Não há quem não deteste as moscas-varejeiras que se reconhecem pela coloração verde metálico: anunciam sempre algum azar, ou carne para o almoço que se está a estragar ou alguma ferida aberta num dos animais de companhia. Conheço-as bem, pois morreram-me vários cães com ataques fulminantes de moscas-varejeiras, na sequência de pequenas feridas provocadas por sarugas.
Contudo, tenho de reconhecer que cumprem um dos “serviços dos ecossistemas” de maior relevância: a eliminação de cadáveres e de animais debilitados. A varejeira, de seu nome “Lucilia sericata” dispõe de um olfato apuradíssimo que deteta os odores que os cadáveres emanam aos primeiros sinais de decomposição, a muito longa distância. Em poucos minutos, "Lucília" marca presença, depositando os seus ovos nas cavidades do corpo, que encontrar. O primeiro estádio larvar alimenta-se de fluidos, mas o segundo, embora seja desprovido de cabeça propriamente dita, dispõe de mandíbulas que lhes facultam a penetração através da pele. O ciclo de vida é rápido; em pouco tempo haverá mais moscas! Não tantas quanto seria de esperar pois os “asticots” (larvas) , como elas se chamam na gíria dos pescadores, são muito apreciadas pelos pássaros!
Esta característica da varejeira fá-la um precioso auxiliar dos investigadores forenses, como a série americana CSI por vezes mostra: conhecendo-se a cronologia do desenvolvimento larvar, consegue-se estimar aproximadamente a hora da morte.
Claro que as "lucílias" não agem sozinhas; o processo de decomposição dos cadáveres envolve uma miríade de micróbios, de outros insetos, nomeadamente de moscas, de aves e mamíferos. Mas o que é significativo na ação deste inseto, e que merece ser realçado, é que lhes cabe ainda uma outra missão: a disseminação dos gérmens da decomposição: de cadáver em cadáver, nos pelinhos das patas, viajam as bactérias e os fungos que, inoculados num novo cadáver, irão executar a decomposição da matéria orgânica, libertando odores nauseantes.
O néctar é, para elas, como gasolina. Têm de vir abastecer-se de energia nas flores e "en passant", vão transportando algum pólen.
Não digam mal das "Lucilia" ! Muitos soldados escaparam à morte, em contexto de guerra graças a elas. Os “asticots” são usados para tratar feridas expostas em risco de gangrenar; as larvas limpam as feridas, comendo os tecidos necrosados, mas poupando os sãos até que chegue um socorro medicinal.
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