Durante séculos, as cidades encontraram formas inteligentes de combater o calor. Em alguns casos, plantavam árvores ou construíam fontes públicas; noutros, usavam as igrejas como espaços de acolhimento ou aproveitavam a soleira das portas. A imaginação levou algumas comunidades a idealizar práticas simples, como o uchimizu, no Japão, o acto de lançar água ao chão para arrefecer o ar por evaporação.
Hoje, as consequências das temperaturas extremas são cada vez mais visíveis e dramáticas. Segundo um estudo publicado na revista PLOS Medicine, 4,6 milhões de pessoas morreram devido a ondas de calor nas últimas três décadas. Só em 2023, estima-se que mais de 47 mil pessoas tenham morrido na Europa por causas relacionadas com o calor, 1.432 delas em Portugal, de acordo com investigação do ISGlobal publicada na Nature Medicine. Os idosos, as crianças, as pessoas em situação de vulnerabilidade social e os que vivem em zonas densamente urbanizadas são os mais afetados. Portugal surge mesmo entre os 20 países mais atingidos por ondas de calor nos últimos 30 anos. Há dias, o Público falava de stress térmico extremo.
Perante esta ameaça crescente, várias cidades estão a implementar soluções práticas e urgentes. Estações de arrefecimento (cooling stations) e hidratação, espaços temporários ou permanentes onde as pessoas podem descansar, encontrar sombra, aceder a água fresca ou mesmo a ar condicionado, estão a multiplicar-se em locais como Paris, Chicago, Nova Iorque, Tóquio, Tirana e Miami.
Nova Iorque, por exemplo, abre centenas de centros de arrefecimento durante as vagas de calor, identificáveis num mapa online.
Os fenómenos de calor excessivo vão repetir-se e intensificar-se. Os governos, as autarquias e as instituições locais têm de assumir a liderança desta adaptação, pois, lamentavelmente, não parece haver condições para mitigar o problema. É urgente criar planos de contingência para o calor extremo nas cidades portuguesas
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