sábado, 30 de abril de 2022

Os impactos das alterações climáticas na saúde

Serra de Montemuro

A saúde e a doença são um setor crítico e avassaladoramente exposto aos impactos das Alterações Climáticas, ao qual só se dá atenção quando as ameaças já entraram na nossa casa, como aconteceu com a epidemia do coronavírus. Portugal, com um clima de tipo mediterrânico, é particularmente suscetível aos riscos para a saúde decorrentes das alterações climáticas, na medida em que estas interferem de múltiplas formas na nossa saúde e bem-estar físico e mental:
• dos alimentos que produzimos e consumimos;
• à qualidade do ar e da água;
• conforto térmico e adequação das casas às variações de temperatura cada vez mais extremadas;
• ao lixo que produzimos e que contamina o planeta e penetrou nas cadeias alimentares (os microplásticos);
• à destruição dos habitats naturais, num sistema que errada e sistematicamente os encara como recursos inesgotáveis e que contribui em larga escala para a perda de biodiversidade e para a aceleração das extinções, responsáveis pelo aumento da disseminação de doenças entre animais e humanos, como a do coronavírus;
• ao aumento das temperaturas que é responsável pela maior disseminação de doenças vetoriais em geografias cada vez mais alargadas e mais próximas de nós;
• ao aumento dos eventos extremos e consequentes movimentos humanos à procura de terra onde possam viver, que afetam cada vez mais a saúde mental e o bem-estar;
• dos efeitos do aumento dos desastres naturais, como incêndios, inundações e secas , pondo em evidência a responsabilidade que temos pelos papéis e relações que estabelecemos nos ecossistemas e suas consequências.
O perfil geográfico dominante dos concelhos rurais, envelhecidos e com baixa densidade populacional, onde se somam desvantagens demográficas como a continua redução da natalidade e o cada vez maior despovoamento do interior, a par de desvantagens económicas e sociais, o aumento das doenças crónicas e das desigualdades no acesso aos serviços e cuidados de saúde, constituem dos maiores problemas e desafios a que as políticas não podem ficar alheias e contribuem para explicar as vulnerabilidades crescentes e que exigem planeamento a médio/longo prazo que permita encontrar estratégias de mitigação e/ou adaptação viáveis e que não nos apanhem ‘desprevenidos’. A ciência está de acordo e é perentória! Os dados recolhidos no PIAAC , por exemplo, permitiram observar uma associação entre a temperatura e a mortalidade diária na Região de Coimbra. Esses dados apontam também para um aumento de morbilidade de determinadas doenças mais sensíveis ao clima, as relacionadas com a deterioração da qualidade do ar e poluição, como por exemplo as doenças infecciosas transmitidas por vetores, de que os mais conhecidos são os mosquitos, mas há outros como as carraças, as pulgas, etc…
Neste contexto é imperativo definir e operacionalizar medidas de adaptação da saúde que permitam reforçar e aumentar a resiliência das populações e ao mesmo tempo evitar o aumento das taxas de morbilidade e mortalidade geral e específicas. Num futuro muito próximo, a natureza e a escala destes impactos das alterações climáticas será diretamente proporcional à capacidade de adaptação das comunidades, dos sistemas de saúde, quer o nível de resposta instalada, quer a facilidade/dificuldade em ter acesso a essas respostas, bem como das ações implementadas nos outros setores.
A visão de que existe uma só saúde reforça a necessidade de reconhecimento da interconexão entre todos os elementos humanos e não humanos: dos humanos aos animais, às plantas e às redes de relações que implicam, nos diversos territórios onde coabitamos e onde partilhamos o desafio da vida e da morte de múltiplas formas. Esta visão de uma só saúde exigirá o desenvolvimento de políticas integradas adaptadas/adequadas aos contextos. Esta mudança sobejamente reconhecida pelas ciências, não tem tido a resposta desejada nem provocado as mudanças necessárias. Na verdade, é preciso reconhecer que esta é uma prorrogativa eminentemente política. Não é apenas individual e conjuntural. Este é o grande desafio!

Insetos estão a desaparecer em várias regiões do mundo e há alimentos que podem acabar


Os insetos desempenham papéis cruciais nos ecossistemas, mas estão a desaparecer a um ritmo alarmante em várias regiões do mundo. E há dois fatores que contribuem decisivamente para este cenário: a agricultura intensiva e as temperaturas elevadas. A conclusão consta num novo estudo publicado esta quarta-feira na revista Nature.

Esta nova investigação identificou pela primeira vez uma clara ligação entre a crise climática e o desaparecimento de insetos, destacando que, em várias regiões, o número de insetos já foi reduzido para metade e a variedade de espécie diminuiu em 27%. São efeitos que preocupam os investigadores, dado o papel fundamental dos insetos nos ecossistemas e na produção de alimentos.

"Três quartos das nossas plantações dependem de insetos polinizadores. As plantações vão começar a diminuir e não teremos alimentos como morangos”, afirmou o professor de Biologia Dave Goulson, da Universidade de Sussex, à CNN Internacional.

Os investigadores analisaram dados de cerca de 6.000 lugares, recolhidos ao longo de 20 anos, e envolvendo espécies tão diferentes como borboletas, mariposas, libélulas, gafanhotos e abelhas.

Não é possível saber quando se chegará a um ponto de “não retorno”, mas os cientistas não têm dúvidas de que as perdas que já estão a acontecer dificilmente poderão ser compensadas e que o resultado será uma “catástrofe”.

"Há muitas consequências que desconhecemos porque há muitos tipos de insetos diferentes, que fazem coisas muito importantes. E não temos consciência do quanto dependemos deles para certas situações”, frisou Charlotte Outhwaite, uma das autoras do estudo, à CNN Internacional.

O estudo revela ainda que número de insetos só diminuiu 7% nas regiões onde a agricultura intensiva não é uma prática tão comum e onde o impacto do aquecimento global é menor.

Para Charlotte Outhwaite, os governos têm o dever de reconhecer os efeitos do comércio e da produção de alimentos, não importando produtos de países onde há uma grande desflorestação.

Por outro lado, cada cidadão, individualmente, pode também adotar comportamentos que combatam esta crise, plantando mais espécies nativas e flores selvagens e reduzindo os pesticidas usados em jardins.

