domingo, 8 de agosto de 2021

Padre Himalaia: o português que criou a energia solar e uma máquina que fazia chover


Poucos portugueses causaram tanta sensação no mundo das invenções como o Padre Himalaia. Entre outras descobertas, maravilhou o mundo com o seu pirelióforo, um aparelho gigantesco que conseguia aproveitar a energia solar para fundir rochas ou metais. Terá sido um dos primeiros no mundo a fazê-lo, embora não com a intenção de produzir eletricidade, tal como hoje se faz.

O padre Hiamalaia foi um inventor revolucionário português e ganhou o grande prémio da exposição universal de St. Louis, nos Estados Unidos. O seu sucesso foi de tal ordem, que, recusadas todas as tentativas de compra, o colossal aparelho acabou por ser roubado, para nunca mais aparecer. E, no entanto, hoje poucos conhecem esta invenção e o seu criador.

Mas vamos por partes. A exposição universal de St. Louis, em 1904, foi a maior, mais dispendiosa e grandiosa até então. E nessa mesma exposição todas as atenções se centraram numa invenção portuguesa, que foi coberta de prémios. Essa invenção era o pirelióforo, um aparelho colossal, com 13 metros de altura, 80 metros quadrados de parábola, e 6177 espelhos.

Pirelióforo do padre himalaia

Pirelióforo


Este aparelho usava a luz solar, concentrando-a e multiplicando-a por forma a atingir temperaturas elevadas, na ordem dos 3800ºC, sendo capaz de fundir qualquer metal ou rocha sem dispêndio de energia. O sistema era inovador, especialmente num contexto em que numerosos ramos da indústria procuravam opções por energias renováveis e limpas.

Este prodígio foi criado por Manuel António Gomes, conhecido como “padre Himalaia”. A sua participação na exposição universal só foi possível graças ao apoio de mecenas que ele angariou, já que o Estado Português decidiu contribuir apenas com “apoio moral”. O júri internacional atribuiu o primeiro lugar ao seu invento, bem como duas medalhas de ouro e uma de prata aos financiadores do projeto. A notícia foi destaque nos jornais norte-americanos, e o padre Himalaia passou ainda longos meses nos Estados Unidos, partilhando as suas descobertas em numerosas palestras.

Diz-se que, ainda durante a exposição, o inventor rejeitou várias ofertas para o seu invento, com os japoneses a chegarem aos 350 contos pelo aparelho. Ainda o invento tinha acabado de ser montado, e já um “sindicato de capitalistas” queria construir uma vedação à volta deste, de modo a obrigar quem o quisesse ver a pagar bilhete, algo que o padre Himalaia também recusou. Pensa-se que o sucesso do aparelho e a recusa do inventor em vendê-lo levaram ao seu roubo, apesar das suas dimensões.

Depois de tantos anos de pesquisa, o desaparecimento do pirelióforo deve ter sido um golpe de peso para o inventor, que nunca mais se dedicou ao invento. Não muitos anos depois, começaram a surgir, nos Estados Unidos, réplicas de pequena dimensão da máquina criada pelo padre Himalaia, com o mesmo funcionamento, mas usadas para fins distintos.
Pirelióforo
Pirelióforo


Mas o pirelióforo não foi a única invenção de Manuel António Gomes, que registou dezenas de patentes em variados países. Começou as suas pesquisas observando a natureza e tentando criar um adubo universal, com base nas trocas químicas que produzem azoto naturalmente na atmosfera.

Com a ajuda de mecenas, conseguiu ir aprofundando os seus conhecimentos nas mais diversas áreas, desde a química, à mecânica, matemática e física. Contactou com cientistas e entusiastas das mais diversas áreas do saber, desde o físico Barthelot a Sebastien Kneipp, também ele padre e estudioso.

O padre Himalaia interessava-se especialmente pelo uso de grandes forças, como a luz solar ou dos ventos, o aproveitamento de recursos e até a medicina natural. Chegou a criar um explosivo, mais poderoso que a pólvora, e que batizou de himalaíte. Comercializou esse invento para uso pacifista, para pedreiras e na agricultura. No entanto, pensa-se que a himalaíte terá sido produzida pelos alemães na I Grande Guerra, com base em apontamentos roubados ao padre Himalaia, e que terá sido usada inclusivamente para bombardear Paris.

A máquina do Padre Himalaia que fazia chover

Corria o Verão de 1913 quando o uma seca afetava Portugal inteiro, especialmente a região do Alentejo. Em Julho desse ano, o padre Himalaia comunica que inventou um processo que provocava chuva, tão ansiada por todos. Para o efeito, criou um canhão gigantesco, assente numa plataforma orientável, que permitia múltiplos disparos verticais contra as nuvens, provocando chuva.

Foram feitos testes na Serra da Estrela e, diz quem presenciou a experiência, que resultou. O padre Himalaia acabava de fazer chover em pleno Verão. No entanto, o projeto foi abandonado e nunca seria colocado em prática. A razão? Era demasiado dispendioso e, embora vários cientistas e testemunhas credíveis confirmassem o seu sucesso, o governo da altura optou por nunca utilizá-lo.

A título de curiosidade, refere-se de novo uma história rocambolesca, muito provavelmente apenas uma lenda, envolvendo os alemães. Dizia-se que, tal como fizeram com a fórmula dos explosivos criados pelo padre Himalaia, também terão roubado o projeto deste canhão gigante para provocar chuva. Só que em vez que produzir, chuva, optaram mais uma vez por utilizá-lo na guerra, construindo dois canhões lendários: o “Grosse Bertha” e o “Wilhelm Geschütz”.

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