Na mitologia Tupi-Guarani, Anhá é o espírito maléfico da Onça Celeste que devora a Lua, formando o eclipse lunar. Durante esse terrível ataque, a Lua perde muito sangue, ficando completamente avermelhada. Esse mito é um entre tantos outros que explicam os eclipses.
O eclipse lunar chamado "Lua Vermelha" ou "Lua de Sangue" tem fascinado culturas em todo o planeta, e inspirado mitos e lendas curiosos, muitos dos quais retratam o evento como um presságio. Isso não é surpresa, visto que qualquer coisa que interrompa os ritmos regulares do Sol ou da Lua têm forte impacto sobre nós e nossas vidas.
Maldade da lua
Para muitas civilizações antigas, a “lua de sangue” vem com intenções demoníacas. O povo inca interpretava o colorido vermelho profundo como um jaguar atacando e comendo a lua. Acreditavam que o jaguar voltaria então sua atenção para a Terra, de modo que as pessoas gritavam, agitavam suas lanças e faziam seus cães latir e uivar, esperando fazer barulho suficiente para afastar o jaguar.
Na Mesopotâmia antiga, um eclipse lunar era considerado um ataque direto ao rei. Dada sua habilidade de prever um eclipse com razoável precisão, eles colocavam um procurador do rei enquanto durava o fenômeno. Alguém considerado dispensável (não era um cargo popular…) representava o monarca, enquanto o verdadeiro rei se escondia e esperava o eclipse passar. O rei substituto então desapareceria, convenientemente, e o velho rei era reconduzido ao trono.
Algumas lendas hindus interpretam os eclipses lunares como resultado do demónio Rahu beber o elixir da imortalidade. Deidades gémeas, o Sol e a Lua logo decapitavam Rahu, mas como ele havia tomado o elixir, sua cabeça permanecia imortal. Buscando vingança, a cabeça de Rahu caça o Sol e a Lua para devorá-los. Quando os alcança temos um eclipse – Rahu engole a Lua, que reaparece em sua cabeça cortada. Para muitos povos na Índia, um eclipse lunar traz má sorte. Água e comida são protegidos, e são realizados rituais de limpeza. Mulheres grávidas não deviam comer ou fazer serviços domésticos, de modo a proteger a criança não nascida.
Uma face mais amistosa
Mas nem todos os mitos sobre o eclipse são marcados por tais maldades. As tribos de nativos americanos Hupa e Luiseño, da Califórnia, acreditavam que a Lua estava ferida ou doente. Depois do eclipse, precisava então ser curada, seja pelas esposas da Lua ou pelos homens da tribo. Os Luiseño, por exemplo, cantavam canções de cura para a lua escura.
Muito mais edificante é a lenda do povo Batammaliba, do Togo e Benin, na África. Tradicionalmente, eles viam o eclipse lunar como um conflito entre o Sol e a Lua – um conflito que o povo precisa encorajá-los a resolver. É, portanto, um tempo em que antigas disputas devem ser colocadas de lado – uma crença que permanece até hoje.
No Tahiti, segundo um guia de eclipses escrito por Sheridan Willians, da Associação Britânica de Astronomia, o fenómeno ganha uma face romântica. Isto porque o eclipse seria uma sessão de amor entre o Sol e a Lua.
Nas culturas islâmicas, os eclipses tendem a ser interpretados sem superstição. No Islão, o Sol e a Lua representam respeito profundo a Alá. Por isso, durante um eclipse são cantadas preces especiais, inclusive a Salat-al-khusuf, uma “prece para o eclipse lunar”. Ambas pedem perdão a Alá, e reafirmam sua grandeza.
Dragão ou viking, agora escolha
Para os chineses a lua vermelha brilhante era um dragão, já para os vikings era um lobo-do-céu.
Uma história ilusória
Voltando ao sangue, o cristianismo equiparou o eclipse lunar à ira de Deus, associando-o frequentemente com a crucificação de Jesus. É notável que a Páscoa seja o primeiro domingo depois da primeira lua cheia da primavera, assegurando assim que um eclipse nunca cairá no domingo de Páscoa, que marca, potencialmente, o Dia do Julgamento.
Apocalypse Now
Um dos mitos mais propalados nos EUA tem a ver com a Bíblia. De acordo com o salmo Joel 2:31: “O Sol transformar-se-á em trevas e a Lua em sangue antes que venha o grande e terrível dia do Senhor.”
Um dos mitos mais propalados nos EUA tem a ver com a Bíblia. De acordo com o salmo Joel 2:31: “O Sol transformar-se-á em trevas e a Lua em sangue antes que venha o grande e terrível dia do Senhor.”
Origem
O termo “lua de sangue” foi popularizado em 2013, após o lançamento do livro Quatro Luas de Sangue, do pastor John Hagee. Ele promoveu a crença apocalíptica conhecida como “profecia da lua de sangue”, destacando uma sequência lunar de quatro eclipses totais que ocorreram em 2014 e 2015. Hagee nota que os quatro caíram em feriados judaicos, o que aconteceu apenas três vezes antes – cada um deles, aparentemente, marcado por maus eventos.
A profecia foi rejeitada por Mike Moore (secretário geral dos Testemunhas Cristãs para Israel) em 2014, mas o termo ainda é usado regularmente pela media e tornou-se um sinônimo preocupante de eclipse lunar. Diante disso e das duradouras superstições, é inútil para os comunicadores da ciência tentar lembrar que não há nada a temer na chamada “lua de sangue”. O fenómeno pode ser impressionante e o mais longo do século, mas é simplesmente um eclipse.
Assim, ao usar o termo “lua de sangue” estamos combinando superstição com ciência, do mesmo modo que a lenda hindu de Rahu fornece uma descrição lendária da mecânica orbital lunar.
Facto - para a Astronomia, os eclipses ocorrem quando um corpo celeste transita na região da sombra de outro, como, o eclipse lunar total. Nesta efeméride, a Lua, em sua fase cheia, transita na região da sombra da Terra. A refração da luz solar na atmosfera da Terra atinge a Lua, deixando-a com a coloração avermelhada. A “lua de sangue” atrai interesse para o céu e eclipses lunares, mas ao invés de esperar julgamento, destruição e outras lendas, melhor vê-la como uma ilustração monumental dos movimentos fascinantes e reais do nosso sistema solar.
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