terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Feliz Ano Novo com a Música "Mudar a Canção"
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
A história da relação entre os humanos e os cetáceos (baleias, golfinhos e toninhas) em Portugal
Um estudo inovador, recentemente publicado na prestigiada revista científica PLOS ONE, lança uma nova perspectiva sobre a história da relação entre os humanos e os cetáceos (baleias, golfinhos e toninhas) em Portugal, graças ao trabalho de especialistas de diversas instituições europeias, incluindo investigadores do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (UNIARQ).
A investigação, liderada por Mariana Nabais do IPHES-CERCA (Tarragona, Espanha), contou com a participação da UNIARQ, que contribuiu na escavação e análise de vestígios arqueológicos, fundamentais para a identificação da cronologia das descobertas e para a interpretação do papel dos cetáceos no quotidiano das antigas sociedades portuguesas. “As nossas descobertas revelam uma ligação humana de longa data com os cetáceos, desde o aproveitamento oportunista de animais encalhados no Paleolítico até à pesca baleeira organizada em períodos posteriores”, explica a responsável. “Estas descobertas desafiam a visão simplista das sociedades interiores portuguesas antigas como exclusivamente dependentes de recursos terrestres”.
Esta investigação, para além de enriquecer a informação existente sobre a vida antiga em Portugal, oferece dados muito interessantes sobre a ecologia histórica do país, destacando os impactos duradouros da pesca baleeira nas populações marinhas, tais como a baleia-franca-do-atlântico-norte, actualmente extinta nas águas portuguesas.
A colaboração entre a UNIARQ e parceiros internacionais, como o Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES-CERCA) e a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) reforça a importância da cooperação internacional na descoberta e interpretação da relação complexa entre humanos e ecossistemas marinhos ao longo do tempo.
Este trabalho sublinha o compromisso da UNIARQ em aliar métodos de investigação tradicionais a tecnologias de ponta, contribuindo para um entendimento mais profundo da história.
domingo, 29 de dezembro de 2024
Cientistas alertam para riscos de 'vida espelho' com potencial devastador
Cientistas internacionais emitiram um alerta sobre a ameaça existencial representada por "vida espelho", micro-organismos sintéticos criados como reflexos estruturais de micróbios naturais. Esses organismos poderiam superar as defesas naturais de seres humanos, animais e plantas, causando danos irreversíveis, segundo um grupo de 40 pesquisadores, incluindo dois ganhadores do Prêmio Nobel.
Em um artigo divulgado na revista Science, publicado pelo Financial Times, os pesquisadores argumentam que os avanços na biologia sintética, embora promovam importantes inovações na saúde, também trazem o risco de gerar novos organismos potencialmente mortais, seja por acidente ou intencionalmente.
O perigo da "vida espelho"
A "vida espelho" baseia-se no fenômeno científico da quiralidade, ou "mão única", em que moléculas possuem a mesma composição química, mas são estruturalmente diferentes por serem imagens espelhadas. Micróbios espelho poderiam evadir o sistema imunológico humano e as defesas naturais de outros organismos, causando infecções letais e superando espécies naturais em diversos ecossistemas.
Segundo Jack Szostak, professor da Universidade de Chicago e ganhador do Nobel de Fisiologia ou Medicina, "a liberação de bactérias espelho no ambiente poderia ser pior do que qualquer desafio enfrentado anteriormente, e muito além de nossa capacidade de mitigação".
Michael Kay, bioquímico da Universidade de Utah, acrescenta que esses organismos seriam a "última espécie invasora", com capacidade de superar as defesas naturais de corpos humanos e ecossistemas.
Avanços tecnológicos e riscos globais
Os cientistas enfatizam a necessidade de ação internacional para regulamentar o desenvolvimento dessa tecnologia antes que ela se torne viável.
Com o rápido progresso nas tecnologias de biologia sintética impulsionadas por inteligência artificial, a criação de células vivas espelho deve ser possível em apenas 10 anos, segundo Vaughn Cooper, professor de microbiologia da Universidade de Pittsburgh.
O artigo no Science também aponta que os avanços recentes mostram que bactérias comuns, como a E. coli, podem crescer com fontes de alimentos que não possuem uma especificidade quiral, refutando a ideia de que organismos espelho seriam inviáveis por falta de nutrição adequada.
Medidas regulatórias urgentes
Os autores sugerem a adoção de modelos de regulamentação, como as Diretrizes de Biossegurança de Tianjin, elaboradas em 2021. Essas diretrizes promovem a colaboração internacional para monitorar e limitar tecnologias que poderiam facilitar a criação de organismos sintéticos perigosos.
Apesar das incertezas, os cientistas concordam que a ameaça é grave. "Bactérias espelho poderiam causar uma onda de infecções devastadoras se escapassem de um laboratório", alerta Eörs Szathmáry, professor de biologia evolutiva da Universidade Eötvös, na Hungria.
O avanço da biologia sintética trouxe benefícios inegáveis para a humanidade, mas também apresenta riscos consideráveis. O desenvolvimento de micro-organismos sintéticos "espelho" requer atenção global imediata para evitar um potencial desastre ambiental e biológico que poderia ameaçar todas as formas de vida conhecidas.
sábado, 28 de dezembro de 2024
‘Forever chemical’ found in mineral water from several European countries
Mineral water from several European nations has been found for the first time to be contaminated with TFA, a type of PFAS “forever chemical” that is a reproductive toxicant accumulating at alarming levels across the globe.
The finding is startling because mineral water should be pristine and insulated from manmade chemicals. The contamination is thought to stem from the heavy application of pesticides containing TFA, or compounds that turn into it in the environment, which are used throughout the world.