Saber mais:
De acordo com um estudo publicado pela revista científica Biological Conservation (2019) mais de 40 % das espécies de insetos estarão sob ameaça de extinção nas próximas décadas. As causas que originam esse problema seriam a agricultura intensiva com agrotóxicos e fertilizantes (46,6 %), os fatores biológicos (16,4 %), a urbanização (10,7 %), o desmatamento (8,8 %), a alteração de rios e áreas úmidas (6,3 %), outros fatores (6,3 %) e, por último, as mudanças climáticas (5 %). Com uma taxa de extinção anual em âmbito mundial oito vezes superior à de mamíferos, répteis ou aves, os insetos poderiam desaparecer em apenas um século se o ritmo atual não mudar.

Cardeal Parolin: “A guerra é um sacrilégio. É preciso uma nova Conferência como a de Helsinquia"


O Secretário de Estado, card. Pietro Parolin, apresentou na manhã desta sexta-feira (29/04) um livro na Universidade Maria Santíssima Assunta (Lumsa), em Roma, intitulado "Contra a guerra", publicado pela Livraria Editora Vaticana e pela editora Solferino. O volume contém as intervenções e apelos do Papa contra a guerra e a favor do desarmamento e do diálogo.

Durante a apresentação da obra, o Cardeal Parolin afirmou: "A paz é do interesse de todos os Povos. É preciso intensificar a participação em organizações internacionais e maior capacidade nas iniciativas europeias”. Eis seu apelo para "superar as posições rígidas, caso contrário a guerra continuará a devorar os filhos da Ucrânia".

"Hoje precisamos de uma nova Conferência de Helsínquia", continuou o Cardeal Parolin, ao recordar o evento de 1975, que representou um passo fundamental para deter a Guerra Fria. Uma Conferência como esta poderia pôr um ponto final nos horrores do presente: “O conflito na Ucrânia é um verdadeiro ‘sacrilégio’, em contínuo aumento”.

A tragédia da Ucrânia

Partindo da leitura das páginas do volume, que ressalta a radicalidade do "não à guerra" expresso pelo Papa desde o início do seu Pontificado - e ainda mais desde a eclosão do conflito na Ucrânia no último dia 24 de fevereiro -, o Cardeal-Secretário de Estado propõe um "esquema de paz" que se contrapõe ao "esquema de guerra".

Diante da tragédia que acontece na Ucrânia, continuou o Cardeal, e diante das milhares de mortes de civis, das cidades destruídas e dos milhões de refugiados - mulheres, idosos e crianças obrigados a deixar suas casas, não podemos reagir segundo o que o Papa chama “de esquema de guerra”.

Armas: uma resposta frágil

No entanto, o Cardeal Pietro Parolin pede para que seja "intensificada a participação em organizações internacionais e maior capacidade nas iniciativas europeias". A "Europa cristã", disse, está sendo envolvida na "terrível guerra" na Ucrânia: "Não quero entrar na questão das decisões dos vários países de enviar armas à Ucrânia, pois, como nação, têm o direito de se defender de uma invasão. Porém, limitar-se às armas é uma resposta frágil. Ao contrário, uma resposta forte deveria ser a de tomar iniciativas para deter o conflito e se chegar a uma solução negociada, em vista de uma convivência pacífica em nosso Velho Continente”.

Apelos de Francisco

Por fim, em seu pronunciamento, o Cardeal Secretário de Estado recordou os apelos Papa Francisco, destacando o risco de considerá-los como “obrigatórios", um modo desencantado de encarar o magistério do Papa, escavando um abismo sempre maior entre a sua palavra e a realidade. Desta forma, perde-se de vista o fato de que a mensagem de não-violência do Papa provém do Evangelho, onde Cristo crucificado, inerme no patíbulo, “enfrentou uma morte injusta, sem reagir”.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

6 reasons why nuclear energy is not the way to a green and peaceful world



Demolition of the two cooling towers of the Philippsburg nuclear power plant near the river Rhine. The site of the now decommissioned Philippsburg Nuclear Power Plant is located in Philippsburg, near Karlsruhe, Germany. © Bernd Hartung / Greenpeace

Nuclear power is often hailed as a magic bullet solution for the rapid and large-scale decarbonisation of our societies which we all know needs to happen if we have any hope of mitigating the worst effects of the unfolding climate emergency. Among politicians and industry groups, it is consistently favoured over meaningful investment in renewable energy systems, bolstered with misleading claims of its safety, efficiency, stability, and speed of deployment.

With the costs and efficiency of renewable energy solutions improving year on year, and the effects of our rapidly changing climate accelerating across the globe, we need to take an honest look at some of the myths being perpetuated by the nuclear industry and its supporters. Here are six reasons why nuclear power is not the way to a green and peaceful zero carbon future.

1. Nuclear energy delivers too little to matter

According to scenarios from the World Nuclear Association and the OECD Nuclear Energy Agency (both nuclear lobby organisations), doubling the capacity of nuclear power worldwide in 2050 would only decrease greenhouse gas emissions by around 4%. But in order to do that, the world would need to bring 37 new large nuclear reactors to the grid every year from now, year on year, until 2050.

The last decade only showed a few to 10 new grid connections per year. Ramping that up to 37 is physically impossible – there is not sufficient capacity to make large forgings like reactor vessels. There are currently only 57 new reactors under construction or planned for the coming one-and-a-half decade. Doubling nuclear capacity – different from the explosive growth of clean renewable energy sources like solar and wind – is therefore unrealistic. And that for only 4% when we already need to reduce 100%.

2. Nuclear power plants are dangerous and vulnerable

Nuclear factories and plants are easy targets for malevolent acts: terrorist threats, the risk of unintentional or voluntary airliner crashes, cyberattacks or acts of war. The enclosures of plants and certain ancillary buildings containing radioactive materials are not designed to withstand this type of attack or shock.

Nuclear power plants present unique hazards in terms of the potential consequences resulting from a severe accident. Nuclear reactors and their associated high level spent fuel stores are vulnerable to natural disasters, as Fukushima Daiichi showed, but they are also vulnerable in times of military conflict.

For the first time in history, a major war is being waged in a country with multiple nuclear reactors and thousands of tons of highly radioactive spent fuel. The war in southern Ukraine around Zaporizhzhia puts them all at heightened risk of a severe accident.

Nuclear power plants are some of the most complex and sensitive industrial installations, which require a very complex set of resources in ready state at all times to keep them operational. This cannot be guaranteed in a war.

This can’t be guaranteed in a time of climate crisis and extreme weather events either. Nuclear power is a water-hungry technology. Nuclear power plants consume a lot of water for cooling. They are vulnerable to water stress, the warming of rivers, and rising temperatures, which can weaken the cooling of power plants and equipment. Nuclear reactors in the United States and France are often shut down during heatwaves, or see their activity drastically slowed.

