Substâncias poluentes químicas estão a acumular-se nos solos e culturas agrícolas em níveis potencialmente perigosos para os ecossistemas e a saúde pública em vários países africanos.
A revelação é feita por uma investigação publicada este mês na revista ‘New Contaminants’, na qual um grupo de cientistas da China, do Quénia e da Rússia alerta para altas concentrações de ácido perfluorooctanossulfónico (PFOS), integrado na categoria dos poluentes persistentes conhecidos vulgarmente como “químico eternos” devido à sua resistência à degradação, em países como Gana, África do Sul, Quénia e Uganda.
Embora digam que o uso de PFOS tenha sido abandonado em muitas partes do mundo, os investigadores apontam que contaminação histórica, atividades industriais ainda em curso, o processamento de resíduos eletrónicos e descargas de águas residuais, por exemplo, continuam a introduzir essas substâncias nos solos agrícolas africanos.
“O nosso objetivo era chamar a atenção para um desafio ambiental silencioso que tem amplamente passado despercebido em África”, diz, citado em comunicado, Bonface Oginga, primeiro autor do estudo.
“O solo e os sistemas vegetais que suportam a produção de alimentos estão já sob stress. A presença de PFOS acrescenta ainda mais uma camada de pressão que os países não estão devidamente equipados para monitorizar ou gerir”, acrescenta.
A equipa refere que em alguns dos países estudados as lamas resultantes do tratamento de águas residuais contêm altos níveis de “químicos eternos”, pelo que, quando são usadas como fertilizantes agrícolas, esses poluentes entram nas culturas e nos alimentos produzidos. E, a partir daí, podem chegar às populações humanas.
“Compreender como é que os PFOS entram no solo e nas plantas é essencial para avaliar os riscos para as comunidades que dependem da agricultura local”, salienta Fredrick Owino Gudda, coautor do artigo.
No que toca aos impactos ecológicos, os cientistas indicam que a exposição aos PFOS pode afetar as comunidades de microrganismos que vivem e sustentam o bom funcionamento dos solos e interferir negativamente na absorção de nutrientes por parte das plantas. Em regiões onde os solos são já pobres em nutrientes essenciais para as plantas, como fósforo e nitrogénio, a produtividade agrícola pode ser ainda mais reduzida.
Assim, os investigadores apelam aos governos africanos e às respetivas agências ambientais que expandam os seus esforços de monitorização, que adoptem tecnologias avançadas de análise e que reforcem os regulamentos para combater os “químicos eternos”. A par de tudo isso, é imprescindível, argumentam os autores, investir na investigação científica.
“Ao fortalecerem a monitorização, a regulamentação e a investigação, os países africanos podem proteger melhor os seus solos, culturas agrícolas e comunidades face aos riscos de longo-prazo resultantes dos PFOS”, sublinha Chao Qin, que também assina este trabalho.

Sem comentários:
Enviar um comentário