Pesticide Action Network Europe detected TFA in 10 out of 19 mineral waters, and at levels as much as 32 times above the threshold that should trigger regulatory action in the European Union. The findings underscore the need for “urgent action”, the paper’s authors wrote, and come as authorities there propose new limits for some TFA pesticide products.
“This has gone completely under the radar and it’s concerning because we’re drinking TFA,” said Angeliki Lysimachou, a co-author with Pesticide Action Network Europe. “It’s much more widespread than we thought.” She added that researchers do not blame mineral water producers because the issue is not their fault.
The finding comes as researchers try to get a handle on TFA pollution globally. Though they long ago established that PFAS pollution is ubiquitous, they have found TFA levels that are orders of magnitude higher than other forever chemicals.
Aside from use in pesticides, TFA is a common refrigerant that was intended to be a safe replacement for older greenhouse gases like CFCs, and it is often used in clean energy production. But recent research has also established it as a potent greenhouse gas that can remain in the atmosphere for 1,000 years. About 60% of all PFAS manufactured from 2019 to 2022 were fluorinated gas that turns into TFA.
It is an especially difficult chemical due to its high mobility and longevity in the environment. Meanwhile, filtration technology effective at removing other PFAS from water cannot can’t address TFA on an industrial scale.
Still, industry is ramping up its use of TFA, or chemicals that turn into it once in the environment, claiming they are a safe, naturally occurring and nontoxic replacement for older PFAS and refrigerants. Mounting evidence from independent researchers has refuted those claims.
In pesticides, TFA is likely used as a stabilizer or to otherwise improve efficacy – around 40% of all active ingredients added to pesticides in the US are PFAS.
The new paper follows research that found TFA in 93% of more than 600 Belgian water samples, and especially high levels in agricultural regions. Meanwhile, Swiss authorities found it to be ubiquitous in the nation’s groundwater. In the US, all rainwater samples checked in Michigan contained the chemical.
Still, the Environmental Protection Agency recently excluded TFA from classification as a PFAS, which subjects it to less scrutiny. Public health groups have said the EPA faces pressure because TFA is a significant moneymaker for chemical producers.
The EU commission, meanwhile, is proposing a ban on two common pesticides that contain TFA compounds, and it may soon be classified as a reproductive toxicant.
“The first step is to ban the most widespread sources of TFA, the PFAS pesticides,” Pesticide Action Network Europe’s paper states.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Curta-Metragem de Steve Cutts - The Turning Point
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Brain rot, conheces?
Generative AI masculine medical figure with sinus and headache Brain rot foi eleita palavra do ano. Junta-se ao leque de expressões com que vamos fingindo abordar seriamente os efeitos das redes sociais nas sociedades contemporâneas, como já em 2020 tinha acontecido com doomscrolling. Durante a semana passada, ainda que possa ter passado despercebido no meio de tanto acontecimento, foi notícia o facto de a expressão brain rot ter sido considerada palavra do ano. Numa votação online em que participaram 37 mil internautas promovida pela Oxford University Press, editora do famoso dicionário Oxford, a expressão levou a melhor sobre uma série de outros termos de calão da internet que compunham a lista. E rapidamente correu o mundo, num movimento habitual que já se vai tornando ritual sempre que chega esta altura do ano. Tops, listas, nomeações e eleições online do outro lado do mundo invadem os nossos alinhamentos noticiosos, especialmente quando confirmam vieses ou servem para marcar posições. E neste caso não é excepção. Com a notícia sobre a palavra do ano, jornais por todo o mundo estrearam a expressão nas suas páginas, repetindo dezenas de vezes o alinhamento da peça: palavra do ano, shortlist completa, dados sobre crescimento da utilização, facto sobre o surgimento da expressão referido originalmente no comunicado, conclusão vaga sobre os perigos para que esta expressão aponta. A eleição de uma palavra entre outras numa votação online sugere o apodrecimento cerebral promovido pelo consumo excessivo de redes sociais e, simultaneamente, revela-nos como a toxina já se espalhou por todo o corpo social. O viral como crítica do viral Entre as linhas ténues das conclusões vagas, brain rot junta-se ao leque de expressões com que vamos fingindo abordar seriamente os efeitos das redes sociais nas sociedades contemporâneas, com honras de palavra do ano, como em 2020 tinha acontecido com doomscrolling. Paradoxalmente, a constatação dos efeitos nocivos das redes sociais e da deterioração do valor do conteúdo a que estas obrigam, não serve de pretexto para interromper por instantes este ciclo. Serve-lhe antes como reforço: gerando centenas de artigos de valor duvidoso que reforçam as dinâmicas de poder online, nos embrulham nesta cultura sem tempo e sem local, onde o viral se confunde com global, e a crítica se assemelha a um reflexo do objeto criticado. Esta circularidade pode ser vista como uma demonstração cultural da nossa condição póstuma, como apelidou Marina Garcés no seu livro Novo Iluminismo Radical. “O problema é que quando a cultura se reduz à crítica da cultura, a sua autonomia fica condenada à auto-referencialidade: a filosofia como crítica da filosofia, a arte como crítica da instituição arte, a literatura como crítica das formas literárias, etc” — escreve a filósofa, e, a propósito deste exemplo específico, podemos acrescentar algo como o viral como crítica do viral. Se por um lado se