3. Nuclear energy is too expensive

To protect the climate, we must abate the most carbon at the least cost and in the least time.

The cost of generating solar power ranges from $36 to $44 per megawatt-hour (MWh), the World Nuclear Industry Status Report said, while onshore wind power comes in at $29–$56 per MWh. Nuclear energy costs between $112 and $189 per MWh.

Over the past decade, the World Nuclear Industry Status Report estimates levelised costs – which compare the total lifetime cost of building and running a plant to lifetime output – for utility-scale solar have dropped by 88% and for wind by 69%. According to the same report, these costs have increased by 23% for nuclear.*

According to a November 2021 study released by Greenpeace France and the Rousseau Institute, power from the under-construction European Pressurised Reactor (EPR) at Flamanville in France would be 3 times as expensive as the country’s most competitive renewable sources.

4. Nuclear energy is too slow

Stabilising the climate is an emergency. Nuclear power is slow.

The 2021 World Nuclear Industry Status Report estimates that since 2009 the average construction time for reactors worldwide was just under 10 years, well above the estimate given by the World Nuclear Association (WNA) industry body of between 5 and 8.5 years.

The extra time that nuclear plants take to build has major implications for climate goals, as existing fossil-fueled plants continue to emit CO2 while awaiting substitution. The construction of a nuclear plant is a long and complex process that obviously releases CO2, as does the demolition of decommissioned nuclear sites.

Uranium extraction, transport and processing is obviously not free of greenhouse gas emissions either. All in all, nuclear power stations score comparable with wind and solar energy. But this latter can be implemented much faster and on a much bigger scale. We cannot wait for another decade for emissions to go down. They need to go down now. With clean renewable sources and energy efficiency, we can do that.

5. Nuclear energy generates huge amounts of toxic waste

The multiple stages of the nuclear fuel cycle produce large volumes of radioactive waste. No government has yet resolved how to safely manage this waste.

Some of this nuclear waste is highly radioactive and will remain so for several thousand years. Nuclear waste is a real scourge for our environment and for future generations, who will still have the responsibility of managing it in several centuries.

Countries like France are pushing hard for nuclear power at the EU level, hoping that when it comes to waste, out of sight is out of mind. But nuclear waste will never go away, and will never be sustainable.

This is one of the obvious reasons why nuclear power shouldn’t be eligible for green funding nor marketed as ‘sustainable’, as pointed out recently by countries like Austria, Denmark, Germany, Luxembourg, and Spain, who spoke against the inclusion of nuclear power in the EU’s green finance taxonomy. This is also one of the reasons why, on 9 March 2020, the EU Commission’s Technical Expert Group on Sustainable Finance (TEF) rejected nuclear energy because it did not meet the EU’s ‘Do No Significant Harm’ principle and recommended excluding nuclear power from the green taxonomy.

Nuclear waste management is costing taxpayers absurd amounts of money, costs for storage projects reaching into the billions. This is true both for Europe and North America. In 2019, a US Energy Department report showed the projected cost for long-term nuclear waste cleanup jumped more than $100 billion in just one year.

6. The nuclear industry is falling short of its promises
 
The EPR nuclear reactor technology has been showcased by the French government and French nuclear operator EDF as a revolutionary technology announcing the dawn of a nuclear renaissance. The reality is that this technology isn’t any kind of technological leap. More importantly, the French EPR reactor located in Flamanville is more than 10 years overdue and nearly four times over budget.

This so-called “next-generation nuclear reactor”, has also sustained multiple problems, delays and cost overruns in France, the United Kingdom, Finland and China.

Hypothetical new nuclear power technologies have been promised to be the next big thing for the last forty years, but in spite of massive public subsidies, that prospect has never panned out. That is also true for Small Modular Reactors (SMRs).

And for nuclear fusion, an idea that is as old as the nuclear industry, which somehow always seems to be fifty years away. The cost and uncertainty of fusion mean investing in thermonuclear reactors at the expense of other available clean energy options. This technology won’t arrive in time, if ever, and the money would be better invested elsewhere.

Let’s exert the utmost caution when presented with pro-nuclear opinions coming from experts and organisations regularly working with stakeholders from the nuclear sector and potentially tainted by vested interests. Nuclear energy has no place in a safe, clean, sustainable future. It is more important than ever that we steer away from false solutions and leave nuclear power in the past.

Fonte: Greenpeace

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Já conhece o "Comunidades de Energia: Um Guia Prático"?

Pretende ser um manual de referência, repleto de instruções, dicas práticas e recursos para cada cidadão poder começar uma comunidade de energia e participar na revolução renovável europeia, liderada pelas comunidades locais.


Este manual foi criado pela Friends of the Earth Europe, pela REScoop.eu e pela Energy Cities. A Coopérnico traduziu-o para português.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

ONU alerta: atividade humana está nos levando a uma "espiral de autodestruição"


Em novo relatório, a Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que as atividades humanas estão levando a número crescente de desastes no planeta, ameaçando a vida de milhões de pessoas. O documento estima que, até 2030, a média diária de desastres, em grande parte relacionados ao aquecimento global, será de 1,5.

A cada dois anos o Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres (UNDRR) publica o Relatório de Avaliação Global para apresentar maneiras pelas quais a humanidade ainda pode diminuir os riscos catastróficos. O relatório deste ano (GAR2022) revela um cenário alarmante.

Nas últimas duas décadas, o mundo sofreu 350 a 500 desastres de média e grande escala a cada ano. Este número tende a subir para 560 por ano até 2030, uma média de 1,5 desastres a cada dia. Segundo o relatório, isso se deve a uma percepção distorcida da humanidade de que está “tudo bem”.

As decisões políticas, financeiras e de desenvolvimento desconsideram os riscos e aumentam a vulnerabilidade que já existe, colocando diversas populações em risco. Para Amina Mohammed, vice-secretária-geral da ONU, é este comportamento que está “colocando a humanidade em uma espiral de autodestruição”.

Principais pontos do relatório
O relatório, intitulado “Nosso mundo em risco: transformando a governança para um futuro resiliente”, descobriu que a adoção de estratégias de redução de risco de desastres, apresentadas pelo Marco de Sendai em 2015, diminuiu o número de pessoas afetadas e de mortes na última década.

Se de um lado esta informação soa positiva, porque revela como a adoção de boas práticas para evitar tais desastres funciona, de outro, tanto a escala quanto a intensidade dos desastres estão aumentando. Nos últimos cinco anos, o número de pessoas afetadas e mortas foi maior que nos cinco anos anteriores.

