Por José Carlos Marques
A longevidade acrescida dos humanos na nossa época tem sido motivo de três conclusões possivelmente erradas:
1 - que essa longevidade continuará a aumentar nas gerações dos que hoje têm 60, 50 ou 40 anos, abstraindo do facto de que os atuais centenários e nonagenários nasceram e cresceram num mundo muito menos contaminado que o atual
2 - que essa longevidade significa melhor saúde, independentemente da maneira como é vivida com ou sem doença
3- que ela justifica o aumento da idade da reforma e o torna mesmo imprescindível.
A terceira conclusão é óbvia exploração interessada do otimismo decorrente dos pontos 1 e 2.
Daí o interesse de uma notícia inserida no P2 de 15 de dezembro do jornal Público, assinada por Ana Gerschenfeld, e que parece confirmar no caso dos EUA observações intuitivas já feitas em relação à experiência corrente de alguns, em países europeus.
Não se subestima a vantagem de viver com mais longevidade sem uma saúde perfeita mas com doenças periféricas, controláveis sem efeitos notáveis sobre a qualidade de vida. O mesmo já não se pode dizer das doenças letais adiante referidas, a que se poderiam juntar outras, mais terríveis talvez, como Alzheimer e Parkinson.
"O aumento de esperança de vida nos EUA não tem sido acompanhado de um aumento dos anos vividos de boa saúde, conclui um estudo no Journal of Gerontology. "Sempre partimos do princípio de que cada geração iria ser mais longeva e saudável do que a anterior", explica Eileen Crimmins, da Universidade da California do Sul e coautora do trabalho. "Porém, a compressão da morbilidade [doença] talvez seja tão ilusória como a imortalidade." E não é simplesmente como se poderia pensar - segue-se uma frase manifestamente mal traduzida que corrigirei a seguir -, por as pessoas viverem mais anos que vivem mais anos doentes. (Tem que ser "menos anos doentes" ou então "que vivem mais anos sem doença"). O estudo revelou, de facto, que ao passo que, em 1998, um homem de 20 anos podia esperar viver mais 45 anos sem sofrer de pelo menos uma das principais causas de morte - doença cardiovascular, cancro, diabetes -, esse número desceu, em 2006, para 43,8 anos. Do lado das mulheres, essa expectativa caiu de 49,2 anos para 48 anos. Isto significa que as populações dos países ocidentais terão perdido mais de um ano de qualidade de vida na última década. "Existem indícios substanciais que sugerem que até à data pouco fizemos para eliminar ou adiar as doenças, apenas conseguimos impedir que as pessoas morram dessas doenças", acrescenta Crimmins."
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