sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Apagão não impediu debate entre partidos sem assento no Parlamento. Discussão marcada pela gestão da pandemia — e por teses negacionistas

Um problema com a energia interrompeu hoje durante minutos o debate dos 11 partidos sem assento parlamentar que decorre na RTP, quando cerca de metade dos participantes tinha apresentado os seus argumentos para chegarem à Assembleia da República. O momento ocorreu justamente quando se discutia a crise energética. A gestão pelo Governo da pandemia da covid-19 e as restrições foi um dos temas a dominar a noite, assunto que foi apelidado por um dos candidatos de “elefante na sala”.



Élvio Sousa, do Juntos Pelo Povo (JPP), falava do quanto é fundamental estar presente na Assembleia da República, alegando que “os preços estão naturalmente a subir, não só a inflação, mas do também imposto sombra que caiu sobre os portugueses, e sobre as famílias, e sobretudo sobre os que menos ganham”, quando a quebra de energia interrompeu o debate, entretanto retomado.

“As empresas deparam-se com os preços da energia, mas estamos em janeiro e tivemos os preços acrescidos, não só da energia, mas dos combustíveis, na alimentação e no acesso à saúde”, disse.

Antes do “corte”, neste que é o último debate televisivo que opõe os candidatos às eleições legislativas de 30 de janeiro, desta vez com os 11 partidos sem assento parlamentar, Jorge Nuno Sá (Aliança, ex-PSD e antigo líder da JSD), assumiu-se como o “coração da direita” e garantiu que o seu partido “veio para ficar”.

Para Maria Cidália Guerreiro, do PCTP/MRPP, que obteve 35 mil votos nas legislativas de 2019, o Parlamento “eclodiu-se” e “precisa de se reconfigurar”.

Sobre novas alianças, lembrou os partidos que “criaram a ilusão de que podiam resolver o problema”, numa referência ao PCP e ao BE, que “apoiaram o Governo, votaram os orçamentos e, ao fim de seis anos, perceberam que a geringonça se desfez”.

Vitorino Silva (Reagir Incluir Reciclar – RIR), que obteve 35 mil votos em 2019, começou por afirmar que, em Portugal, “não há partidos grandes”, pois caso contrário não existiria uma abstenção de 50%.

E sobre as sondagens menos simpáticas para o RIR, afirmou que no dia 30, dia das eleições, estas “vão ter de pedir desculpas”.

José Pinto Coelho, do partido Ergue-te, que em 2019 obteve 17.000 votos, referiu que o seu é “o único partido contra a fraude do sistema”.

Por seu lado, Pedro Soares Pimenta (Partido da Terra – MPT), assumiu-se como o único com uma “agenda política verdadeiramente ecologista para Portugal”.

“Não somos apêndices de ninguém. Não somos radicalistas”, disse, alegando que “a ecologia não pode ser de modas”.

Da parte do Nós, Cidadãos!, Joaquim Rocha Afonso afirmou que “há quatro blocos à volta dos quais giram os 18,2 mil milhões que fogem por ano - cerca de sete vezes mais que o orçamento da saúde”.

“Temos o governo, os chefes das empresas oligárquicas que mandam no nosso país, as grandes sociedades de advogados e os senhores deputados”, disse.

“Se nós conseguirmos eleger deputados que sejam independentes, que não estejam com qualquer ligação partidária, vamos conseguir quebrar este elo”, defendeu.

Bruno Fialho, da Alternativa Democrática Nacional (ADN), apresentou-se no debate por via online, por se ter recusado a fazer o teste à covid-19.

“Não preciso de fazer testes para entrar nos transportes públicos, mas para ir ao estúdio da RTP”, disse.
Gestão da pandemia foi o “elefante na sala” alvo de críticas de partidos sem assento

Foi justamente o candidato da Alternativa Democrática Nacional a apontar que “durante dois anos apenas se falou” deste tema no país e que chegadas as eleições “ninguém fala do elefante na sala” — servindo-se de um elefante de peluche que prometeu manter a seu lado.