Além disso, os desastres afetam de maneira desproporcional os países em desenvolvimento. Em média, eles perdem 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) ao ano por conta de catástrofes. Enquanto isso, as nações desenvolvidas perdem entre 0,1 a 0,3% de seu PIB.

Ásia e Pacífico perdem uma média de 1,6% de seu PIB a cada ano. “Ao ignorar deliberadamente o risco e não integrá-lo na tomada de decisões, o mundo está efetivamente financiando sua própria destruição”, disse Mami Mizutori, Secretária-Geral Adjunta e Representante Especial do Secretário-Geral para Redução do Risco de Desastres do UNDRR.

O GAR2022 segue as propostas de adaptação ao aquecimento global apresentadas na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), que aconteceu no final do ano passado. “A boa notícia é que as decisões humanas são as maiores contribuintes para o risco de desastres”, ponderou Mizutori.

Our Addiction to Fossil Fuels Is Driving Inflation



If you’re like most people, you’re feeling the sting of price inflation these days. From groceries to monthly utility bills, higher prices are taking a bite out of everyone’s budget—causing economic strain for all of us, especially those already struggling to make ends meet.

In trying to explain higher costs, the media and politicians have largely focused on disruptions related to the pandemic: interrupted supply chains, a lack of workers in key sectors, and increasing demand from consumers who were able to save during the lockdowns. And it’s true that this current wave of inflation has multiple causes. But many of the price spikes we’re all experiencing are symptoms of our long-standing dependence on fossil fuels. Oil and gas are especially volatile commodities, and they are a major cause of the current price volatility rippling through the economy. All of which is a reminder that the more that we power our economy with clean, renewable energy, the more we can insulate ourselves from price shocks.

While prices are up across the board this year, nothing inflated faster than the costs of fossil fuels. According to the US Bureau of Labor Statistics, Americans are now paying about 6 percent more for food and clothing compared to this time last year. Electricity prices increased at a similar rate—up 6.3 percent this year. But those price hikes are all fairly minor compared to changes in fossil fuel energy prices. The cost of methane gas (a.k.a. “natural” gas) for home heating has spiked 24.1 percent. And retail gasoline prices are up a whopping 49.6 percent. Today, the average price of a gallon of gasoline is $3.73; a year ago it was $2.67.

Those numbers may create sticker shock for many Americans, but they shouldn’t come as a surprise. While pandemic-related interruptions affected fossil fuels just as much as any other industry, price volatility is a fundamental part of building so much of our lives around the need for oil and gas. There are several reasons for this.

For starters, new oil and gas wells produce much less as they age. This natural diminishment of supplies leaves the industry in a constant search for new places to drill. Reduced output from aging wells is particularly a problem in shale formations and extraction through hydraulic fracturing, or fracking, which has represented a majority of new projects in recent years.

Second, global energy markets are easily and often manipulated. Sometimes it’s for political gain: Just ask Europe, which is experiencing record-high prices for gas as Russia threatens to withhold its oil and gas supplies amid the Ukraine invasion. Sometimes energy markets are manipulated for private profit. Federal regulators here in the United States are investigating whether gas pipeline companies withheld supply in order to charge higher prices in the aftermath of Winter Storm Uri in February 2021. Pipeline companies took home billions in extra profits in the days after the event, as almost 10 million people were without power for multiple days and hundreds of Texans died in their homes.

The war in Ukraine underscores how vulnerable energy markets are to geopolitics; the global price of oil skyrocketed to more than $100/barrel as Russia began its invasion. And US efforts to insulate European allies from further price shocks due to Vladimir Putin’s aggression has further roiled energy markets.

US gas exports are also driving up the price of gas, which nearly half the country uses to heat their homes. Close to 20 percent of US gas is now exported, primarily through liquefied gas terminals on the Gulf Coast, which means lower supply and higher prices at home. A group of 10 senators led by Senator Jack Reed, a Democrat from Rhode Island, and Senator Angus King, a Maine independent, recently urged the Department of Energy to halt permits for new gas export projects and study the role of exports on domestic prices.

And, finally, there’s climate change. As we continue to burn fossil fuels, we further destabilize climate systems, which—in a twisted irony—puts fossil fuel production at greater risk. Last September, for example, Gulf Coast oil production was taken offline for weeks due to Hurricane Ida.

For fossil fuel executives and shareholders, these volatile energy prices mean record profits. But for many Americans, the higher energy prices are often the difference between putting food on the table or paying rent, and people of color are disproportionately impacted due to the legacies of systemic racism. As long as we remain dependent on volatile global commodities like oil and gas, regular people are at risk of continuing to be price gouged while a handful of wealthy people get wealthier.

The Russian invasion of Ukraine has prompted calls for increasing oil and gas production as a way of boosting supplies. But that’s a short-sighted solution—and a false one. There will always be some kind of geopolitical crisis that risks destabilizing energy prices. The real, lasting solution to energy-exacerbated inflation is to break our addiction to fossil fuels once and for all.

The good news is that we have clean, renewable energy sources available right now that aren’t prone to the same kind of price gouging and volatility. The price of oil and gas can go up at any moment due to geopolitical instability, a pipeline explosion, or the arbitrary decisions of fossil fuel executives. But the wind and the sun are free—and, just as important, the wind and the sun know no political boundaries. Renewable energy sources are widely distributed, unlike the fossil fuels that are concentrated in a few key regions.

The work is well underway to build our electric grid around more affordable wind and solar power. Renewables are increasing year by year, and we can harness that clean energy to power our homes with ultra-efficient heat pumps, electric water heaters, and induction stoves. And we can use the same clean electricity to charge electric vehicles. This isn’t just wishful thinking: Research shows that in the United States, the price of electricity is relatively stable year to year, while the price of methane gas for home heating varies wildly. Continuing to build an economy fueled by clean electricity allows for stable, predictable energy prices. It will mean no more wild fluctuations in monthly energy bills or sticker shock at the gasoline pump.

Everyone is feeling the impact of higher prices right now. And everyone benefits from a world powered by affordable and predictable clean energy, free from the boom and bust cycle of fossil fuels. Building the renewable energy economy would be a great step toward getting off the inflation roller coaster.

NextLap aposta em soluções de economia circular para dar segunda vida a pneus


A entidade gestora portuguesa Valorpneu e a Genan, líder mundial em reciclagem de pneus, voltam a unir-se à consultora Beta-i no projeto que impulsiona novas técnicas e modelos de negócio para a circularidade do setor.

