quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Pintura- Piet Mondrian (1872 - 1944)

Farmhouse with Wash on the Line, ca.  1897  

Piet Mondrian (1872-1944) foi um pintor holandês que despontou no começo do século XX e a sua obra virou um símbolo poderoso da modernidade.

Pieter Cornelis Mondrian, conhecido como Piet Mondrian, nasceu em Amersfoort, Holanda, no dia 7 de março de 1872. Filho de um pastor cresceu num ambiente extremamente religioso.

Em 1892 ingressou na Academia Real de Artes de Amsterdão. Quando era iniciante pintava paisagens, mas já revelava uma inquietação peculiar ao moldar a natureza, os moinhos e as igrejas com uma visão geométrica do mundo.

As suas obras mais antigas seguiram o estilo da Escola de Haia e dos impressionistas de Amsterdão. Por volta de 1909 começou a pintar num estilo mais abstrato. Ao longo dos anos, objetos e paisagens foram-se decompondo em traços básicos. Para Mondrian o mínimo era o máximo. “Na natureza, a superfície das coisas é bela, mas sua imitação é sem vida”, dizia ele.

Na base da pintura de Mondrian estava uma utopia de fundo religioso. Ele era entusiasta da Teosofia - doutrina esotérica criada pela russa Madame Blavatsky. Como fruto da filosofia humanista e espiritual sincrética extraiu a noção de que por baixo da matéria, uma engrenagem básica constituiria a essência do mundo.

Ao abraçar a abstração continuou pintando flores, símbolo universal feminino para a Teosofia (também as pintava porque ninguém comprava as suas telas abstratas).


Mondrian e a verdade que ascende a natureza


Segundo Piet Mondrian existem duas inclinações humanas, diametralmente opostas, para produzir arte: uma que é expressão de uma beleza universal e outra que é expressão de uma estética individual.

A primeira inclinação pretende representar uma realidade de forma objetiva, e a segunda de forma subjetiva. Mondrian afirma que toda a história da cultura demonstra que a beleza universal da arte não está associada a uma característica particular da forma, mas sim associada às relações que se estabelecem a um ritmo dinâmico, dos elementos que lhe são inerentes.

Revela também que as formas existem somente para criar novas relações, e que as formas criam relações e as relações criam formas.

Para Mondrian, um dos problemas mais importantes da arte está em atingir um equilíbrio entre o subjetivo e o objetivo. Mas é sobretudo importante encontrar a solução do problema da arte através do ato de fazer, e não do ato de pensar.

O artista deve então ser o mais objetivo possível na representação das formas e das suas relações. E este trabalho nunca será assim vazio, porque a oposição dos elementos construtivos e a sua execução trazem consigo emoções.

A expressão universal só existe através do real equilíbrio entre o universal e o individual. Gradualmente, a arte purifica-se.

Mondrian acredita que a evolução da arte torna o homem consciente para o facto de que o tempo é um processo de intensificação (aprofundamento e não extensão) – uma evolução do individual para o universal, do subjetivo para o objetivo, para revelar a essência das coisas e do homem.

Amar as coisas na realidade significa amá-las profundamente e vê-las como microcosmos inserido no macrocosmos – só assim, segundo Mondrian, é possível atingir a universal expressão da realidade: «A arte - ainda que seja um fim em si mesma, como a religião - é o meio através do qual podemos conhecer o universal».

Mondrian acreditava que a simplicidade deveria ser o estado ideal da humanidade. Graças à teosofia, tomou consciência de que a arte poderia fornecer uma transição para as regiões mais belas pertencentes ao reino espiritual.

A importância da horizontal e da vertical revelada por Helena Petrovna Blavatsky em "Isis Unveiled" (1877) e "The Secret Doctrine" (1888) permitiu a Mondrian apreender a significação mística dos símbolos geométricos, tais como o triângulo e a cruz.

Blavatsky constrói igualmente a teoria do ortogonal, referindo-se à perpendicular celeste e à linha de base terrestre horizontal, e fazendo correspondência à vertical, como princípio masculino, e à horizontal, como princípio feminino. Na visão de Blavatsky, a cruz, interseção de duas linhas, exprime a conceção mística e única da vida e da imortalidade.

Ao encontrar a sua expressão na forma e na cor, isto é, na linha reta e na cor primária claramente definida, Mondrian desejava refletir acerca de uma realidade mais elevada ou uma verdade que transcendesse a natureza, na certeza de que ao prosseguir com esta procura poderia aceder a uma compreensão e a um conhecimento mais sublime.

Tanto Mondrian como Blavatsky acreditavam que arte e religião caminhavam em direções paralelas, ambas com um principal objetivo, o de transcender a matéria.

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