Numa petição tornada pública esta terça-feira e que pode ser assinada aqui, mais de cem personalidades exigem que o Estado português tome finalmente a decisão de reconhecer o Estado da Palestina. Os promotores entendem que o "reconhecimento do Estado da Palestina por parte de um grande número de países é, hoje, uma forma eficaz de, no plano diplomático, demonstrar a solidariedade para com o povo palestiniano e pressionar o governo israelita a pôr fim à escalada de violência contra as populações de Gaza e da Cisjordânia". E concluem que “apenas o reconhecimento do direito do povo palestiniano a constituir o seu próprio Estado permitirá abrir um horizonte de esperança num futuro de paz para a região”.
"Os abaixo-assinados não admitem ser testemunhas silenciosas ou passivas destes crimes. Ao condená-los, recordam décadas de violência e humilhações contra o povo palestiniano", diz o documento citado pela agência Lusa e que é subscrito por figuras do meio académico e cultural como António Sampaio da Nóvoa, Júlio Machado Vaz, Maria de Lurdes Rodrigues, Teresa Violante, Vital Moreira, Pilar del Rio, Ana Bacalhau, Capicua, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, Sérgio Godinho ou Rui Reininho. No plano político, além de Sampaio da Nóvoa, a lista de promotores conta ainda com outra antiga candidata presidencial, Ana Gomes, os ex-deputados bloquistas Alda Sousa, João Teixeira Lopes e José Manuel Pureza, o ex-presidente da Assembleia da República Ferro Rodrigues e um antigo secretário de Estado do governo de Passos Coelho, Bruno Maçães, entre outros atuais e ex-parlamentares.
O texto diz ainda que os signatários seguem "com crescente preocupação o agravamento das violações de direitos humanos e da lei humanitária internacional, os crimes de guerra e a escalada de violência sobre civis em Gaza e na Cisjordânia". Além do reconhecimento do Estado da Palestina, os signatários querem que Portugal se comprometa com as deliberações do Tribunal Penal Internacional, “nomeadamente apoiando o cumprimento de mandados de captura contra Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e Yoav Gallant, ex-Ministro da Defesa de Israel” e que o nosso país “impossibilite o trânsito e o transbordo de material militar destinado a Israel em território português ou águas territoriais portuguesas e adote as políticas necessárias para garantir que entidades jurídicas privadas registadas na jurisdição portuguesa cessem a prestação de serviços utilizados por Israel nas suas operações militares em Gaza”.
Em declarações ao Público, Sampaio da Nóvoa explicou o seu apoio a esta iniciativa, dizendo que “ao longo da História, foi pelo silêncio de muitos, e que tantas vezes foram as vítimas seguintes, que se cometeram as maiores barbaridades. Não podemos ficar em silêncio.”
Noutra iniciativa, que junta 146 “personalidades que, de um ou outro modo, trabalham em ligação com a infância”, na maioria escritores e ilustradores, também se defende que “ante o massacre de milhares de crianças e outros palestinos em Gaza, não seremos cúmplices pelo silêncio”. Segundo a agência Lusa, o abaixo assinado dinamizado pelas ilustradoras Ana Biscaia e Inês Oliveira e pelo escritor João Pedro Mésseder juntou escritores como Alice Vieira, Álvaro Magalhães, Ana Filomena Amaral, António Mota, José Fanha, Luísa Ducla Soares e Rita Taborda Duarte e ilustradores como André Carrilho, Catarina Sobral, Madalena Matoso, Mariana Rio, Rachel Caiano e Yara Kono. “Denunciamos e repudiamos o genocídio”, afirmam os signatários, considerando que “um mundo de paz é possível”.
Outro manifesto divulgado na semana passada juntou mais de 230 escritores de língua portuguesa num apelo ao cessar-fogo imediato na Palestina e em defesa da “entrada urgente de ajuda humanitária nos territórios ocupados”. A iniciativa foi da Fundação José Saramago e juntou nomes como Lídia Jorge, Teolinda Gersão, Chico Buarque, José Eduardo Agualusa, Mia Couto e Mário Lúcio Sousa. Iniciativas semelhantes ocorreram no Reino Unido e Irlanda e também em França.
Hoje , 4 de junho, o MPPM convoca uma manifestação em solidariedade com a Palestina e pelo fim do genocídio, com ponto de partida às 18h no Largo do Chiado. O protesto seguirá até ao Largo 1.º de Dezembro.
“Ajuda” israelita já matou mais de 100 nas filas
Os massacres da população faminta em Gaza são agora diários, com as tropas de Israel a abrirem fogo sobre os deslocados que se dirigem aos centros de distribuição de alimentos geridos por uma organização patrocinada por Israel e EUA. Na manhã de terça-feira, os disparos fizeram pelo menos 27 mortos e dezenas de feridos num desses pontos em Rafah.
Um porta-voz da Cruz Vermelha disse à Reuters que o seu hospital de campanha recebeu 184 vítimas, dos quais 19 foi declarado o óbito à chegada, tendo outros oito morrido pouco depois devido aos ferimentos. As autoridades de Gaza elevam para 102 o número de mortos nestes pontos de distribuição de alimentos na última semana.
“Atacar os famintos enquanto procuram o seu sustento revela a natureza deste inimigo fascista, que usa a fome e os bombardeamentos como armas de morte e de deslocação, como parte de um plano sistemático para esvaziar Gaza da sua população”, afirmou o Hamas, considerando o processo promovido pelos israelitas e estadunidenses à margem das redes de apoio da ONU e das ONG no terreno como “uma armadilha de morte e humilhação”
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