Depois de uma primeira edição com foco na colaboração direta entre grandes empresas e startups, a entidade gestora portuguesa Valorpneu e a recicladora multinacional de origem dinamarquesa Genan, novamente com o apoio técnico e de gestão da consultora Beta-i, lançam a segunda edição do NextLap com uma nova abordagem. Este ano, também com a missão de reduzir o desperdício de materiais e promover um mercado de pneus mais circular, o projeto terá foco na aceleração - com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de negócios early stage ou em fases iniciais de monetização em negócios escaláveis e produtos em desenvolvimento, através de formação, mentoria e acesso a empresas e especialistas da indústria.

O NextLap Accelerator tem já as candidaturas abertas, através do website e até o dia 5 de junho, para PMEs, startups, centros de investigação e desenvolvedores de todo o mundo que contem com ideias de negócio ou soluções inovadoras que possam tratar, reutilizar e trazer novas aplicações para os pneus inteiros ou fragmentados - ou ainda, novas formas de reaproveitamento dos materiais derivados do pneu em fim de vida: granulado de borracha, fibras têxteis e aço. Durante quatro meses, os participantes contarão com o apoio de parceiros de indústria, tais como a multinacional do sector da construção Pragosa, a empresa líder no mercado de artigos desportivos Decathlon, a Infraestruturas de Portugal e a empresa na área dos têxteis técnicos TMG Automotive, para sessões de mentoria e validação de negócio, bem como com formação e apoio de outros peritos técnicos para orientar o desenvolvimento de produtos.

Segundo Climénia Silva, Diretora Geral da Valorpneu, "o NextLap Accelerator é mais um desafio no desenvolvimento de novas soluções para os materiais derivados de pneus em fim de vida e no caminho para uma economia que se pretende mais circular. Este programa, que se sucede à primeira edição do NextLap, conta com o envolvimento de diversos parceiros com competências para levar mais longe ideias inovadoras e para criar sustentabilidade e resiliência no domínio da gestão dos pneus em fim de vida. É uma oportunidade para investigadores, estudantes, startups ou apenas para quem idealize utilizar o pneu como um recurso. Investir em I&D sempre foi um dos principais focos da Valorpneu enquanto entidade gestora dos pneus usados em Portugal. Neste contexto, a Valorpneu continua a ousar e a constituir-se como um agente de mudança e de inovação na prossecução de um desenvolvimento mais sustentável."

Por sua vez, para Thomas Ballegaard, CCO da Genan, "os pneus são construídos para terem alto desempenho e longa duração na estrada, mas na Genan estamos determinados a dar uma nova vida aos pneus, quando estes deixam as estradas. Depois de desgastados, os pneus são na sua maioria classificados como resíduos, o que é um enorme erro. Na verdade, os pneus em fim de vida podem ser desenvolvidos em muitos produtos diferentes para uma vasta gama de aplicações e soluções. A Genan é um líder de mercado orgulhoso, mas lutamos constantemente pelo desenvolvimento e inovação. Não podemos fazê-lo sozinhos e, como tal, convidamos todos a juntarem-se à nossa missão".

De acordo com Diogo Teixeira, CEO da Beta-i, "a primeira edição do NextLap em 2021 foi um êxito, no sentido de promover a colaboração efetiva entre empresas e startups para o desenvolvimento de novas soluções assentes na circularidade e na recuperação de pneus em fim de vida. Esta jornada de iteração e aprendizagem também nos fez perceber a existência de um grande volume de propostas poderosas para o setor, que ainda podem contar com mentoria e acesso a players do setor para que demonstrem todo o seu valor. É por isso que decidimos reformular a estrutura do programa este ano, de modo a promover a transformação destas propostas em negócios viáveis e escaláveis num menor período de tempo. Inovadores de todo o mundo poderão ter acesso exclusivo ao conhecimento e experiência de grandes empresas que não teriam de outra forma, e os parceiros poderão apoiar o desenvolvimento de soluções reais de mercado, com benefícios reais para o ambiente".

No final do bootcamp, a ideia mais promissora receberá um prémio de 5.000 euros e os melhores projetos selecionados, após a fase de aceleração, terão oportunidade de fazer um pitch para o Comité de Inovação Global de Genan, na Dinamarca.

Segundo dados do WBCSD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável), de dezembro de 2019, todos os anos no mundo são descartados mais de 30 milhões de toneladas de pneus em fim de vida, com a Europa a registar um número na ordem dos 3,4 milhões de toneladas. Em Portugal são geradas em média 80 mil toneladas de pneus em fim de vida, sendo encaminhadas para reciclagem cerca de 60% e para valorização energética os restantes 40 por cento.

O programa de aceleração NextLap está também a receber manifestações de outras empresas atuantes no setor, que tenham interesse em participar no programa enquanto parceiros para mentoria e formação das melhores soluções identificadas no processo de análise e investigação.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Todas as capitais europeias estão ligadas pela rede de ciclismo do continente, EuroVelo. Todas menos Madrid


"Estamos no ano de 2022 depois de Jesus Cristo. Toda a Europa está unida pela rede de ciclismo EuroVelo... Tudo isso? Não! Uma capital europeia resiste ao invasor." A EuroVelo, a grande rede ciclística europeia tem um buraco: Madrid. A cidade espanhola é a única capital europeia que não faz parte desta extensa rede de quilómetros para ciclistas. O que Madrid perde sem fazer parte desta infraestrutura?

EuroVelo 
A rede EuroVelo é uma grande rede de ciclovias que se estende por toda a Europa. O objetivo é conectar espaços distantes, mas que podem ser alcançados de bicicleta. De facto, a rota mais longa une o Cabo Norte com o Cabo de São Vicente, 9.000 quilómetros que percorrem toda a costa atlântica e passa pela Noruega, Reino Unido, Irlanda, França, Espanha e Portugal. Mas eles também se juntam a lugares tão distantes como Dublin e Moscovo numa rota de 5.000 quilómetros.

Na Espanha  
A Espanha tem atualmente três rotas EuroVelo. A EuroVelo 1 é conhecida como a Via da Prata e liga o norte ao sul do país através de sua área mais ocidental. A EuroVelo 8 percorre a costa mediterrânica e a EuroVelo 3 é conhecida como a Rota do Peregrino, pois faz parte principalmente do Caminho Francês de Santiago, um dos mais movimentados.