estabelece uma crítica sobre um modo de estar online, essa crítica é mais uma constatação (ou uma contemplação?) do que um questionamento — retomando Garcés, “um exercício de crítica que só consegue mover-se no espaço existente entre o que já foi e a impossibilidade de ser outra coisa”. Constatar como as redes sociais se tornaram tóxicas, que têm efeitos nocivos na saúde mental e que quase todos passamos tempo demais agarrados aos telemóveis tornou-se quase um ritual nas próprias redes sociais, mas à medida que o tempo passa, esses momentos tornam-se cada vez mais coreográficos. Cada um purga os seus vícios ou exprime as suas virtudes, na partilha de mais um viral, sem que se conquiste nem um centímetro ao fantasma da impossibilidade. Apropriando Mark Fisher, “o cancelamento do futuro é acompanhada de uma diminuição das expectativas”, e estes momentos de constatação, mais do que criticar as raízes do problema, normalizam-no, como se não houvesse alternativa. Se no seu texto Fisher utiliza a música como exemplo, as palavras que escreve encaixam na perfeição quando pensamos no panorama mediático e cultural: “Nos últimos dez a quinze anos, a Internet e a tecnologia das telecomunicações móveis alteraram a textura da experiência quotidiana de forma irreconhecível. No entanto, talvez por causa de tudo isto, há uma sensação crescente de que a cultura perdeu a capacidade de apreender e articular o presente. Ou pode ser que, num sentido muito importante, já não haja presente para apreender e articular”. Em vez de uma crítica com valor emancipatório, nas palavras de Garcés, “que nos devolva a capacidade de elaborar o sentido e o valor da experiência humana a partir da afirmação da sua liberdade e da sua dignidade”, o que é servido é uma espécie de meme, mascarado de reflexão com uma referência histórica ou intelectual, neste caso a alusão a Thoreau que terá usado a expressão pela primeira vez em 1854 no livro Walden. Não é que fosse expectável que os conteúdos em torno da palavra do ano desencadeassem um momento revolucionário de reflexão global em torno do sentido das nossas vidas neste mundo digital. Mas a escolha desta palavra em específico, em mais um ano marcado por guerras e uma discussão em torno do genocídio, pela amplificação do entusiasmo desmedido da Inteligência Artificial ou a ausência de respostas perante alguns dos maiores problemas da humanidade, é sintomática. Mostra-nos que estamos a passar demasiado tempo online e a limitar com isso a nossa visão do mundo, mas também as diferentes escalas em que hoje nos movemos, e a forma como continuamos a olhar para a tecnologia: numa perspectiva despolitizada, como se fosse uma inevitabilidade que nos é imposta e não o resultado de um conjunto de processos dos quais, mais ou menos, todos fazemos parte. Individualista, retomando à dimensão do comportamento individual um fenómeno social com características sistémicas evidentes, desde a ausência de regulação adequada até à implicação das empresas que desenvolvem as grandes plataformas tecnológicas nas grandes questões do presente. E como uma espécie de caixote para os males do mundo, onde pela indefinição tudo acaba por caber, servindo como bode expiatório para a podridão dos cérebros, neste caso. A escolha de uma palavra popularizada pelas gerações mais novas, e as próprias palavras do comunicado que apontam estas gerações como os principais responsáveis pelo uso e criação do conteúdo digital a que o termo se refere, fazem outro desvio importante. Dando a esta questão uma patine geracional, reforça-se o preconceito em torno do mau uso das redes sociais como sendo uma característica exclusiva dos mais jovens — quando basta passar 10 minutos no Facebook para percebermos que atravessa todas as gerações. Mas mais do que isso: a tendência para a infantilização e despolitização do debate em torno deste tipo de questões faz com que raramente se unam os pontos que traçam o mapa da economia do espaço digital de forma coerente. Por outras palavras, raramente se expõe que o nosso cérebro não apodrece por uma espécie de depressão colectiva, mas porque o modelo económico vigente em grande parte da internet que compõe o nosso quotidiano passa, em parte, por apodrecê-lo, tirando-nos a capacidade de decidir livremente com complexos esquemas de persuasão detalhadamente pensados; e não só, roubando o horizonte fora das redes sociais. Em 2018, o artista James Bridle denunciava num ensaio e numa TedTalk como a proliferação de vídeos viciantes no YouTube não era um sinal do acaso, nem fruto de uma intenção de quem concebe os algoritmos de recomendação, mas antes uma intricada relação de interdependência entre infraestrutura tecnológica (que quer maximizar o tempo na plataforma) e incentivos económicos (é barato fazer conteúdos online e fácil monetizá-los). Desde então, o contraste acentuou-se ainda mais e, hoje, o que vemos como virais e fenómenos da internet (e que muitas vezes começam como tal) são alguns dos conteúdos melhor remunerados online. Desde os canais de YouTube como Mr. Beast, ou o famoso entre os mais novos Skibidi Toilet, ao gigante mercado da influência que já faz circular milhões. A internet tornou-se num gigante mercado de entretenimento, mas ao longo dos anos, por muito que constatamos que este facto alterou diferentes circunstâncias da vida social (proliferação de fake news, polarização do espaço público, perda de valor do jornalismo, e podíamos continuar) continuamos sem ter uma solução à medida. Talvez porque estejamos a ver mal o problema. Num texto publicado no seu substack em 2021, Kevin Munger, professor de Ciência da Computação num departamento de Ciência Política partilhava, a propósito da deterioração do Facebook, um ponto de vista que parte de uma premissa provocadora para expandir a reflexão: o Facebook são os outros. O mesmo racional podemos aplicar à internet no geral, aos sucessivos formatos de qualidade duvidosa e à nossa querida