Química de 1962. A segunda de cinco filhos de uma família judia nasceu em julho de 1920 em Notting Hill, Londres, e sempre soube que queria ser cientista.
Em 1938, à revelia dos pais - que queriam que trabalhasse como assistente social -, inscreveu-se na Universidade de Cambridge. Lá, conheceu Bill Price, que se tornaria seu colega na King’s College de Londres e Adrienne Weill, refugiada francesa e ex-aluna de Marie Curie.
Sofrendo de cancro do ovário, morreu aos apenas 37 anos, tendo conseguido antes obter financiamento para manter a sua equipa por mais três anos através do estudo da poliomielite.
Elvira Fortunato
Em março de 2021, duas semanas depois de ter vencido o Prémio Pessoa 2020, a engenheira Elvira Fortunato foi distinguida com o WFEO GREE Award Women 2020, o maior prémio internacional de Engenharia que premeia o trabalho desenvolvido por mulheres engenheiras em todos os países.
A candidatura da cientista de 56 anos foi apresentada pela Ordem dos Engenheiros (OE), que é membro conselheiro desta associação profissional. A também professora catedrática foi a vencedora entre mais de duas dezenas de concorrentes.
A 8 de junho de 2010, a vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa já havia sido agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Maria Mota
Investigadora especialista em malária do Instituto de Medicina Molecular – IMM (do qual é atualmente diretora), em Lisboa, licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Terminou a tese de doutoramento na University College de Londres, em 1998, e fez o pós-doutoramento na New York University Medical Center, em 2001, onde também exerceu funções enquanto docente.
Aos 50 anos, estuda a malária no Instituto Gulbenkian de Ciência, sendo que terá decidido estudar esta doença quando viu uma fotografia do parasita que causa Leishmaniose num livro. Em dezembro de 2013, aos 42 anos, tornou-se a pessoa mais nova de sempre a receber o Prémio Pessoa.
Vera Rubin
Pioneira no estudo das curvas de rotação de galáxias espirais, passou pelo Vassar College e pelas Universidade Cornell e Universidade de Georgetown, nos EUA, não tendo recebido qualquer resposta por parte de Princeton por esta instituição não receber estudantes do género feminino em determinados programas.
Em 1954, defendeu a tese de doutoramento e revelou que descobrira que as galáxias se aglomeravam e não se distribuíam aleatoriamente pelo universo. Morreu aos 88 anos, a 25 de dezembro de 2016, tendo sido galardoada com a Medalha Nacional de Ciências (1993) ou o Prémio Weizmann de Mulheres na Ciência (1996). Ficou também conhecida por ter percebido que as galáxias devem conter uma quantidade significativa de matéria escura.
Barbara McClintock
Nascida no estado norte-americano do Connecticut no ano de 1902, foi laureada com o Prémio Nobel da Medicina de 1983 por ter descoberto elementos genéticos móveis em plantas. Tal se deveu ao facto de, na década de 40, Barbara ter realizado experiências com variantes de milho e descoberto que “a informação genética não era imóvel” e que os genes podem “ligar” e “desligar” a manifestação física de certos fenótipos.
Licenciou-se em Botânica na Faculdade de Agricultura da Universidade Cornell e fez um curso de pós-graduação em genética na Universidade Cornell, em 1922. Exerceu funções enquanto líder e investigadora no Cold Spring Harbor Laboratory em Long Island, Nova Iorque, depois de ter ganho o Nobel. Morreu aos 90 anos de causas naturais.
Rita Levi-Montalcini
O pai não a encorajava a seguir para o ensino superior por temer que tal acabasse por perturbar a sua vida como mãe e esposa, no entanto, entendeu que Rita estava determinada a tirar Medicina. Terminou o curso em 1936, mas ficou na Universidade de Turim a desempenhar o cargo de assistente do professor Giuseppe Levi, que compreendera desde o início do percurso de Rita que esta gostava particularmente de saber mais sobre o desenvolvimento do sistema nervoso.
Ganhou o Prémio Nobel da Medicina, em 1986, por ter descoberto uma substância do corpo que estimula e influencia o crescimento de células nervosas. Assim, contribuiu para que se soubesse mais sobre as doenças de Alzheimer e Huntington.
Dorothy Hodgkin
A química inglesa é conhecida por ter descoberto a cristalografia de raios-x, mas descobriu a estrutura da insulina, a da penicilina - que Ernst Boris Chain e Edward Abraham haviam estudado antes - e a da vitamina B12. Deste modo, tornou-se a terceira mulher a ganhar o Prémio Nobel da Química, em 1964.
Sabe-se que Dorothy ingressou numa unidade da Universidade de Oxford que recebia exclusivamente estudantes do género feminino, em 1928, e em 1937 concluiu o doutoramento na Universidade de Cambridge. Foi nesta instituição que iniciou o estudo da estrutura das proteínas e determinou a estrutura da vitamina B12 anteriormente mencionada. Casou com o historiador Thomas Lionel Hodgkin e morreu aos 84 anos em 1994 vítima de um AVC.
Chien-Shiung Wu
Tendo recebido alcunhas como “Primeira Dama da Física”, “Madame Curie da China” ou “Rainha da Investigação Nuclear”, estudou numa escola feminina fundada pelo pai, na China. Em 1929, foi admitida na Universidade Central Nacional, em Nanjing, e estudou Matemática.
No entanto, sempre admitiu que se interessava mais pela área da Física. Trabalhou no Projeto Manhattan, ajudando a criar o processo de separação do urânio em urânio-235 e urânio-238 por difusão gasosa, mas também levou a cabo a chamada “Experiência de Wu” que contradizia o hipotético princípio de conservação de paridade, conseguindo definir operacionalmente as direções esquerda e direita sem referência ao corpo humano. Morreu em Nova Iorque, em 1997, aos 84 anos.
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