quarta-feira, 25 de junho de 2025

Qual pode ser o caminho?


Por Luísa Ferreira Nunes
O crescente afastamento dos seres humanos em relação à natureza não representa um avanço civilizacional, mas antes uma forma de regressão ecológica e cognitiva. Perdemos a consciência de que somos parte integrante dos sistemas naturais, e que estes incorporam mecanismos adaptativos e inteligência evolutiva desenvolvidos ao longo de milhões de anos.
Ao negligenciar esta interdependência, desenvolvemos uma ilusão de autonomia tecnológica e cultural que nos levou a subestimar os limites biofísicos do planeta. Esta ignorância ecológica tem custos elevados: colapso dos ecossistemas, erosão da biodiversidade, disfunções metabólicas colectivas (como o aumento da ansiedade, da alienação social e da perda de propósito) e uma crescente sensação de vazio existencial.
Do ponto de vista ecológico, o colapso de um sistema ocorre quando a pressão externa ou interna ultrapassa a sua capacidade de resiliência. Neste ponto crítico, a adaptação incremental deixa de ser viável, e ocorre uma falência sistémica, obrigando a uma reorganização estrutural. Este fenómeno é bem documentado na ecologia de sistemas e segue padrões identificáveis, como os observados actualmente nas sociedades humanas: conflitos armados, polarização ideológica, crises humanitárias e colapsos climáticos.
A natureza demonstra que a regeneração só é possível após a desagregação da estrutura anterior. E o novo sistema que emerge não é uma réplica do anterior, é um sistema reorganizado, frequentemente mais simples ou adaptado a novas condições. A ideia de “nunca mais” não é um juízo moral, mas uma inevitabilidade biológica: quando um sistema se torna insustentável, o retorno ao estado anterior não é possível.
A transição para formas mais sustentáveis de organização exige reconhecer este princípio e reestabelecer o vínculo cognitivo e funcional com os sistemas naturais. A verdadeira evolução cultural e ecológica começa quando compreendemos, de forma plena, de onde vimos, e para onde não podemos voltar.

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