palavra do ano: brain rot são os outros. Nesse texto, Munger sugere que a nossa constatação sobre a fraca qualidade dos conteúdos é, de certa forma, uma confronto com pessoas, grupos e comunidades a que não acedemos nas nossas bolhas. Ao contrário dos meios de comunicação em massa, dos media estabelecidos, onde apenas alguns conseguem aceder, por capacidade ou conhecimentos, Munger sustenta que as redes sociais são uma forma de democracia passiva com efeitos algo perversos. Os algoritmos e as redes sociais têm um papel aparentemente inclusivo, integrando todos no espaço digital, mas ao mesmo tempo deixam os mais desprotegidos à mercê das lógicas predatórias, de estratégias altamente aditivas e da capacidade de persuasão dos algoritmos. O que faz com que, em última análise, a deterioração da internet seja um sintoma da nossa incapacidade de tomar conta uns dos outros — no sentido de os equipar com as ferramentas necessárias para uma utilização crítica e benéfica das tecnologias. “A democratização da comunicação online demonstrou a hipocrisia deste ponto de vista. Sempre houve um imperativo moral para sermos mais atenciosos e inclusivos; agora é uma necessidade política. Todos nós odiamos o Facebook, e o Facebook (a empresa) é, reconhecidamente, terrível. Mas, em grande medida, odiamos o Facebook porque o Facebook são outras pessoas” – escreve, apontando aos efeitos sistémicos e prevalentes desta marginalização digital. Nietzsche não é um hamburguer O brain rot está longe de ser circunscrito a uma experiência individual e essa é outra característica que a eleição da palavra do ano falha em abordar. Não são só os nossos cérebros que estão podres, mas muitos dos sistemas em que vários cérebros se interligam. E a diferença entre um conteúdo sem valor do TikTok, que consumimos enquanto estamos na casa de banho, e uma notícia num bloco informativo num canal mainstream sobre um viral, um hype tecnológico desmedido ou enquadrando de forma errada conteúdos que surgem online, continuam a ser centenas de milhares de visualizações. O mesmo sistema que apodrece os cérebros através de investimentos avultados em investigação de padrões de design de interfaces e algoritmos que fomentem a adição, e renega a responsabilidade sobre os efeitos causados em discursos bonitos e pseudo-ciência publicada em blogs, é retro-alimentado por uma sociedade que, como dizia Fisher, não tem revelado a capacidade de compreender e articular o presente. Que baixou as expectativas e se deixa fascinar por qualquer viral. Noutro escrito famoso, Fisher diz que os estudantes hoje em dia querem ler Nietzsche como quem come um hamburguer, e que estes não se apercebem que a complexidade e a indigestibilidade de Nietzsche é, em parte, o que lhe confere o valor que tem. O mesmo racional se pode mais uma vez expandir e aplicar à nossa apreciação dos fenómenos contemporâneos e do foro tecnológico. Queremos explicá-los e nomeá-los com a mesma simplicidade que partilhamos um viral, sem percebermos que essa constante simplificação é parte do problema e não da solução. Não precisamos de mais um termo engraçado que descreva vagamente o que nos acontece quando nos perdemos no TikTok, precisamos de perceber o que nos falta e procuramos nesta espiral, e que forças estão em jogo nesta interação. Um caso paradigmático desta décalage entre a mediatização dos fenómenos e a sua compreensão, e a forma como alimenta e reforça para um brain rot generalizado, é a Inteligência Artificial e todo o discurso mainstream que se tem gerado. Artigos a afirmar que a Inteligência Artificial pensa, a propaganda desmedida das qualidades da tecnologia em segmentos críticos onde escasseiam os testes ou a simples incompreensão da diferença entre os setups científicos e a aplicabilidade prática das soluções — que geram promessas como “a IA pode resolver a crise climática”, “a IA consegue ler mentes” ou “a IA agora pode prever crimes” — denunciam outro sintoma característico da tal condição póstuma: a delegação da inteligência (como lhe chama Garcés). E como a nossa relação com a tecnologia nos envolve nesta espiral de apodrecimento não só quando estamos no TikTok. A tecnologia ou é o nosso fim, ou a solução. “Do que se trata é de delegar a própria inteligência, num gesto de pessimismo antropológico sem precedentes” afirma Marina Garcés, continuando mais à frente: “a credulidade do nosso tempo entrega-nos a um dogma de duas faces: ou o apocalipse ou o solucionismo. Ou a irreversibilidade da destruição, até da extinção, ou a inquestionabilidade de soluções técnicas que nunca está nas nossas mãos encontrar”. Ou a estupidez da nossa utilização das redes sociais, ou a magnificência das máquinas na demonstração de inteligência. “Humanos estúpidos, num mundo inteligente: é a utopia perfeita” — assim descreve a ideologia dominante que ecoa por todo o nosso edifício mediático. Numa internet que se edificou sobre a promessa do acesso universal ao saber, “o problema do acesso não é, portanto, o da disponibilidade, mas o do caminho” como escreve Garcés. Não é que na internet não haja bom conteúdo, não se produza conhecimento de valor, ou que toda a internet seja necessariamente construída de forma a manter-nos viciados; é que toda a cultura mainstream, ecoando a ideologia de Silicon Valley, gerou mecanismos de neutralização da crítica, como a saturação da atenção, a segmentação de públicos, a uniformização das linguagens e a hegemonia do solucionismo, sugere a filósofa. No espaço de opinião que ocupa na revista Sábado, José Pacheco Pereira escreve uma curta nota sobre a escolha da palavra do ano. Elogia a escolha, diz que “é por isto que em muitas coisas os ingleses são muito melhores do que nós”, e termina com um “a podridão já por cá anda”, em reflexão sobre as palavras do ano na lista portuguesa. Concedendo que a escolha é interessante pelo factor novidade, não deixa de me assaltar a questão: qual o valor percebido nesta