sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Anton Bruckner - Os justi, por Tenebrae Choir


Descrito como “fenomenal” (The Times) e “devastadoramente belo” (Gramophone Magazine), o premiado coro Tenebrae, sob a direção de Nigel Short, é um dos principais conjuntos vocais do mundo, reconhecido pela sua paixão e precisão.

O que é Os justi

Os justi (WAB 30) é um motete sacro composto em 1879 por Anton Bruckner.  O título — em latim — significa “A boca dos justos”. 

O texto é baseado em versículos do Salmo 37 (na Vulgata, versículos 30–31), que exaltam a sabedoria e justiça dos justos. 

Contexto litúrgico e histórico
A peça foi composta a 18 de julho de 1879 e dedicada a Ignaz Traumihler — mestre de coro na St. Florian Abbey. 
A estreia aconteceu no dia 28 de agosto de 1879 (festa de Santo Agostinho), com Traumihler na regência do coro e Bruckner ao órgão. 
Existe uma versão original (datada de 18 de julho — WAB 30/1) e uma versão revista (final de julho / agosto 1879 — WAB 30/2), em que Bruckner adicionou um verso extra Inveni David com acompanhamento de órgão. 

Características musicais
A obra está escrita no modo lídio em F — Bruckner optou por uma modalidade antiga, evocando a tradição do canto gregoriano e da música sacra renascentista. 

A escrita é a cappella para coro (vozes SATB / SSAATTBB), mas na versão revisada há o verso “Inveni David” com órgão. 

A estrutura musical combina:
  1. Um início com declamação clara do texto, adequado à liturgia. 
  2. Uma secção central com contraponto mais complexo (um fugato sobre “et lingua ejus loquetur judicium”), mostrando a herança polifônica e a formação contrapunística de Bruckner. 
  3. Um final sereno, com um “Alleluia” em uníssono, evocando o canto gregoriano e uma sensação meditativa. 
O motete demonstra como Bruckner — mais conhecido pelas suas sinfonias monumentais — podia compor música de câmara vocal com refinamento, espiritualidade e grande sensibilidade litúrgica. 

Significado e recepção

Os justi é frequentemente citado como um dos motetes mais puros e belos de Bruckner — uma “confissão de fé” em forma musical, em que o compositor combina a tradição do canto e polifonia sacra com a sua própria sensibilidade romântica. 

Para quem conhece Bruckner sobretudo pelas sinfonias, obras como Os justi revelam um lado comedido, íntimo e devoto — mostrando a profundidade espiritual e a humildade do autor. Isso casa com o facto de Bruckner ter sido organista e dedicado à música de igreja durante muitos anos de sua vida. 

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