“O som do vento nos pinheiros não mudou desde o passado, mas as formas dos homens de hoje são tristes de se ver.”
Saigyō e sua obra Sankashū
Saigyō (1118–1190) foi um dos mais célebres poetas japoneses do período Heian tardio e início do período Kamakura. O seu nome completo era Saigyō Hōshi, sendo "Hōshi" um título budista que indica sua condição de monge. Ele nasceu como Satō Norikiyo, numa família de samurais ligada à corte imperial, mas renunciou à vida mundana aos cerca de 23 anos para se tornar monge budista, adoptando uma vida de reclusão e contemplação da natureza.
Vida e Influências
Saigyō viveu durante uma época de grande transformação social e política no Japão, com a ascensão da classe guerreira (samurais) e o declínio da aristocracia cortesã. Essa tensão entre o mundo secular e o espiritual está presente nos seus poemas. Embora fosse monge, a sua poesia revela um forte apego ao mundo natural, com emoção humana intensa e sensível.
Ele é muitas vezes visto como um precursor do ideal estético japonês chamado yūgen (幽玄), que valoriza o mistério e a profundidade subtil, e do sentimento de sabi (寂), ligado à solidão, simplicidade e beleza melancólica.
Sankashū (山家集) – "Coleção da Montanha e da Cabana"
O Sankashū, literalmente "Coleção da Montanha e da Cabana", é a principal antologia poética de Saigyō, reunindo cerca de 1.550 poemas do tipo waka (poemas curtos de 31 sílabas na métrica 5-7-5-7-7).
Temas principais:
- Natureza e estações do ano – Flores de cerejeira, neve, luar, pinheiros, montanhas e rios são frequentes. A natureza é vista como espelho das emoções humanas.
- Solidão e retiro – A vida isolada nas montanhas como forma de busca espiritual e de contemplação estética.
- Impermanência (mujō) – A transitoriedade da vida, inspirada pelo budismo, especialmente pela escola da Terra Pura (Jōdo-shū), muito influente na sua época.
- Conflito entre o mundo e o caminho espiritual – Apesar de ser monge, Saigyō frequentemente lamenta os seus apegos emocionais e estéticos ao mundo.
Legado
Saigyō influenciou profundamente a poesia japonesa posterior, incluindo poetas como Bashō, o mestre do haicai no século XVII, que via em Saigyō um modelo ideal de poeta viajante e contemplativo. Sua obra continua sendo estudada e admirada pela sua beleza lírica, sua profundidade espiritual e sua capacidade de unir estética e religiosidade.

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