Em Junho a murta (Myrtus communis) encontra-se no seu pico de floração. Este é um dos arbustos mais emblemáticos da flora portuguesa, contudo, já foi mais comum na nossa paisagem. Incêndios, secas prolongadas e lavouras reduziram drasticamente a sua ocorrência.
Ocorre perto de linhas de água e barrancos, bermas de estradas e caminhos, sebes e taludes, preferencialmente em encostas mais frescas e umbrias. Os seus frutos e as suas folhas podem ser utilizados em fitoterapia, como condimento ou na alimentação humana.
Curiosamente, a flor da murta surge ligada à História de Portugal. Luísa Clara de Portugal (1702-1779), fidalga natural de Lisboa, ficou conhecida pela sua relação extraconjugal com o rei D. João V. Já era casada e mãe de três filhos quando iniciou a sua relação com o rei, de quem teve uma filha, Maria Rita Gertrudes de Portugal, que foi freira no Convento de Santos-o-Novo. Após terminar o caso com D. João V, foi amante do Duque de Lafões, de quem teve uma filha, D. Ana de Bragança. Pela sua beleza, ficou conhecida na Corte como a Flor de Murta, e deu origem a uma canção, cuja autoria alguns atribuem ao próprio rei D. João V:
Oh! flor da murta
Raminho de freixo
Deixar d'amar-te
É que t'eu não deixo.
Morrer sim
Mas deixar-te não
Oh! flor da murta
Amor do meu coração.
Oh! flor da murta
Do meu coração
Deixar d'amar-te
Ai não deixo, não.
Tal como defendeu Jorge de Sena, a sociedade portuguesa não conheceu o puritanismo protestante. O adultério foi tolerado, desde que com discrição e “sem escândalo público”. É assim a arte portuguesa de amar.
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