escolha resultante de uma votação online? E o que se espera que daí venha, ou o que significa no esquema geral das coisas? A resposta é nenhum e nada.Já não temos qualquer expectativa da mudança, contentamo-nos com qualquer neologismo que nos ajude a expressar o espanto com que assistimos aos fenómenos que não compreendemos. Sem que nos habituemos à sua complexidade e contribuindo muitas vezes para o ruído que queríamos calar e que nos distrai da discussão da política e da economia da internet. De viral em viral, de promessa em promessa, o vírus infiltra todos os corpos e transforma-nos numa espécie de exército de zombies que normaliza e essencializa a tecnologia, como se fosse uma inevitabilidade do futuro, vinda de um mundo paralelo, e não fosse o resultado concreto de muitos anos da história do capitalismo, e da interação de sistemas sociais. Se o conceito de fim da história sugerida por Fukuyama já foi por muitos refutada, incluindo pelo próprio, não seria descabido recuperá-la para ilustrar o discurso em torno da tecnologia e da internet. A maioria do discurso que se gera em torno da internet desliga-a do curso da história, quer no que toca ao seu passado e a forma como chegámos onde chegámos, quer no que toca o seu presente e as soluções que têm sido procuradas. A especificidade de algumas das componentes técnicas, e a complexidade das hipotéticas soluções políticas não nos mobilizaram em torno de debates necessários mas praticamente afastaram esses debates do nosso quotidiano. E enquanto passamos atestados à podridão dos cérebros de cada um, convivemos com um mercado global da venda de dados que servem de base para a criação de estratégias que nos mantém viciados nas redes, com uma crescente normalização da vigilância e propostas dos reguladores para aceder ao conteúdo de comunicações privadas, com um aparelho mediático viciado nas redes de conteúdo duvidoso, e com um sistema de incentivos económicos onde é mais apetecível fazer anúncios da Prozis do que bom jornalismo, para dar um exemplo. Os cérebros podem estar a apodrecer mas não devemos continuar a vê-lo como o princípio de um fenómeno: a putridão só se apodera de corpos mortos ou indefesos. |
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Música do BioTerra: Cocteau Twins - Tishbite
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Feliz Natal
1. Natal Ambiental
2. Dê um Feliz Natal para os musgos
3. Buy Nothing Christmas
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Em protesto contra a eventual transformação da Casa Garret em mais um hotel
O historiador Hélder Pacheco diz o seguinte “com a perda da casa Garrett, perde o Porto a oportunidade de nela criar um lugar de divulgação, consagração e celebração da vida e da obra de Garrett, o maior vulto portuense e, provavelmente, da cultura portuguesa”.
Se estás de acordo, assina e divulga a petição
domingo, 22 de dezembro de 2024
Sabedoria indígena dos EUA
"Se falar com os animais, eles falarão consigo e conhecer-se-ão. Se não falar com eles, não os conhecerá, e o que não sabe, temerá. O que se teme, destrói-se." ~ Chefe Dan George, Tsleil-Waututh Nation
"If you talk to the animals, they will talk with you and you will know each other. If you do not talk to them, you will not know them, and what you do not know, you will fear. What one fears, one destroys.”
~ Chief Dan George, Tsleil-Waututh Nation
sábado, 21 de dezembro de 2024
Os polinizadores! Sabe quais são?!
Tem a certeza?!
É melhor ver o vídeo.
Neste vídeo só são mencionados os polinizadores insectos.
Tenha em atenção que cerca de 70% dos polinizadores insectos fazem o seu ninho no solo. Assim sendo, envie esta informação aos autarcas que pulverizam as autarquias com herbicidas.
Saber mais e outros vídeos aqui deste projecto da Quercus em 2021
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Parque das Serras do Porto – um olhar independente
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
As ilhas do Porto
As ilhas do Porto eram um tipo de habitação operária muito diferente do de outras cidades industriais, como Lisboa, onde existem os pátios, ou as cidades industriais europeias. Surgiram inicialmente na zona oriental da cidade, mas rapidamente se estenderam ao centro e aos concelhos limítrofes.
Para o aparecimento das ilhas acredita-se que tenha contribuído a grande influência inglesa na cidade. O esquema das ilhas é frequentemente associado às primeiras back-to-back houses em Leeds, quer em termos de morfologia, de promotores e em termos de intuito de construção.
A origem das ilhas é desconhecida sendo certo que no século XVIII já eram relatadas casas a que se chamava de ilhas.
Em inquirições de D. Afonso IV (1291-1357) fazem-se referência também a conjuntos de habitações com apenas uma saída para a rua.
Foi, no entanto, no final do século XIX, com o desenvolvimento industrial da cidade, e com a chegada de muitos migrantes das terras do norte do país, que este tipo de habitação se massificou.
Somente na freguesia de Campanhã houve 243 " ilhas". Ainda restam cerca de oito mil casas dos antigos bairros operários portuenses embora apenas pouco mais da metade ainda sejam habitadas.
Fontes: Viva! Porto, Domus Social, Cargo, Wikipédia.
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terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Stop using poison
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Direito ao sono - Pelo fim dos voos nocturnos no Aeroporto Humberto Delgado
Para: Presidente da Assembleia da República Portuguesa, Governo de Portugal
1 - O Aeroporto de Lisboa é o único grande aeroporto internacional que ainda funciona dentro de uma capital europeia. Este aeroporto fustiga mais de 200.000 cidadãos de Lisboa com um número de aviões sem precedentes a passar a baixa altitude: são em média voos a cada 2,5 minutos, mais de 200.000 voos por ano, mais de 600 voos por dia, mais de 20.000 voos por ano no período das 23:00 às 07:00.