O buraco 
No mapa EuroVelo há um buraco na Península Ibérica: Madrid. A capital espanhola é a única na Europa que não está ligada à rede rodoviária. No entanto, desde 2019 está a ser estudada a proposta de uma nova rota EuroVelo ligando Lisboa aos Pirenéus passando por Madrid. Assim, visitar Espanha de bicicleta seria possível a partir do norte, descendo a costa mediterrânica e a Via da Prata ou atravessando o país pela Estremadura, Castilla-La Mancha, Madrid, Castilla y León e Aragão.

Sua importância 

Obviamente, ninguém considera viajar pela Europa de bicicleta como meio de transporte alternativo ao carro, avião ou comboio. Mas é realmente interessante como um projeto de espinha dorsal europeu e, acima de tudo, para promover o turismo ciclístico.

O cicloturismo gera mais dinheiro na Europa do que os cruzeiros. A utilização da bicicleta para lazer está estimada em 150.000 milhões de euros, devido aos 100.000 milhões de euros de cruzeiros, que, aliás, é um turismo sazonal mais poluente e, claro, está limitado às zonas próximas da costa. Além disso, o cicloturismo permite revitalizar áreas rurais que estão passando por processos de despovoamento.

Crescendo 

Em Espanha, estimou-se que em 2019 a indústria da bicicleta movimentou 1.871 milhões de euros e empregou mais de 22.000 pessoas. Pouco a pouco, o turismo desportivo está a ganhar terreno em Espanha e entre 2019 e 2015 aumentou 23%. É claro que em 2014 o estudo “O impacto econômico do cicloturismo na Europa” incluiu a Espanha entre os países em que o cicloturismo foi menos procurado e entre os que menos usam a bicicleta diariamente.

No entanto, esses números estão a mudar. Já antes da pandemia de coronavírus, as vendas de bicicletas estavam crescendo. Mas com a chegada da pandemia, eles dispararam. O AliExpress, por exemplo, estimou esse crescimento em 2020 em 95% a mais do que em 2019. Em cidades como Madrid ou Barcelona, ​​o uso diário da bicicleta dobrou os números pré-pandemia.

O caso Madrid 

Apesar de a maioria das capitais europeias apostarem na promoção da utilização da bicicleta como meio de transporte limpo e saudável, Madrid vive um debate contínuo sobre a sua utilização. As ciclovias foram uma arma de arremesso durante as últimas eleições municipais. Ao mesmo tempo, os acidentes de bicicleta cresceram 270% entre 2010 e 2020, apesar de os números de uso diário permanecerem praticamente inalterados em 0,5%. Em Valência, 47% da população declara usar a bicicleta uma vez por semana, segundo a OCU .

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Num Abril de liberdade, um hino à nossa gente



QUALQUER DIA
No inverno bato o queixo
sem mantas na manhã fria
No inverno bato o queixo
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno aperto o cinto
Enquanto o vento assobia.
No inverno aperto o cinto
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno vou por lume
Lenha verde não ardia.
No inverno vou por lume
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno penso muito
Oh que coisas eu já via
No inverno penso muito
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno ganhei ódio
E juro que o não queria
No inverno ganhei ódio
Qualquer dia
Qualquer dia.
Música: José Afonso
Letra: F. Miguel Bernardes
Intérprete: Zeca Afonso
In: Contos Velhos Rumos Novos, 1969
        
Análise do poema “Qualquer dia”

O Inverno representa o sombrio e frio regime político que governou Portugal, de 1933 até 1974. Ao longo desse tempo, foi necessário: “bater o queixo”, pois muitos calaram o medo e o sofrimento em tiveram de viver; tiveram de apertar o cinto, porque houve fome, miséria e muitas privações.

A personificação “o vento assobia” aparece como uma alusão às notícias que circulavam, como que levadas pelo vento, isto é, por alguém que as conhecia. Assobiavam os rumores e as notícias das vítimas de perseguições, de torturas, de maus-tratos, da guerra colonial, de fugas a perseguições que conduziram ao exílio.

Era preciso pôr lume para aquecer a vida e ficar à espera, pois o “Inverno” era muito rigoroso e não havia “mantas na manhã fria”, isto é, não havia protecção que desse liberdade de reunião, de expressão e de opinião aos cidadãos do país.

Num Inverno como esse, a «lenha verde não ardia», porque as ideias novas não alimentavam a “fogueira”, uma vez que só as ideias “maduras”, daqueles que defendiam o sistema e a Situação, “ardiam” e faziam sentido.

O frio marcava profundamente aqueles que lutavam para aquecer as suas vidas com o calor da liberdade e com as vivências democráticas. O frio estava estampado nas fábricas, nas escolas, nas prisões, nas perseguições brutais, nas vivências sociais e humanas e na ausência de princípios cívicos e democráticos.

Muitos conspiraram em silêncio (No Inverno penso muito): pensaram muito e anteviram a liberdade (Oh que coisas eu já via); ganharam ódio ao regime e à situação política, com ou sem vontade de o fazer (E juro que o não queria).

O Inverno continuava a deixar marcas no tempo de Marcelo Caetano, com cargas policiais, perseguições, prisões, tortura e sofrimento, mas terminaria um dia, (“Qualquer dia”), para ajudar a concretizar os sonhos dos poetas, dos cantores e de muito mais gente.

“Qualquer dia”, um dia qualquer, um dia num futuro próximo, a liberdade chegaria, para levar os rigores do Inverno, provocados pelos dominadores do regime, e trazer o Sol, a Luz, a libertação. Era essa a ânsia e o desejo profundo e utópico de Zeca Afonso e de outros autores de poemas e de canções.

Neste poema, há a antevisão de um futuro diferente para os portugueses, a contrastar com o mau tempo proporcionado pelo regime político que vigorava há muito tempo. Seria este um desejo liminar e pré-figurativo da liberdade que nasceria num dia de Abril.

A simbologia das palavras: os sentidos implícitos nas canções de Zeca Afonso e a revolução silenciosa”, Albano Viseu. In: Revista 3 do CEPHIS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social de Trás-os-Montes e Alto Douro), setembro de 2013. Coimbra, Terra Ocre edições/Palimage.

Texto de apoio
Zeca Afonso fez parte de um movimento criador de sentidos e conseguiu, como outros cantores de intervenção, mobilizar toda uma massa humana que se tornou permeável aos apelos empolgantes e transformadores, transmitidos nas letras das suas canções. Esse movimento deu sentido à contestação dos fenómenos sociais que inquietavam a sociedade portuguesa e conseguiu, ao detetar esses males, abrir brechas no velho edifício estruturado do Estado Novo. Cantou-se e viveu-se em surdina, tendo-se partilhado conceitos e ideias encobertos nos sentidos implícitos das canções. Essa revolução silenciosa preparou o povo português para a mudança e para a revolução de Abril.

