A proposta da União Europeia para restringir a importação de commodities agrícolas associadas ao desmatamento é a nova grande dor-de-cabeça do comércio exterior brasileiro. Em entrevista ao Financial Times, o chanceler Carlos França disse que as exigências europeias configuram “protecionismo comercial” contra os produtores brasileiros. “O que eu não posso aceitar é usar o meio ambiente como uma forma de protecionismo comercial. É ruim para os consumidores [e] para os fluxos comerciais”, afirmou o diplomata. Folha, O Globo e Poder360 repercutiram a entrevista de França ao FT.
O que o chanceler não fala é a razão pela qual o Brasil está nessa posição vulnerável: o descontrole sobre o desmatamento na Amazônia, que cresceu quase 22% no último ano e que não dá qualquer sinal de que vá se reduzir no curto prazo. Confrontado com esses dados, França reconheceu que os números do desmatamento são “surpreendentes”, mas que eles “não são tão ruins quanto parecem” porque, de acordo com o governo, a situação na Amazônia teria se estabilizado depois de julho.
Seria importante que ele dissesse de onde tirou esta informação: de acordo com o sistema DETER/INPE, os meses de agosto, setembro e outubro passados figuraram no top 3 da série histórica de desmatamento. Agosto (918,24 km2) ficou como o 3º mês com mais alertas de desmatamento, setembro (948,61 km2) foi o 2º e outubro (876,56 km2), o 1º.
Enquanto prefere chorar, o Brasil fica para trás na corrida por uma economia descarbonizada e competitiva. “Existe uma questão que é óbvia, que são informações relacionadas ao desmatamento e às emissões de carbono. Esses dados são cada vez mais públicos e mais percebidos não só pelos governos estrangeiros, mas também pelo consumidor estrangeiro”, observou Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior, a’O Globo. “Nos dois casos, o Brasil evidentemente tem um dever de casa muito grande para implementar”.
O Globo também destacou o tamanho do impacto potencial dessas exigências à balança comercial brasileira: quase US$ 50 bilhões em exportações podem estar ameaçadas, o que representa 20% de todas as vendas internacionais do país em 2020.
ClimaInfo, 30 de novembro de 2021.
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