2 - Os outros aeroportos europeus com um potencial de afectação da população semelhante ou inferior encerram todos à noite (salvo excepções e emergências).
3 - Não é o caso de Lisboa, onde são permitidos 26 voos por noite e 91 por semana entre as 0:00 e as 06:00, os quais são muitas vezes superados.
4 - Os cidadãos de Lisboa estão exaustos de conviver com esta situação, com impactos negativos no seu descanso e na sua saúde. É um brutal impacto no que há de mais básico nas suas vidas, sendo impreterível e inadiável terminar este flagelo.
5 - Por todas estas razões, a Plataforma Cívica «Aeroporto Fora, Lisboa Melhora» e os signatários desta petição vêm por este meio exigir o fim definitivo dos voos nocturnos.
domingo, 15 de dezembro de 2024
Tire as mãos da terra do Tibete
Os projectos de desenvolvimento em grande escala da China no Tibete, incluindo barragens, auto-estradas e operações mineiras, ameaçam o ambiente, o património cultural da região e a vida do povo tibetano. Estes projectos servem os interesses estratégicos da China no controlo dos recursos e nas reivindicações territoriais, mas têm efeitos devastadores no ecossistema do Tibete, nos locais culturais antigos e nos direitos dos seus habitantes.
Entretanto, o Ocidente estabeleceu uma parceria com a China para benefício económico mútuo, ignorando ao mesmo tempo a ocupação do Tibete, a exploração dos seus recursos naturais e os danos ambientais irreversíveis infligidos à região. Os interesses ocidentais e chineses na transição para a Energia Verde continuam a violar os direitos dos Tibetanos às suas terras e recursos sem o seu consentimento, resultando na detenção, prisão e tortura de manifestantes tibetanos.
Assina e divulga a petição
sábado, 14 de dezembro de 2024
África
Em 1913, a 20 de outubro, a Inglaterra fez um acordo com a Alemanha para eles ficarem com Angola e Moçambique. Se os alemães não tivessem cheios de vontade de começar uma guerra com a Rússia antes de esta se tornar demasiado forte para eles, esse mapa seria muito diferente.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Moita de Deus é a falência da humanidade de que o Público fala
Segundo um recente relatório, Gaza é a zona do mundo com maior n° de crianças amputadas. A falta de empatia deste tipo de pessoas é a prova que evolução tecnológica ou intelectual não tem relação com evolução ética ou moral. Não passam de crápulas de fato, ignorantes, alheios à dor e ao sofrimento humano. Puros monstros.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Loteamento de solos rústicos: seis décadas depois, reabrimos a caixa de Pandora?
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
Diversidade: o segredo da resiliência humana e natural
Tal como na natureza, onde ecossistemas biodiversos são mais produtivos e resilientes, os grupos humanos prosperam na diversidade. Cada indivíduo contribui com competências, perspetivas e talentos únicos, que, combinados, criam uma "rede de interações" mais forte e funcional.
Tal como espécies diferentes num ecossistema contribuem para o seu funcionamento e estabilidade, os contributos humanos complementares ajudam a superar desafios e a promover avanços em áreas diversas da ciência, cultura, arte e tecnologia.
Quando pessoas com diferentes formações e experiências se reúnem para resolver problemas complexos, as suas perspetivas variadas permitem explorar abordagens mais criativas e abrangentes - reflete o conceito ecológico de "nicho complementar", onde diferentes espécies ocupam papéis únicos e, juntas, tornam o sistema mais eficiente e equilibrado.
Além disso, a diversidade humana também atua como uma barreira natural contra a disseminação de ideias ou comportamentos prejudiciais, como no caso de ecossistemas ricos que resistem melhor a espécies invasoras. Num ambiente humano inclusivo, a multiplicidade de pontos de vista e experiências impede que preconceitos ou práticas destrutivas ganhem espaço de maneira descontrolada.
A ideia de resiliência também é crucial. Tal como os ecossistemas com elevada biodiversidade respondem melhor a perturbações, uma sociedade diversificada adapta-se melhor a mudanças e crises. Essa resiliência vem da capacidade de aprender com os erros, de absorver influências externas e de encontrar soluções inovadoras.
Num contexto humano, isso poderia significar enfrentar crises económicas desafios ambientais ou adaptação às novas tecnologias. Os ecossistemas biodiversos cativam-nos pela sua beleza e complexidade. Da mesma forma, a diversidade humana enriquece a nossa convivência, fomentando a criatividade e a resiliência.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
Os bilionários
Dou por mim, muitas vezes pensar que quem manda nisto tudo é o poder do dinheiro e que os governos, eles próprios, são dominados por esse poder. Já aqui escrevi que o poder do feiticeiro reside na ignorância dos seus irmãos tribais.
O texto atribuído ao grande divulgador Cal Sagan que se transcreve acima diz, por palavras sábias, esta minha convicção.
domingo, 8 de dezembro de 2024
Livro: Autocracy Inc
Bestseller do New York Times • O Melhor Livro do Economista de 2024 • O Melhor Livro do Financial Times de 2024 • Do autor vencedor do prémio Pulitzer, um relato alarmante de como as autocracias trabalham em conjunto para minar o mundo democrático e como nos devemos organizar para derrotá-las
“Um guia magistral para a nova era de autoritarismo... perspicaz e destemido.” —John Simpson, The Guardian • “Especialmente oportuno.“—The Washington Post
Pensamos que sabemos o que é um Estado autocrático: há um líder todo-poderoso no topo. Ele controla a polícia. A polícia ameaça as pessoas com violência. Existem colaboradores malignos e talvez alguns dissidentes corajosos.