Zeca Afonso serviu-se de dois instrumentos estratégicos para transmitir mensagens políticas e enganar a censura do Estado Novo: através da temática escolhida, sugeria e não revelava; através do estilo adotado, possibilitava a crítica velada, recorrendo ao hábil estratagema da plurissignificação dos signos utilizados e dos recursos expressivos escolhidos:

‑ as metáforas e as imagens enriqueceram a linguagem simbólica;

‑ a ironia e a sátira foram utilizadas como método para criticar o regime;

‑ o estilo simples, a rima, o ritmo e as repetições contribuíram para que as mensagens fossem mais facilmente transmitidas e memorizadas e servissem de impulso mobilizador, conduzindo à ação;

‑ a utilização da quadra tornou mais permeável a forma de cantar e de divulgar aspetos essenciais, fazendo com que estes ficassem mais acessíveis;

‑ os jogos de paralelismo, a técnica do leixa-pren (repetição do último verso ou de algumas palavras do último verso de uma estrofe no primeiro verso da estrofe seguinte), a imitação da forma de cantar dos coros alentejanos criaram unidade, melodia e a vontade de cantar;

Outros recursos utilizados: adjetivação, personificação, antítese, enumeração, interrogação retórica, sinédoque, aliteração, eufemismo, perífrase, exclamação, apóstrofe e anástrofe.

O público ouviu as canções de intervenção, cantou-as em reuniões e em convívios, o que acabou por contribuir para a rápida divulgação do seu conteúdo e da sua mensagem.

Os temas acabaram por ajudar a reconhecer o que era cantado, tornaram-se essenciais e proporcionaram a adesão do público. Apelaram à luta, contra os males da Situação – os Vampiros, a guerra colonial (Menina dos Olhos Tristes) e o Inverno duradouro do regime (Qualquer dia) –, à unidade necessária (Venham mais cinco), à procura de um libertador e da libertação (Canto Moço) e à celebração da vitória de um povo livre (Grândola, Vila Morena).

Zeca Afonso, ao utilizar uma temática ligada à realidade social do seu tempo, teve em vista: apelar à unidade; criticar a questão colonial; divulgar flagelos sociais (as mortes provocadas pelo regime e pela guerra colonial, os desertores, a emigração clandestina, a pobreza), consciencializar as pessoas sobre a situação social, económica e política que se vivia no país; dar esperança e encorajar; agitar as pessoas, levando-as a refletir sobre a sua passividade e convidando-as a tomar a iniciativa; apelar à mudança.

Bibiliografia
A simbologia das palavras: os sentidos implícitos nas canções de Zeca Afonso e a revolução silenciosa”, Albano Viseu. In: Revista 3 do CEPHIS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social de Trás-os-Montes e Alto Douro), setembro de 2013. Coimbra, Terra Ocre edições/Palimage.

Fotografias de Jorge Bacelar

25 de Abril



Pensamento Ecológico de Hubert Reeves


Hubert Reeves é um astrofísico canadiano que, além de suas contribuições para a ciência, também é conhecido pela sua defesa da ecologia e da proteção ambiental. O seu pensamento ecológico é baseado numa abordagem holística e interdisciplinar, que considera a Terra e seus ecossistemas como um todo interconectado e interdependente.

Reeves acredita que a humanidade deve reconhecer a sua responsabilidade em proteger e preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais da Terra. Ele defende que a ciência deve ser usada para entender melhor as interações complexas entre os seres vivos e os ecossistemas e para desenvolver soluções sustentáveis ​​para os problemas ambientais.

Nas suas obras, Reeves também enfatiza a importância da educação ambiental e do envolvimento da sociedade na proteção ambiental. Ele acredita que a consciencialização ambiental é fundamental para mudar os nossos comportamentos e atitudes em relação à natureza.

Além disso, Hubert Reeves também tem um forte interesse em astrobiologia, que é o estudo da possibilidade de vida noutros planetas. Para ele, a possibilidade de vida extraterrestre pode ajudar a humanidade a entender melhor a singularidade e a fragilidade da vida na Terra, e a reconhecer a importância da preservação do nosso planeta.

Em suma, o pensamento ecológico de Hubert Reeves é baseado numa abordagem holística e interdisciplinar, que enfatiza a importância da ciência, da educação ambiental e da consciencialização pública na proteção da biodiversidade e dos ecossistemas naturais da Terra.

domingo, 24 de abril de 2022

Ernst Haeckel - Thalamophora


Quinta do Covelo- Porto


Saber mais:
Parque do Covelo

Stop Tratado da Carta da Energia, Stop TCE-Rex


Este é o nome da digressão europeia de um gigantesco dinossauro – 10 metros de comprimento, 6 metros de largura e 7 metros de altura – que começa a sua viagem em Lisboa no dia 24 de Abril, seguindo depois para Madrid (26 de Abril), Barcelona (28 de Abril), Viena (2 de Maio), Berlim (4 de Maio), Praga (10 de Maio), Bruxelas (17 de Maio) e Luxemburgo (18 de Maio).

Porquê um dinossauro?

→ O TCE-Rex representa o Tratado da Carta da Energia (TCE), um tratado que, tal como os dinossauros, pertence ao passado: entre outras razões, porque protege os combustíveis fósseis apesar de ser mais do que conhecida a urgência da transição ecológica para a neutralidade carbónica.

→ O TCE é um acordo multilateral de comércio e investimento envolvido em secretismo e opacidade que, quando “entra em acção”, causa danos avultados, atacando os contribuintes. Isto porque permite que investidores e empresas (incluindo os ligados aos combustíveis fósseis) reivindiquem milhões de euros em indemnizações quando os Estados tomam decisões que afectam negativamente os seus lucros presentes ou futuros.

Ainda há tempo para combater as alterações climáticas, mas o TCE é um obstáculo, tal como refere o mais recente relatório do IPCC.

Guerra na Ucrânia: A suspensão da certificação do gasoducto Nord Stream 2 pode levar a um caso ISDS ao abrigo do TCE. É inegável que precisamos de acabar com as protecções que o TCE garante aos investidores estrangeiros.

