Na Dinamarca, há uma hora por semana em que não se aprende matemática, nem ciências, nem se conjuga o verbo "ter" — aprende-se, antes, a conjugar o verbo "ser".
Chama-se Klassen Tid, a “Hora da Classe”, mas bem poderia chamar-se a “Hora do Coração”.
Ali, entre mochilas, lápis e silêncios miúdos, as crianças aprendem a arte esquecida de se ouvirem umas às outras — com atenção, com alma.
Aos olhos do mundo, parece coisa pequena: falar de sentimentos na escola.
Mas os dinamarqueses, entre os povos mais felizes do planeta segundo o World Happiness Report (2024), sabem que não se constrói bem-estar sem empatia — esse cimento invisível que une o eu ao outro¹.
Durante essas sessões, dos 6 aos 16 anos, os alunos partilham dores, medos, pequenas vitórias.
Aprendem a escutar sem interromper. A respeitar sem julgar.
Os professores, mais que transmissores de conteúdos, tornam-se guias do sentir.
São jardineiros emocionais, regando com cuidado o terreno fértil da infância.
A prática tem respaldo na ciência. A psicóloga e investigadora norte-americana Michele Borba, no seu livro Unselfie², demonstra que ensinar empatia desde cedo reduz o bullying, melhora a performance académica e reforça a resiliência emocional.
Um estudo da University of Cambridge³ revela que crianças com maior inteligência emocional revelam melhores resultados em leitura e resolução de problemas — competências essenciais no século XXI.
E o próprio Ministério da Educação da Dinamarca reconhece o papel da Klassen Tid, obrigatória desde 1993, como elemento estruturante da formação cidadã⁴.
Num tempo em que as crianças são tantas vezes moldadas para competir, ali ensina-se a cooperar.
Num mundo onde se corre atrás do sucesso, ali aprende-se a parar para sentir.
Porque, no fundo, de que vale saber tudo sobre o universo, se não se compreende o que se passa dentro de nós ou do colega do lado?
Esta lição vinda do Norte traz um sussurro urgente aos restantes sistemas educativos:
Educar não é apenas formar profissionais é formar pessoas.
E, talvez, um mundo mais justo comece assim: numa sala de aula, com miúdos de olhos abertos e corações disponíveis.
Referências
1.World Happiness Report 2024 – Sustainable Development Solutions Network. Dinamarca aparece consistentemente entre os três primeiros países mais felizes do mundo.
2.Borba, M. (2016). Unselfie: Why Empathetic Kids Succeed in Our All-About-Me World. Touchstone.
3.University of Cambridge (2019). Emotional intelligence in children improves academic achievement. Estudo publicado no British Journal of Educational Psychology.
4. Ministério da Educação da Dinamarca. Curriculum guidelines and values in Danish schools.
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