"A perda de habitat, estimulada principalmente pela expansão humana – através do desenvolvimento de terrenos para habitação, agricultura e comércio – é a maior ameaça enfrentada pela maioria dos animais, seguida da caça e pesca. "
Fonte: Nat Geo, 2019 |
Grande parte dos animais que aqui mostramos fazem parte das mais de 28.000 espécies de animais e plantas que a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) afirma estarem em perigo de extinção. Mas, na realidade, este número é muito mais elevado. Em 1964, a UICN estabeleceu uma “lista vermelha” para as espécies ameaçadas e começou a compilar dados recolhidos pelo mundo inteiro. Esta lista tornou-se no banco de dados global mais proeminente sobre as ameaças sofridas pela vida selvagem – e uma ferramenta essencial para as políticas de conservação. Porém, das mais de 1.500 milhões de espécies de animais, e mais de 300.000 espécies de plantas, a UICN só conseguiu avaliar cerca de 106.000 espécies – já descritas e nomeadas por cientistas. Esta estimativa, acreditam os cientistas, não representa sequer 25% da realidade. O relatório publicado recentemente na Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos, sobre a crise na biodiversidade, estimava que esta extinção ameaça perto de 1 milhão de espécies animais e vegetais, conhecidas e desconhecidas. Até 2020, a UICN espera aumentar o número de avaliações de espécies para as 160.000. E a seguir, na agenda da convenção internacional: uma "lista verde" para os sucessos de conservação. Será muito mais curta do que a vermelha.
A perda de habitat, estimulada principalmente pela expansão humana – através do desenvolvimento de terrenos para habitação, agricultura e comércio – é a maior ameaça enfrentada pela maioria dos animais, seguida da caça e pesca. Os habitats, mesmo que não se percam na sua totalidade, podem sofrer alterações às quais os animais não se conseguem adaptar. As vedações fragmentam pastagens e a indústria madeireira dizima áreas de floresta, destruindo os corredores migratórios; os rios estão a ficar tóxicos com a poluição; os pesticidas matam com um alcance vasto e de forma indiscriminada. E para cada uma destas ameaças locais, é preciso adicionar, cada vez mais, as ameaças globais: o comércio de vida selvagem, que propaga doenças e espécies invasoras de um lugar para o outro, e as alterações climáticas, que eventualmente afetarão todas as espécies da Terra – começando pelos animais que vivem em montanhas frias ou que dependem do gelo polar. Todas estas ameaças estão ligadas, direta ou indiretamente, aos humanos e ao aumento da nossa presença. Grande parte das espécies enfrenta diversas ameaças. Algumas conseguem adaptar-se a nós; outras desaparecem.
Se vivêssemos em tempos normais – no sentido de tempo a longo prazo e sem o ritmo de uma época geológica – seria quase impossível assistirmos ao desaparecimento de uma espécie. Tal evento ocorreria muito raramente para alguém o conseguir testemunhar no seu tempo de vida. No caso dos mamíferos, o grupo de animais mais bem estudado, o registo fóssil indica que a taxa de extinção "de fundo", a que prevalecia antes de os humanos entrarem em cena, era tão baixa que, ao longo de um milénio, só desaparecia uma única espécie.
Mas, como é óbvio, não vivemos em tempos normais. Para onde quer que olhemos, as espécies estão a diminuir. Só na última década, extinguiram-se duas espécies de mamíferos: um morcego conhecido por pipistrelle-da-ilha-do-natal, e um roedor, o Melomys rubicola.
A UICN tem mais de 200 espécies e subespécies de mamíferos listadas em perigo crítico. Em alguns casos, como o rinoceronte-de-sumatra, ou a vaquita – uma toninha nativa do Golfo da Califórnia – restam menos de 100 indivíduos. E noutros casos, como o baiji (também conhecido por golfinho do rio Yangtze), a espécie, embora ainda não esteja oficialmente declarada extinta, provavelmente desapareceu.
Infelizmente, o que acontece com os mamíferos também acontece com quase todos os outros grupos de animais: répteis, anfíbios, peixes e até insetos. Hoje, as taxas de extinção acontecem a um ritmo que é centenas – ou talvez milhares – de vezes mais acentuado do que a taxa de fundo. Estas taxas são tão elevadas que os cientistas afirmam que estamos à beira de uma extinção em massa.
A última extinção em massa, que aconteceu nos dinossauros há cerca de 66 milhões de anos, deveu-se ao impacto de um asteroide. Hoje, a extinção é provocada por fatores mais difusos: exploração madeireira, caça furtiva, propagação de patógenos, alterações climáticas, pesca em excesso e acidificação dos oceanos.
Se rastreamos as causas destes eventos até ao seu início, o culpado é sempre o mesmo. “Os humanos são a primeira espécie na história da vida a tornarem-se numa força geofísica”, diz o grande naturalista Edward O. Wilson. Muitos cientistas argumentam que entrámos numa uma nova era geológica – o Antropoceno, ou idade do homem. Por outras palavras, desta vez, o asteroide somos nós.
Pensar numa espécie, sejam macacos ou formigas, é como responder a uma questão: como viver no planeta Terra? O genoma de uma espécie é como se fosse um manual de instruções; quando a espécie desaparece, o manual desaparece. Neste sentido, estamos a pilhar uma biblioteca – a biblioteca da vida. Em vez de Antropoceno, Wilson apelidou a era em que estamos a entrar de Eremozóico – a era da solidão.
O livro mais recente de Elizabeth Kolbert, The Sixth Extinction, venceu o prémio Pulitzer. O fotógrafo Joel Sartore tem sido chamado de Noé dos tempos modernos, por ter construído a Photo Ark, a maior coleção do mundo de fotografias de estúdio de animais.
Photo Ark é um projeto conjunto da National Geographic e Joel Sartore. Descubra mais em natgeophotoark.org
Sem comentários:
Enviar um comentário