Mas no século XXI, isto tem poucas semelhanças com a realidade. Hoje em dia, as autocracias são sustentadas não por um ditador, mas por redes sofisticadas compostas por estruturas financeiras cleptocráticas, tecnologias de vigilância e propagandistas profissionais, que operam em múltiplos regimes, desde a China à Rússia e ao Irão. As empresas corruptas de um país fazem negócios com empresas corruptas de outro. A polícia de um país pode armar e treinar a polícia de outro, e os propagandistas partilham recursos e temas, transmitindo as mesmas mensagens sobre a fraqueza da democracia e o mal da América.
A condenação internacional e as sanções económicas não podem mover os autocratas. Mesmo os movimentos populares de oposição, da Venezuela a Hong Kong e Moscovo, não têm qualquer hipótese. Os membros da Autocracy, Inc, não estão ligados por uma ideologia unificadora, como o comunismo, mas sim por um desejo comum de poder, riqueza e impunidade. Neste tratado urgente, que evoca o ensaio de George Kennan apelando à “contenção” da União Soviética, Anne Applebaum apela às democracias para que reorientem fundamentalmente as suas políticas para combater um novo tipo de ameaça.
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Viriato Soromenho Marques
sábado, 7 de dezembro de 2024
Música do BioTerra: Björk - Hyperballad
“Quando te apaixonas, nunca sabes se essa será a última vez que te vais apaixonar e isso acaba por se tornar em algo muito precioso para ti. Tornas-te superprotetor. E sempre que te encontras com a pessoa por quem estás apaixonado, mostras apenas o teu lado bom e certificas-te que ela nunca vê o teu lado mau, para que este amor se mantenha. Isto acontecia a todos os meus amigos”.
As palavras são de Björk e descrevem o ponto de partida para Hyperballad, o quarto single do seu segundo álbum em inglês, Post, um dos discos que mais cópias vendeu no seu catálogo e aquele que contém, simultaneamente, o seu mais conhecido tema para o público em geral e aquele que a compositora mais tem ignorado em digressões desde então, a sua versão de It’s Oh So Quiet. Björk é assim. De extremos. Ou era, com os seus 31 anos. E também o é Hyperballad, que celebra este mês 20 anos sobre o seu lançamento.
Aquele que é frequentemente citado por muitos como um dos melhores singles lançados pela islandesa, principalmente se fecharmos o espectro de análise à década de 90, é um hino ao anti-politicamente correto. Hyperballad é explodir quando estamos sozinhos para podermos dar o melhor de nós quando não o estamos. É a plataforma catártica para a libertação de frustrações, angústias e inseguranças. Nem que isso implique subir ao topo de um penhasco e atirar peças de carro, garrafas e talheres, como tão candidamente Björk exemplifica na letra.
Ao longo de quase cinco minutos e meio, o quarto single do disco mais eufórico da cantora descreve um sonho que a islandesa teve, e que serviu, assim, de inspiração para a sua composição. Assim como a própria mensagem do tema, que não é mais do que uma espécie de bola anti-stresse para manter a chama acesa numa longa relação, também a composição instrumental do tema, criado em parceria com o seu habitual colaborador Nellee Hooper, vai evoluindo. A consistente percussão quase hipnotizante e pequenos apontamentos psicadélicos de eletrónica no refrão dão lugar a um final pós-clímax e apaziguador, a cargo dos instrumentos de cordas.
O teledisco de Hyperballad, de resto, esteve a cargo do francês Michel Gondry, um dos principais parceiros audiovisuais de Björk na sua carreira, tendo sido também o responsável pelos vídeos de Jóga, Bachelorette, Army Of Me, Isobel, Declare Independence e Crystalline.
Música do BioTerra: The Sugarcubes - Regina
Came from the east
Relative forgot
To scrape away
Land in south
Exhausted engine
No teeth
No chance to stop
Meet Johnny
[Verse 2: Björk]
Came from the east
Like the sun
But with tired engine
Regina otherwise magnificent
Regina in good bloom
[Chorus 1: Björk]
Oh oh as old as the sun
Oh oh with white teeth
Oh oh Regina, oh oh Regina
Oh oh Regina, oh oh Regina
[Verse 3: Einar]
Land on islands
Meet Johnny
Examine my red
Basalt cluster
Bottomless dust, terrific sun
And wetting quite nicely thank you
I do say nicely
I do mean that
Actually
[Chorus 2: Björk]
Blow into the chastity belt
Regina, Regina
Oh oh Regina, oh oh Regina
[Verse 4: Einar]
Hex and bitch and
Deserves lobster and fame
Oh, Johnny
Teeth and gums
In my life
Moon and sun
In my life
Lobster and shrimp
In my life
I don't really like lobster (like lobster)
[Verse 5: Björk]
Regina is too old
But the sun is much older
Still the sun with white teeth
But Mrs R. with none
Sun with false teeth
Give me lobster and fame
[Bridge: Einar]
I really don't like lobster!
[Outro: Björk]
Oh oh Regina, oh oh Regina...
sexta-feira, 6 de dezembro de 2024
Boas notícias! Os casais de abutre-preto triplicaram em dois anos em Portugal
Seriamente ameaçado, em Portugal, o abutre-preto (Aegypius monachus) esteve, durante os últimos dois anos, sob a vigilância apertada de um programa nacional de conservação. Em 2022, a Volture Conservation Foundation colocou no terreno o projeto LIFE Aegypius. Financiado pela União Europeia, a iniciativa é apoiada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, contando ainda com a colaboração de ONG como a Rewilding Portugal ou a Quercus.
