Se eu tirar com uma pancada
O bolo barato da boca da criança pobre
Onde encontrarei justiça no mundo,
Onde me esconderei dos olhos do Vulto
Invisível que espreita pelas estrelas
Quando o coração vê pelos olhos o mistério olhar o universo?
Minha emoção concreta, ó brinquedo de crianças,
Ó pequenas alegrias legítimas da gente obscura,
Ó pobre riqueza exígua dos que não são ninguém…
Os móveis comprados com tanto sacrifício,
As toalhas remendadas com tanto cuidado,
As pequenas coisas de casa tão ajustadas e postas no lugar
E a roda de um dos mil carros do rei vencedor
Parte tudo, e todos perderam tudo.
Que imperador tem o direito
De partir a boneca à filha do operário?
Que César com suas legiões tem justiça
Para partir a máquina de costura da velha
Se eu for pela rua
E arrancar a fita suja na mão da garota
E a fizer chorar, onde encontrar qualquer Cristo?
Álvaro de Campos
na imagem, refugiados ucranianos
fotografia de J Mitchell | Getty Images
2 comentários:
Muito bem escolhido este poema de Álvaro de Campos.
Que César com suas legiões tem justiça para desventrar o mundo !
Brisas doces *
Obrigado. Volte sempre.
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