Bruno Fialho criticou os critérios utilizados para se realizar testes à covid-19 de forma a ter acesso a determinados locais, entre outras restrições ainda impostas e anunciou que se fosse Governo a sua primeira medida seria “declarar o fim da pandemia”. A sua intervenção foi marcada pela citação de vários valores já desmentidos — como o de que a covid-19 só terá causado oficialmente 152 mortes entre janeiro de 2020 e abril de 2021, o que só remete para um número reduzido de certificados de óbito —, valendo isso o repúdio do moderador, o jornalista Carlos Daniel.

Para Maria Cidália Guerreiro, do PCTP/MRPP, a pandemia da covid-19 foi “utilizada para introduzir medida repressivas, intimidatórias, e ao mesmo tempo de confinamento do país inteiro”, considerando que a pandemia “foi mal gerida, não houve rigor, organização, planeamento, não houve o mínimo de disciplina”.

Já Vitorino Silva, presidente do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR), questionou se houve restrições a mais ou não, respondeu apenas que “as pessoas decidiram em função do tempo”, acreditando que “não quiseram prejudicar Portugal e decidiram naquele tempo, só que o tempo vai mudando”.

Por seu turno, o presidente do 'Ergue-te', José Pinto Coelho, reconheceu a existência do vírus da covid-19 mas foi bastante crítico das restrições impostas, que na sua opinião são “loucas e insanas” e "destroem relações pessoais" ou o “crescimento natural das crianças”, negando também o impacto na saúde pública da pandemia, o que considerou ser uma fraude.

Pedro Soares Pimenta, do Partido da Terra (MPT), criticou a gestão da pandemia, defendeu que “teve que vir um militar meter ordem na casa” – numa referência ao almirante Gouveia e Melo na coordenação da ‘task force’ da vacinação – e apelou a uma “gestão séria do SNS” e também ao “respeito” pelos milhares de portugueses que morreram devido à covid-19 e suas famílias.

Élvio Sousa, do Juntos Pelo Povo (JPP), considerou que “a saúde deve ser a causa de todas as causas” e que “nenhum Governo tinha um manual de sobrevivência, de funcionamento para uma pandemia deste género”, aditando que o partido não tem nenhuma “muralha ideológica com a contratualização com o privado desde que seja auditado e fiscalizado”.

O presidente do Partido Trabalhista Português (PTP), Amândio Madaleno, considerou que “em determinados casos só os organismos do Estado conseguem garantir a saúde e em boa qualidade mas o problema se deve ser estatal ou privado é uma falsa questão” porque “o que interessa” é saber se estão a ser dados meios aos profissionais de saúde, apontando para uma “falta de investimento”.

Pelo ‘Nós, Cidadãos!’, Joaquim Rocha Afonso apontou que no início da gestão da pandemia “toda a gente ficou de cabeça perdida e foi navegação à vista”, também elogiou Gouveia e Melo mas considerou que “não houve planeamento, qualquer tipo de estruturação ou o mínimo de organização quer política, quer operacional, quer técnica”.

Renata Cambra, porta-voz do Movimento Alternativa Socialista (MAS), defendeu que “é preciso mais investimento na saúde” e que esse dinheiro está “nos roubos que são feitos pelos grandes empresários e pelas administrações de bancos”, considerando também que a gestão da pandemia foi “confusa” e andou “atrás do prejuízo”.

Tiago Matos Gomes, presidente do Volt Portugal (VP), rejeitou fazer “politiquice” ou “política baixa” com a saúde, considerando que o Governo português deu a resposta “possível” e que todo o mundo foi apanhado de surpresa com a pandemia.

O partido federalista europeu salientou ainda o papel da União Europeia na compra de vacinas “em larga escala”.

Também na área da saúde, o presidente do Aliança, Jorge Nuno Sá, defendeu que “evidentemente há um pilar fundamental da garantia da saúde por parte do Estado”, mas criticou o “capricho ideológico de manter apenas o público”, advogando que “o setor privado e social” na saúde “não têm de ser supletivos, podem ser um complemento”.

Mais à frente no debate, o dirigente do Aliança manifestou-se contra mais “aventuras românticas do Estado como a TAP” e entre as medidas prioritárias dos partidos foi defendida a "recuperação da soberania económica e financeira do país" pelo PCTP/MRPP, "aliviar os portugueses da carga de impostos" pelo RIR ou ainda "mais atenção à diáspora" pelo MPT.

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