segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

E 2022? Por Luís Vicente

E 2022?
Amanhã será a primeira segunda-feira do novo ano.
Enganadas pelo clima, as roseiras do meu quintal teimaram em florir ao longo de todo o mês de Dezembro.
As aves marinhas mediterrânicas continuarão a nidificar alegremente no Atlântico norte e as do Atlântico norte a aproximarem-se cada vez mais do Árctico.
Neste meu Alentejo desgraçado, olival e amendoal intensivos continuarão em expansão aterradora.
Chamam-lhes aqui, os seus proprietários, “olival sustentável” e “amendoal sustentável”. Só se for porque os sustenta a eles. Se não fosse triste dava vontade de rir.
A EDIA continuará a desviar as águas do Alqueva para estes “sustentáveis”, tirando-a aos pequenos e médios agricultores. A EDIA continuará a transvasar água do Guadiana para o Sado promovendo a contaminação genética entre duas bacias biogeograficamente separadas há muitos milhares de anos. Que se lixe a biodiversidade!
Com a miragem de nunca baixar os lucros, agora com a desculpa esfarrapada do “ambientalismo”, continuarão a promover-se os veículos eléctricos. Para carregar as suas ávidas baterias de lítio electrificam-se cada vez mais as cidades. Toneladas e toneladas de fio de cobre que nada têm de sustentável.
Continuarão a achar que a energia solar é a panaceia para os gases com efeito de estufa. E as toneladas de metais raros utilizadas no fabrico dos paineis solares? Qual o custo ambiental e humano da sua extração e do seu processamento?
E a eólica? Quantas toneladas de alumínio na construção de uma torre eólica?
Insistem que a carne de vaca é boa para a saúde. Mas esquecem que a pecuária é responsável por 18% dos gases com efeito de estufa. Comam feijão. É saudável e não mata o clima.
E matam florestas tropicais e subtropicais para a soja das rações.
E o clima?
Aumentará a frequência de fenómenos imprevisíveis. Nevões, tufões, cheias, ondas de calor. Por cá, fogos em florestas que há muitas décadas que não são florestas mas matas tristemente desordenadas.
E os gelos do Árctico continuarão a derreter, inexoravelmente.
Crime atrás de crime, a dicotomia é e será lucro versus ambiente… e ganhará o lucro.
E pandemias? Descansem, outras virão cada vez com mais frequência. Lucrarão as farmacêuticas.
Uma pandemia é sempre um bom motivo para domesticar a malta e para culpar a malta.
Querer-nos-ão consumidores olímpicos e acríticos, bem domados para adquirirmos as futilidades que nos impingem. Quem lucra?
No fim, se lá chegarmos, muito fogo de artifício. Morrerão milhares de animais, uma boa parte simplesmente de susto, ou seja, ataque cardíaco, outra parte serão as crias abandonadas pelos pais que desertam em pânico. E os miúdos autistas entrarão em descompensação.
Depois os fofinhos dirão que estamos à beira do abismo e darão abracinhos à Greta.
Como já o fiz em 2021, passarei o ano a explicar aos meus estudantes que não, que não estamos à beira do abismo. Sim, já estivemos nas décadas de 70 e 80 do século passado. Mas já demos o passo em frente. Agora estamos em queda livre. Sem rede.

Sem comentários: