Se estivesse vivo, Saramago faria 100 anos.
Assinala-se esta quarta-feira o centenário do nascimento de José Saramago (1922-2010), o primeiro e único Nobel da Literatura português (e da língua portuguesa), um militante construtor de alegorias políticas que foi, no seu próprio país, tão polémico quanto reverenciado.
A que estamos obrigados para connosco mesmos e para com aqueles que nos sobreviverão, os sujeitos e as organizações do nosso tempo? Além de afirmar os seus inegáveis direitos, o que devem fazer os grupos económico-empresariais, as associações civis, as comunidades religiosas, os meios de comunicação, os partidos políticos ou os indivíduos concretos que habitam a Terra? Para lá de desesperanças e possibilidades individuais de realização, a que deveríamos, cada um de nós, estar obrigados, em função das nossas circunstâncias, capacidades e possibilidades, para connosco, os outros, a nossa comunidade, o nosso sistema de governo ou o espaço em que habitamos? O facto de uma ou muitas pessoas o saberem não é suficiente para encetar acções na direcção correcta. É necessário dizê-lo, afirmá-lo, comprometermo-nos, para que as coisas comecem a caminhar nessa direcção. Tal como há anos se vem apregoando a necessidade de que cada um se reconheça como sujeito pleno de direitos e seja capaz de compreendê-los e exercê-los, também é necessário que, através de um exercício de educação cívica, se discutam os deveres e as obrigações que tais titularidades implicam.
Este é, finalmente, o objecto desta proposta: ajudar-nos a tomar consciência de que a nossa condição humana passa, desde logo, pela plena titularidade dos direitos que admitimos como inatos a todos os seres humanos, mas também pela aceitação de deveres, obrigações e responsabilidades para connosco e para com os outros. Como expressado por José Saramago num dos discursos que pronunciou aquando da entrega do Prémio Nobel de Literatura em 1998, fazendo referência ao 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
"Foi-nos proposta uma Declaração Universal de Direitos Humanos, e com isso julgámos ter tudo, sem repararmos que nenhuns direitos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem, o primeiro dos quais será exigir que esses direitos sejam não só reconhecidos, mas também respeitados e satisfeitos. Não é de esperar que os Governos façam nos próximos cinquenta anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra e a iniciativa. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa começar a tornar-se um pouco melhor." in Carta dos Deveres e das Obrigações dos Seres Humanos
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