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Fogo no parque da Peneda-Gerês já consumiu cerca de seis mil hectares (dados de 31 de Julho) |
Por Nuno Gomes
Todos os anos, alguns com extrema gravidade, observamos a calamidade dos fogos florestais em Portugal. Portugal é o país da Europa que mais arde, tanto em termos absolutos como relativos, ultrapassando Espanha e Roménia por largos ha, com uma média anual de 155.000 ha ardidos.
A tragédia de Pedrógão, em 2017, quando arderam mais de 500.000 ha, mais que em toda a Comunidade Europeia, lançou o alerta e foram identificados vários problemas no território, como o abandono florestal, o descontrolo urbanístico, o aumento da temperatura no Verão que torna a floresta mais inflamável e, claro, a expansão do eucalipto. A IA diz, com uma elevada carga de humor, que não é fácil plantar eucaliptos em Portugal. De facto foram estabelecidas regras e hoje não deveria ser possível plantar ou rearborizar eucaliptos sem autorização do ICNF, não se devia plantar em área de Rede Natura 2000, mas como se viu no Gerês é o que mais há por lá, a menos de 5 m do vizinho florestal ou de linhas de água temporárias (na prática as linhas de água de escorrência das encostas deviam ter faixas de 10 m sem eucaliptos), a 10 m dos terrenos agrícolas e linhas de água permanentes, e a 30 a 50 m das linhas de água navegáveis.
E não se pode plantar onde não tenham existido eucaliptos nos últimos 10 anos. Contudo, o que se observa na prática é uma eucaliptação progressiva de Portugal, ultrapassando o eucalipto os 1,2 milhões de ha, a maior área florestal, que já pertenceu ao pinheiro-bravo, seguido do sobreiro. Qualquer pessoa pode na prática plantar eucaliptos nas suas propriedades sem regras porque o ICNF não fiscaliza, ou porque não tem meios ou porque os votos dos proprietários são importantes para os partidos no poder.
Em breve, teremos um país totalmente eucaliptado, escarrando em todas as normas legais e do bom senso. E todos os anos teremos o drama de 2017 e deste ano, que só agora começou e ameaça tornar-se no pior de todos, com maior ou menor intensidade.
Bastava que os eucaliptais que continuam a nascer ilegalmente tivessem mão pesada nas multas, que as celuloses fossem responsáveis e fizessem pedagogia nas suas próprias plantações e cumprissem as regras mínimas a que estão sujeitas, plantando, por exemplo, folhosas em todas as faixas onde os seus eucaliptos não podem estar, etc.
Mas não, vivemos numa república das bananas onde as regras não são para cumprir mas para contornar.
E não se pense que a máfia do eucalipto são as celuloses, são todos os que contornam as regras e aqueles que o permitem, ou seja, todos ou quase todos nós!
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