Passado e Hoje. Old and Today, Julho de 2017- por João Soares
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As lições a retirar
do colapso de civilizações no passado
Chassez le naturel, il revient
au galop!
(Expulse o
natural, ele volta a galope!)
O discurso proferido sobre as
alterações climáticas em curso, o aquecimento global, pode incutir uma crença
que é a vingança ou a revolta da natureza contra a artificialidade crescente do
ambiente criado pelos seres humanos e que o natural se reafirma com força por
meio das catástrofes. Furacões, ciclones, tornados, inundações e secas
mostrariam haver uma natureza "lá fora", de cujos ciclos o homem se
faz vítima. No entanto, como Jared Diamond defende no seu livro “Colapso”,
parece mais razoável pensar de outra forma: humanos, não-humanos, atmosfera,
oceanos integram-se num nível sistémico, intrincado, complexo. É o facto que o
efeito-estufa ilumina. Não há vingança, e sim, revelação definitiva da quase
organicidade da relação do homem com o meio.
O "natural" é modificar
o ambiente. Como bem frisou Richard Lewontin em “A Tripla Hélice”, qualquer
espécie de ser vivo, ao utilizar recursos escassos do ambiente e devolvê-los em
formas que não podem ser utilizadas novamente por indivíduos da própria
espécie, está a modificar o ambiente de forma "natural". Nada mais
comum que comer, e nada mais ilustrativo da destruição micro-operada por cada
célula viva: o metabolismo transforma comida em restos, produtos a serem
excretados.
No entanto, há algo de peculiar
no "terceiro chimpanzé", o Homo
sapiens, desde que ele "desenvolveu a inventividade, a eficácia e as
habilidades de caçador há uns 50 mil anos". A colonização humana de qualquer grande
extensão de terra virgem sempre foi seguida de enorme impacto ambiental: derrube
de florestas, extinção de grandes animais "que evoluíram sem temer os
seres humanos e foram facilmente abatidos, ou que sucumbiram à mudança de
habitat, introdução de espécies invasoras e doenças trazidas pelo homem".
A mesma história se repetiu na Austrália, na América do Norte, na América do
Sul, em Madagáscar, nas ilhas do Mediterrâneo, no Havai, na Nova Zelândia e em
diversas outras ilhas do Pacífico. Segundo Diamond, descobertas recentes de
arqueólogos, climatólogos, historiadores, paleontólogos e palinologistas
(especialistas em pólen) têm confirmado a suspeita de suicídio ecológico não-intencional
por parte das sociedades que entraram em colapso.
Mas o autor não crê num cenário
apocalíptico de extinção da humanidade ou da civilização industrial. "Tal
colapso pode assumir diversas formas, como a disseminação mundial de doenças ou
de guerras provocadas pela escassez de recursos naturais". Na sua
"estrutura de cinco pontos" de possíveis factores capazes de
contribuir para um colapso, quatro - danos ambientais, alterações do clima,
vizinhança hostil e parceiros comerciais corruptos - "podem ou não se
mostrar significativos para uma determinada sociedade. O quinto factor- as
respostas da sociedade aos seus problemas ambientais - sempre se mostrou
significativo".
Fica também implícito, no que
Diamond diz, que confiar em tecnologias capazes de salvar o mundo é uma
abordagem temerária. Das civilizações que entraram em colapso no passado e as
que correm risco de entrar no presente, muitas dispunham de sofisticados
aparatos tecnológicos para os padrões de seu tempo. No seu livro demonstra que
as civilizações que ainda perduram, região a região, ilhas ou países foi devido
ao facto de encontrarem soluções de eficiência que muitas delas passam por uma
cultura e atitude de conservação dos recursos naturais e de precaução por parte
dessas populações. Também não se deve entregar às indústrias, às empresas, às
escolas, aos tribunais, à academia e/ou ao governo como os únicos que se
comprometam a mudar de atitude: "nós, o público, temos a responsabilidade
final".
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