segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Poema decrescentista

Sophia na casa da Travessa das Mónicas, 1964. Fotografia de Eduardo Gageiro


Poema inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen que, não tendo sido escrito como libelo decrescentista, enuncia alguns dos princípios e valores duma ética da frugalidade e da suficiência (fonte):

Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa.
Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal.
Quero comer devagar e gravemente como aquele que sabe o contorno carnudo e o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com ela.
Não quero possuir nem dominar porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a fidelidade ao estar terrestre.
O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser.
Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário.
Dai-me a limpeza de que não haja lucro.
Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo.
Chegou o tempo da nova aliança com a vida.

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