A Mobilização europeia aumenta a sensibilização para os perigos do TCE
Recursos úteis para saber mais:

Eis a canção mais antiga que nos chegou integralmente: Seikilos Epitaph - Song of Seikilos - Σείκιλος



The Seikilos epitaph is the oldest surviving example of a complete musical composition in the world, and the oldest surviving example of Ancient Greek musical notation for that matter. 
The melody is inscribed on top of the lyrics on a tombstone stela, that was found near Aidinion, current day Turkey (in the vicinity of Ephesus), where a woman was using the block of marble as support for her pigeon water hole. It was subsequently lost for a few decades after the 1921-1922 Greek Asia Minor genocide by the Turks, and having survived that catastrophe virtually unscathed, it then resurfaced in Smurna where Turkish railway Director Edward Purser's wife had the bottom sawed off so that it would stand nicer for her garden's flowertops. This obliterated one line of text. The Dutch Consul saw it by chance and brought it via Constantinople to the Hague and then to Copenhagen for safe keeping during the war, where it has been "kept safe" ever since, like all other antiquities in museums around the world. 

It is dated 200 BC to AD 100, meaning this particular musical notation was well established since at least the 3rd century BCE, perhaps the 4th, but it is likely during the time of Homer, 8th BCE, there was another type of notation predating this one. 

Other examples of ancient Greek songs with extant musical notation include the Delphic Hymns, but these are not "complete", but fragmentary. 

The following is a transliteration of the words: 
Hoson zēis, phainou 
Mēden holōs su lupou; 
Pros oligon esti to zēn 
To telos ho chronos apaitei. 
=============== 
On the top, the epitaph reads: 
Εἰκὼν ἡ λίθος εἰμί. 
Τίθησί με Σείκιλος 
ἔνθα μνήμης ἀθανάτου 
σῆμα πολυχρόνιον. 

Which roughly translates to: 

I am this stone, an icon 
Seikilos placed inside me 
an everlasting simulacrum 
of deathless remembrance 
...and might we say, indeed he did. 
============ 
at the bottom, there is also a brief inscription 
Σείκιλος Ευτέρπῃ 

Which roughly translates to: 
Seikilos to Euterpre 

Some scholars argue it is his wife, others his daughter or lover. The most plausible is the Muse Euterpe, given the type of votive this is, that is, music for deathless remembrance, the words of the song about pleasure and no grievances and the idea of time. 

The picture of the stela is by "Nationalmuseets fotograf" and it is in the National Museum of Denmark in Copenhagen with inventory number 14897. 

This is an attempt at Reconstructed Ancient Greek, not Erasmian pronunciation.

sábado, 23 de abril de 2022

Quanto pode durar a Europa sem gás natural russo? FMI diz seis meses, Rússia diz "nem uma semana"


A União Europeia já aprovou cinco pacotes diferentes de sanções à Rússia, numa tentativa de travar a guerra na Ucrânia, ou de, pelo menos, dificultá-la, mas uma das grandes resistências europeias são as sanções ao gás natural, combustível fóssil do qual grande parte dos países, sobretudo da Europa Central, dependem. Afinal, quanto tempo poderá sobreviver a Europa caso decida sancionar o gás natural russo?

Esta sexta-feira surgiram duas respostas totalmente antagónicas, uma ocidental e outra do lado russo, uma baseada na técnica, outra na ironia.

A versão europeia, que vai até ao inverno

Vamos à primeira. O chefe do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a Europa será capaz de aguentar, sem grandes consequências, um embargo ao gás natural russo durante seis meses. Em entrevista à agência AFP, Alfred Kammer avisou que, para lá desse prazo, a situação pode complicar-se.

“Ao longo dos primeiros seis meses a Europa consegue lidar com tal embargo, tendo alternativas de fornecimento e usando o stock existente”, explicou.

De resto, alternativas é aquilo que o responsável pede, avisando os países europeus de que vários passos devem ser dados, entre os quais uma possível redução do consumo ou até uma construção de mais reservas. No caso da Alemanha, que é dos países mais dependentes, mais de um terço da energia consumida é proveniente do gás natural russo. Portugal, como teve oportunidade de dizer o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, é dos que sofrerá menos em caso de embargo.

“A nossa dependência em relação à Rússia é residual no domínio do gás. Portugal tem uma dependência mínima face à Rússia”, disse, a 4 de março, à margem de uma reunião em Bruxelas.

O prazo colocado por Alfred Kammer termina perto do início do inverno, altura mais crítica, em que o consumo de energia, nomeadamente de eletricidade, é maior: mais ares condicionados para o frio no centro da Europa e menor luz diária.

“Se o embargo durasse até ao inverno, e durante esse período, isso teria efeitos significativos”, referiu o diretor do FMI.

Quanto a números, o responsável aponta que a União Europeia poderá perder cerca de 3% do seu Produto Interno Bruto em caso de embargo a todos os combustíveis fósseis russos, um número que poderia ser ainda maior caso o inverno fosse mais rigoroso.

Será por isso que países como Alemanha, Áustria ou Hungria se mostram tão relutantes a este embargo. O chanceler alemão, Olaf Scholz, ainda esta sexta-feira veio dizer que sanções ao gás natural não colocariam um fim à guerra, enquanto Áustria e Hungria já deixaram claro que esse embargo está para lá daquilo que os países estão disponíveis a fazer.

Para a Rússia, a Europa não dura nem uma semana

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa afirmou que a Europa não duraria uma semana caso decidisse deixar de importar gás natural russo.

Citado pela agência estatal TASS, Dmitry Medvedev reagiu assim a um documento em que a Comissão Europeia dá conta de que as empresas europeias vão poder continuar a comprar gás natural russo em euros e dólares sem quebrarem as sanções em vigor.

“A Comissão Europeia permitiu o pagamento do gás natural em rublos e acredita que o decreto do presidente da Rússia ainda pode ser aplicado nos negócios europeus. Apreciamos a consistência e a integridade dos nossos parceiros europeus”, disse, com clara ironia, através do Instagram.

Em tom mais sério, o também antigo presidente da Rússia comentou os mais recentes dados do FMI, dados por Alfred Kammer. “Vamos ser sérios, não durariam uma semana”, afirmou Medvedev.
A importância do consumidor

O primeiro-ministro de Itália perguntou se preferíamos "a paz ou o ar condicionado", enquanto o governo alemão já pediu contenção no consumo, com o responsável pela Economia e Ação Climática a sugerir mais bicicletas e menos veículos.

Alfred Kammer concorda e olha para o consumidor como alguém com papel-chave. O diretor europeu do FMI pede a governos e populações que aumentem as "campanhas públicas para reduzir o consumo de energia".

"O consumidor pode agir agora", defendeu, acrescentando que essa redução pode significar mais combustível armazenado.