terça-feira, 15 de julho de 2025

A pluralidade que nos define



A pluralidade não é apenas uma característica desejável nas sociedades contemporâneas; no nosso caso, é um traço fundamental da identidade coletiva. Portugal foi moldado por séculos de encontros e diálogos, de partidas e regressos, de trocas culturais que nos tornaram o país diverso e acolhedor que somos hoje. Encarar as migrações com seriedade, humanidade e visão de futuro é uma necessidade prática, mas é também uma responsabilidade histórica.

Apesar disso, vivemos um tempo de retração. Erguem-se barreiras burocráticas, legais e simbólicas à entrada e integração de pessoas oriundas dos países de língua portuguesa, muitas das quais partilham connosco história, valores e língua. Em nome da segurança ou da “gestão controlada”, dificultamos o acesso à nacionalidade e à plena participação social a milhares de pessoas que procuram em Portugal o mesmo que, tantas vezes, os portugueses procuraram noutros lugares: segurança, dignidade, trabalho e esperança.

É legítimo que o Estado defina regras claras para a entrada e permanência de cidadãos estrangeiros, mas essa gestão só é verdadeiramente responsável se for orientada por princípios de justiça, solidariedade e coerência com a nossa própria história. O que está em causa não é apenas uma questão administrativa: é uma escolha política e ética sobre o país que queremos ser.

Os migrantes que chegam a Portugal não vêm “tirar” nada a ninguém. Pelo contrário: trazem competências, saberes, culturas, força de trabalho e energia. Respondem a necessidades reais da nossa economia, ajudam a equilibrar o envelhecimento demográfico e contribuem para a vitalidade das comunidades locais. Não os reconhecer como parte integrante da sociedade é desperdiçar talento, criar exclusão e alimentar tensões desnecessárias.

Não podemos ceder às narrativas que exploram o medo e fomentam a desconfiança. Essas narrativas desvalorizam a riqueza que nasce da diversidade e alimentam divisões que fragilizam a sociedade e a democracia. A história ensina-nos que sociedades que se fecham sobre si mesmas, que alimentam preconceitos e excluem quem é diferente, tornam-se mais frágeis, mais injustas e menos livres.

A diversidade enriquece a nossa identidade e faz-nos crescer como sociedade. Obriga-nos a questionar hábitos, a reavaliar certezas e a reinventar a convivência. Um país plural é aquele que reconhece que ninguém deve ser definido apenas pela sua origem, mas pelo seu contributo, pelos seus valores e pela vontade de fazer parte de um projeto comum.

Construir um país plural e justo exige coragem política, responsabilidade institucional e empatia social. Exige políticas públicas que assegurem integração plena, garantindo acesso à educação, à saúde, ao trabalho digno e à participação cívica. Exige, igualmente, um discurso público que rejeite o ódio, valorize o respeito mútuo e celebre o encontro entre diferentes comunidades.

O futuro de Portugal não se assegura erguendo muros nem alimentando desconfianças. Constrói-se com políticas eficazes, com reconhecimento das contribuições de todos os que aqui vivem e com justiça social que não deixe ninguém à margem. A pluralidade é uma herança histórica e um imperativo estratégico para o país que queremos ser: mais resiliente, mais dinâmico e capaz de enfrentar os desafios globais. Integrar plenamente quem chega até nós, mais do que um gesto de solidariedade, é uma condição para o progresso económico, social e democrático de Portugal.

Diário de Coimbra, 15.7.2025

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