A espécie foi monitorizada, a população local sensibilizada para a sua proteção, e as aves, quando feridas, tratadas em cativeiro e devolvidas à Natureza. Os esforços foram finalmente recompensados. Há dois anos, os casais que podiam ser vistos a sobrevoar os céus do território nacional eram apenas 40.
O número subiu agora para, pelo menos,108, podendo chegar até 116 casais. A ave, que se encontrava na cetegoria “criticamente em perigo” na lista vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza, desceu um nível e está atualmente em “perigo de extinção”.
Os resultados mostram que os objetivos foram largamente ultrapassados. A duplicação da espécie estava apenas prevista para 2027, data do fim do projeto, mas o seu número triplicou em dois anos. Em 2023, quando foram contabilizados entre 78 e 81 casais nidificantes, o balanço já era animador. O aumento, no entanto, foi encarado com prudência e considerado como um possível reflexo do esforço de monitorização. Apesar dos resultados animadores, o abutre-preto continua muito vulnerável a eventos como incêndios florestais ou tempestades.
A incerteza pairava ainda no ar, mas a contagem de 2024 trouxe alguma confiança de que o acréscimo se deve à expansão natural da espécie e é uma clara consequência das medidas de conservação que têm vindo a ser aplicadas. São boas notícias, mas é cedo para cantar vitória. O abutre-preto continua demasiado exposto aos perigos e há um longo caminho ainda a percorrer.
Expectativas para os próximos anos
Será, por enquanto, arriscado prever que, em 2028, a ave possa entrar na categoria “vulnerável”. A manter-se esta evolução, era o expectável, mas os técnicos envolvidos no projeto advertem que há demasiadas variáveis que não podem ser controladas. Basta um incêndio, uma grande tempestade ou qualquer outro evento que provoque um desequilíbrio acentuado nos habitats para todo o trabalho cair por terra.
É preciso ter ainda em conta a taxa de sobrevivência, um indicador que também melhorou em 2024, alcançado 51%. As cinco colónias do país registaram 48-49 crias que conseguiram ultrapassar o período mais crítico e se tornaram independentes.
Dado o achado tardio, a contagem das aves, neste local em particular, é ainda provisória, entre um e cinco casais e, pelo menos, uma cria. Vidigueira é a agora a quinta colónia de abutres-pretos em Portugal e que se junta às restantes localizadas no Douro Internacional, na fronteira com Espanha, na Serra da Malcata, na Beira Interior, no Tejo Internacional, entre Castelo Branco e Idanha-a-Nova, e na Herdade da Contenda, no Alentejo.
Em Portugal, o abutre-preto nidifica em cinco colónias.
A colónia do Douro Internacional, a mais isolada, passou de três para oito casais nidificantes e expandiu-se para lá da fronteira, sendo também monitorizada pelos técnicos espanhóis.
Na Serra da Malcata o número de casais passou de quatro, em 2021, para 14, em 2023, e para 18 este ano. No Tejo Internacional, onde se encontra a mais antiga colónia (dois casais em 2010), foram monitorizados entre 61 e 64 casais, que tiveram este ano entre 24 e 25 crias. Destes casais, um quarto assentou arraiais em terras espanholas.
A Herdade da Contenda, no município de Moura, conta atualmente com 20-21 casais. Na Vidigueira, distrito de Beja, há cinco ninhos confirmados, mas falta ainda apurar o número total de crias. O projeto, que termina em dezembro de 2027, prevê ainda a monitorização do abutre-preto em zonas protegidas de Espanha, onde foram registados este ano 153 casais.
Mais medidas de proteção nos próximos meses
O balanço de 2024 está feito, mas o trabalho é para continuar. Duas novas medidas vão ser postas em prática já nos meses que se seguem para assegurar que o abutre-preto não volta a desaparecer do país, enquanto espécie nidificante, como aconteceu na década de 1970.O abutre-preto é a maior ave de rapina da Europa.
Com a colaboração de criadores de gado e agricultores, o projeto irá criar campos de alimentação para a espécie, com vigilância sanitária implementada. A estratégia também inclui o setor da caça, que irá apoiar a transição para o uso de munições sem chumbo.
As munições sem chumbo vão ser, como tal, gratuitamente disponibilizadas para acelerar o processo. Sendo aves necrófagas, de resto, os abutres aguentam tudo, carne em avançado estado de decomposição, raiva e todo o tipo de bactérias que provocam infeções mortais em qualquer outro animal.
Uma espécie (quase) invencível
O superpoder do abutre para resistir a quase todas as doenças está no suco gástrico produzido pelo aparelho digestivo. Chega a ser até mil vezes mais ácido do que o nosso, dissolvendo cerca de 60% das toxinas ingeridas. Tudo o que escapa à lavagem gástrica é depois eficazmente combatido por um sistema imunológico à prova de bala. Alterações climáticas, caça e envenenamento por chumbo são alguns dos perigos a ameaçar os abutres.
As bactérias agarradas às penas, no entanto, poderiam ser um problema para os outros animais em contacto com os abutres. Mas é precisamente por isso que as aves são carecas. Conseguindo enfiar a cabeça nas carcaças sem contaminar as penas, anulam o perigo de espalhar doenças. Além disso, ao urinarem sobre os pés, o ácido úrico trata de desinfetar tudo à sua volta, tornando-os inofensivos para o meio ambiente.
Não fossem as alterações climáticas e a atividade humana, o abutre seria praticamente invencível. Além do chumbo das munições da caça, os fármacos, em especial os antibióticos, usados na pecuária, podem enfraquecer o seu sistema imunológico e serem fatais para uma espécie vital no equilíbrio do ecossistema das zonas rurais. Fonte
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